No mês passado, não era difícil encontrar nas redes sociais perfis com as bandeiras do Orgulho LGBT+. Essa prática é uma referência ao Movimento do Orgulho, que teve origem na Rebelião de Stonewall, evento histórico que ocorreu em junho de 1969, em Nova York. Naquela época, ocorriam frequentes batidas policiais em bares frequentados por pessoas LGBT+, mas nesse episódio, a comunidade decidiu resistir e lutar contra a opressão. Essa revolta marcou o início do movimento moderno pelos direitos LGBT+.
Durante o mês de junho, são realizadas diversas atividades em todo o mundo, como paradas e festivais coloridos, debates, palestras e atividades de conscientização. O objetivo é promover a visibilidade da comunidade, combater a discriminação e exigir igualdade de direitos em todas as esferas da sociedade. As paradas do Orgulho, em especial, têm ganhado grande destaque ao longo dos anos, reunindo milhares de pessoas e sendo realizadas em quase todo o mundo.
Segundo estudos, a comunidade LGBT+ possui um poderoso impacto econômico. Um relatório publicado em 2019 pela consultoria LGBT Capital apontou que o poder de compra da comunidade LGBT+ globalmente ultrapassa US$ 3,7 trilhões, abrangendo gastos em viagens, hospedagem, entretenimento, moda, tecnologia e outros setores. Outra pesquisa realizada pelo Instituto Williams em 2016 mostrou que empresas inclusivas e que apoiam a diversidade LGBT+ têm resultados financeiros melhores, aumentando sua lucratividade e atraindo talentos.
Criadores LGBTQIAPN+ e as plataformas digitais
No entanto, por trás desse aparente paraíso de diversidade e liberdade de expressão das redes sociais e da internet em geral, há uma realidade preocupante: segundo os criadores, as plataformas escondem conteúdo LGBT+ e não oferecem suporte contra ataques de ódio e mentiras.
Marcel Nadale, criador de conteúdo e jornalista, é um dos influenciadores que abordam a comunidade LGBTQIAPN+* em seus vídeos. Com quase 6,5 milhões de visualizações em seu canal, Marcel é produtor de conteúdo há mais de cinco anos. Ele embarcou no mundo dos influenciadores após uma experiência bem-sucedida para uma revista na qual era editor. “A ideia do canal surgiu com o intuito de falar para a comunidade LGBT sobre assuntos relacionados à cultura pop, a partir disso me envolvi completamente neste mundo.”
Porém, segundo ele, nos últimos anos, o algoritmo tem escondido os conteúdos relacionados à causa LGBTQIAPN+. As plataformas e suas políticas de monetização muitas vezes penalizam conteúdos com temáticas LGBT, tornando-os inacessíveis a um público mais amplo. “Eu já pensei em mudar o nome do meu canal para que meus vídeos possam ter mais alcance, porque percebo que tudo que é relacionado a ‘gay’, o algoritmo entende outra coisa e tenta esconder”, conta Marcel.
Perseguição e mentiras
O influenciador Christian Gonzatti, do canal Diversidade Nerd, tem mais de 40 milhões de visualizações em seu canal. Nele, debate, através de conteúdos da cultura pop, questões de gênero, sexualidade e diversidade. “Eu comecei a produzir conteúdo para falar sobre questões de gênero e diversidade porque percebi que as pessoas acreditam em “kit gay”, essas coisas”, conta o influenciador. Para ele, que também é doutor e mestre em Ciências da Comunicação, essa foi uma tentativa de popularizar e alcançar pessoas que tenham interesse em questões de gênero, as quais podem ser complicadas.
No entanto, o influenciador é constantemente alvo de ataques de ódio pelas redes sociais, chegando a registrar Boletins de Ocorrência com frequência. “A perseguição é recorrente. Há muitos ataques me acusando de ser um pedófilo por eu ser um homem gay que produz conteúdo sobre HQs, super-heróis e fala sobre sexualidade. São horrores desse nível.”
Para ele, “os ataques são um caldo cultural”, pois envolvem apoiadores da extrema direita, homofóbicos e religiosos. A onda de ataques contra o criador de conteúdo inclui mentiras. “Mentem que tenho doutorado em sexualização pela USP. Tem perfis que mentem dizendo que defendo a descriminalização da pedofilia. Esses são alguns horrores que estou vivendo”, relaciona.
O criador acredita que os ataques vêm pela também pela conivência das plataformas com as perseguição. Para ele, os ataques quando denunciados, não surtem efeitos e não são apagados, mas quando há vídeos com algumas palavras como ” homofóbico” o algoritmo entendem como discurso de ódio e derrubam. “Tem muito coisa a rever sobre o verdadeiro papel das plataformas diante os discursos de ódio. Elas precisam assumir uma posição pró-LGBT, e que seja transformada em políticas reais”.
*LGBTQIAPN+ é uma sigla que abrange pessoas que são Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais.