Por Amanda Bertolini
Temos visto cada vez mais um processo de transformação importante nas organizações, onde estruturas rígidas de hierarquia passaram a dar espaço para culturas de colaboração que estimulam a inovação constante. Muito além da construção de um propósito (e as estratégias tomadas para cumpri-lo), as empresas se viram na necessidade de comunicar mais novidades, não só para o público externo como também para o próprio quadro de funcionários.
Segundo dados da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), a área de comunicação interna (CI) vive uma contradição, onde o excesso de informações serem comunicadas acabam por levar ao “vício” de centralizar a divulgação, colocando todo tempo e esforço em iniciativas que não solucionam os principais desafios do setor.
Tanto o time de CI quanto o empregado ficam saturados de informação e trabalho. O tempo e esforço que deveriam ser implementados em estratégias eficazes, como o engajamento dos gestores, otimização de experiências, comunicação de estratégias e outros desafios, acabam sendo redirecionadas para comunicados e campanhas de última hora para “apagar incêndios”. Além, claro, do esforço de gerenciar todos esses
temas nos diversos veículos e canais até o empregado.
O resultado disso é uma caixa de email lotada, acúmulo de tarefas e insatisfação. É preciso simplificar.
E a solução é mais simples do que parece, embora exija coragem. É preciso evoluir a mentalidade para o chamado trabalho de comunicação 4.0, cujo apoio de influenciadores permite ter uma disseminação mais eficiente do que canais tradicionais, trazendo uma comunicação mais transversal e menos hierárquica.
Transformar o papel do comunicador interno dentro das empresas é essencial para essa evolução acontecer. O relatório “disrupting the function of IC”, da IC Kollectif, aponta que apenas 3% dos funcionários de uma empresa se tornarão influenciadores internos. Cada um deles, porém, irá atingir 85% dos demais empregados.
Funcionários felizes são influenciadores de valor inestimável de disseminação da cultura corporativa, pois mobilizam e alcançam um volume maior de pessoas se comparado aos demais canais, ampliando a escuta e capturando aquilo que vaza pela comunicação interna informal. Um feedback que, em cenários instáveis, pode contribuir de forma expressiva para ajustes ágeis de rota.
Analisando o impacto que tal mudança de mentalidade causa na estrutura da rede de informações dentro de uma empresa, chego à conclusão de que esse caminho passa pelo desbloqueio de três tendências que viabilizam a comunicação interna 4.0. São elas:
- Criar pontes: oferecer ferramentas de conexão orgânica entre empregados, para que a colaboração transversal seja por interesses, cases, boas práticas e afins. Ir além da rede social interna, fomentando espaços temáticos com incentivo da organização para a troca livre de mensagens.
- Criar redes: mapear, treinar e relacionar com os empregados ativos e engajados para impulsionar suas interações. Começamos pelos influenciadores informais que já fazem isso naturalmente, mas é essencial buscar voluntários que querem se desenvolver neste caminho para resultados inovadores.
- Criar palco: dar oportunidades para os empregados falarem, divulgarem, comunicarem de forma “credenciada” pela organização. É importante ouvir o que se está falando “no paralelo” e trazer para o centro da conversa principal, dentro e fora de casa. São os funcionários quem detêm o conhecimento que precisa ser democratizado, pois eles garantem a credibilidade e autoridade de um assunto, ainda que institucional. E isso ajuda a construir a reputação da empresa. É de responsabilidade das organizações fazer com que seus funcionários se apropriem das mensagens, transformando-as em ações para o futuro.Está na hora de olhar mais para os recursos internos das organizações e dar o holofote apropriado para uma melhor estratégia de comunicação.
*Amanda Bertolini, estrategista de marca da Oliver Latin America