Portal iG prepara a festa dos 25 anos

Paulo Leal, vice-presidente executivo do iG, reflete sobre seu retorno à empresa e a missão de colocar o portal entre os três maiores do país

Por Priscila Perez e Luiz Zak

O jornalista e publicitário Paulo Leal está de volta ao iG, empresa que ajudou a fundar nos anos 2000. Mais de vinte anos depois de lançar o primeiro portal de internet gratuita do país, o atual vice-presidente executivo do iG enxerga com otimismo o futuro do portal, que hoje contabiliza mais de 55 milhões de usuários por mês. De olho na concorrência, sobretudo de portais como UOL, G1 e Globo.com, o iG quer conquistar a audiência com novos serviços, um jornalismo cada vez mais regionalizado e parcerias de valor. 

Com 40 anos de profissão e 57 anos de vida, Paulo retorna ao iG com a missão de reinventá-lo, um desafio que encara de frente com muita experiência na bagagem. Sempre envolvido em projetos de comunicação de grande visibilidade, o executivo acumula passagens marcantes em empresas como MTV, ESPN, Estadão, AlmapBBDO, Dentsu e Time for Fun, entre outras empreitadas. “Parar” parece não fazer parte de seu vocabulário. Nesse mercado em constante evolução, ele prefere se manter atualizado e atento às inovações que impulsionam os veículos de comunicação.

Neste bate-papo exclusivo com a Negócios da Comunicação, Paulo Leal compartilha sua visão sobre o atual cenário do jornalismo digital, destacando a estratégia do iG para se consolidar como um dos três principais portais do país. Ao antecipar o que está por vir, ele lembra que o portal também vai comemorar 25 anos de história no próximo ano, data em que se celebra o 25° aniversário da internet brasileira. 

Você fundou o iG em 2000 e agora está de volta. Como imprimir um novo ritmo ao iG?

No ano passado, fui convidado pelo novo board de acionistas para tocar a operação do portal. O objetivo era dar um boost no iG, que é uma marca fortíssima, um portal com uma penetração popular no Brasil muito grande. São mais de 55 milhões de usuários por mês, mais de 10 milhões de contas de e-mail ainda vivas e ativas no mercado. E aí fizemos um plano de ação e reformulamos todo o conteúdo do iG, trazendo mais de 40 publishers diferentes e turbinando o negócio com novos conteúdos.

Com as redes sociais em alta, como atrair a audiência para o portal?

Enquanto traçamos o nosso plano de reestruturação, detectamos dois movimentos importantes. O primeiro é o crescimento da audiência dos portais horizontais no Brasil, que vinha em declínio até então, assim como a da TV por assinatura. As pessoas perceberam que para se informar sobre política, economia, entretenimento, futebol, entre outros assuntos, as redes sociais não bastavam. E a audiência migrou. Quem busca informação séria não acredita mais nesses influenciadores do Instagram que ensinam a fazer o seu primeiro milhão em 15 minutos. Isso não existe. 

O mercado mudou bastante. A audiência está em busca do que?

Sim, o mercado está mudando rapidamente de hábito, e o iG está antenado nisso. É por isso que ampliamos o nosso espectro de conteúdo em futebol, música, entretenimento e shows. E também estamos falando mais de política, economia e educação financeira séria, abordando temas importantes como dólar, mercado etc. E não fazemos recomendações pagas. São recomendações jornalísticas. Dessa forma, milhões de brasileiros retornaram aos portais em busca de informação, mas também muito ancorados no futebol ao vivo. Ou seja, as pessoas também estão atrás disso, do maior entretenimento do mundo chamado futebol. Só que, hoje, a Globo detém a minoria dos direitos esportivos no Brasil. O futebol hoje está muito pulverizado. O SBT tem um pedaço, a Record tem o Paulista e por aí vai. Então, novamente, o mercado mudou bastante, e os portais investiram muito dinheiro para trazer de volta essa audiência que estava muito focada na Globo e nas redes sociais.

Qual é o perfil dos principais portais de notícias no Brasil?

Dos 100 maiores portais horizontais no Brasil, os seis primeiros são nacionais, 100% brasileiros — G1, R7, iG, UOL, Metrópoles e Poder 360. Depois temos o Terra, da Telefônica, espanhol, o único portal multinacional entre os seis maiores do Brasil. Portanto, existe uma predominância muito forte de um conteúdo nacional, produzido no Brasil, para brasileiros e nos grandes portais nacionais de capital 100% brasileiro. É claro que o G1 e o R7 levam uma grande vantagem porque estão colados em duas emissoras de televisão aberta. Isso faz com que tenham audiência pela sobra de vídeo e material eletrônico. O UOL também está ancorado na audiência da Bandeirantes e RedeTV. Mas se a gente tira essas duas emissoras, a audiência do UOL despenca 60%. Já o iG, Metrópoles e Poder 360 são, eminentemente, portais horizontais. Não estão ancorados em nenhum grupo de mídia. Nós, do iG, caminhamos pelas nossas próprias pernas. É o nosso negócio principal, e não o nosso negócio colateral. Mas, de qualquer forma, o consumo de mídia nos portais vem aumentando cada vez mais e muito por não divulgarem fake news.

Nesse cenário, o jornalismo é o melhor antídoto?

O jornalismo sério combate esse tipo de coisa. Quem tem acima de 25 anos busca informação crível. Essa pessoa está em outro estágio da vida e precisa de recomendações corretas, de pontos de vista diferentes sobre política, economia e educação financeira, até para comprar seu imóvel, pagar todas as taxas e tirar suas dúvidas. Em um país onde 70% da população está endividada, você não vai buscar informação para sanar uma dívida e limpar seu nome nas redes sociais. As pessoas estão de olho nessas coisas mais sérias, que impactam o básico de suas vidas. E nesse sentido, os portais estão aí ajudando milhões de brasileiros, trazendo essas informações importantes para que possam tomar suas decisões. É por isso que houve uma migração do mundo irreal, das redes sociais, para o mundo real, das pessoas. O que vemos nos portais são assuntos que realmente impactam no dia a dia delas.

Como o iG está trabalhando para combater a desinformação?

Publicamos até quatro matérias sobre fake news, mostrando que aquelas informações são falsas, não importando o lado político. Recentemente, teve uma história sobre o Bolsonaro, que teria sido impedido de entrar em um restaurante em Buenos Aires. O que é mentira, afinal quem iria proibir alguém de entrar em um restaurante? Portanto, sempre olhamos isso, com a preocupação de combater informações falsas. Temos que trazer a verdade, independentemente do lado político envolvido. Os portais têm essa responsabilidade também, de trazer à tona o que está sendo viralizado como fake news e mostrar que é mentira. É assim que se combate a contrainformação.

A princípio, a onda de fake news gerou certa desconfiança em relação à imprensa. Apesar disso, você acredita que o jornalismo saiu da crise mais fortalecido?

Essa situação acabou fortalecendo o bom jornalismo. É claro que existe uma mistura da população que não sabe ao certo o que é fake e o que é real. Mas eu acho que as pessoas têm esse discernimento do que são informações críveis, confiáveis. Nenhum jornalista responsável seria louco de denegrir a imagem de alguém, desse ou daquele político, porque ele também responde por isso. Por isso, eu acredito que a questão das fake news nas redes sociais acabou fortalecendo a notícia “real” e “verdadeira” dos grandes portais. Isso, sim, dá credibilidade, traz grandes anunciantes e investimentos publicitários. E a roda gira e acaba fortalecendo as empresas jornalísticas de uma maneira geral.

Como que o portal IG está assegurando sua sustentabilidade financeira?

Temos hoje como principal fonte de renda a publicidade, até pelo fato do iG ser um portal gratuito e amplo. Ou seja, não temos matéria fechada, paga, assim como o G1, a Globo.com e o UOL fazem. E o iG, ao contrário disso, é o único portal verdadeiramente gratuito no Brasil, com 100% das matérias acessíveis. Em segundo lugar, temos as contas ativas de e-mail. Atualmente, o iG tem aproximadamente 10 milhões de contas ativas de e-mail. É bastante gente. O nosso próximo passo é agregar serviços de valor, como cloud para arquivamento de documentos e fotos no seu e-mail. Também vamos introduzir o reconhecimento facial nos e-mails. O iG será a primeira empresa provedora de e-mails no Brasil a não utilizar mais senha.

Como superar a concorrência e colocar o iG entre os três maiores portais do país?

A chave é ter um bom conteúdo, relevância, capilaridade e cobertura em todo o Brasil. O iG está adotando uma estratégia de crescimento regional. Todos os cinco portais são de alcance nacional. Eles não possuem editorias nem equipes de jornalismo em municípios como Osasco, Barueri, Niterói etc. Já o iG é o maior portal regional do Brasil, com cobertura editorial em quase 400 municípios. E neste ano, pretendemos expandir para mil. Essa é a nossa estratégia de regionalizar o jornalismo, utilizando um modelo semelhante ao das afiliadas de televisão. O iG está dando forma inédita a essa mesma capilaridade regional que a televisão aberta tem. Atualmente, arrisco dizer que estamos cobrindo mais municípios com jornalismo local em tempo real do que a televisão aberta, incluindo a Globo, que possui cerca de 120 afiliadas, o SBT e as demais, com aproximadamente 80 afiliadas regionais. Queremos cobrir o local para que as pessoas percebam que o iG é o único portal do Brasil que fala sobre a rua e o bairro delas.

Além da regionalização, o iG pretende firmar uma parceria com a CNN Brasil?

Estamos desenvolvendo um importante trabalho de parceria de conteúdo com a CNN, que ainda está em estágio inicial. Recentemente, a CNN alcançou a liderança de audiência entre os canais de notícias do país, de acordo com o Ibope, superando a GloboNews, Jovem Pan e Band News. Hoje, a CNN se destaca por oferecer uma abordagem menos opinativa e mais informativa, o que se alinha com o perfil do iG — gostamos de relatar os fatos em vez de comentá-los. Estamos entusiasmados em replicar as dez principais hard news da CNN no iG e, eventualmente, ter um botão na parte superior da página com o nome “CNN Brasil”, fornecendo aos leitores informações sobre as notícias da CNN online, além de compartilhar nossas dez notícias mais lidas. Isso possibilitará a recirculação de conteúdo e audiência, resultando em uma ampliação do público para ambas as plataformas. A CNN tem como foco as classes A e B, já que é um serviço de assinatura de televisão paga, e possui uma audiência considerável em seu portal. No iG, atingimos uma audiência de 20 milhões na classe AB e mais 25 milhões de leitores pertencentes às classes B, C e D, o que representa perfis complementares. Estou apresentando à CNN a possibilidade de impactar 55 milhões de usuários em nossa base, e me interessa a oportunidade de atingir os 26 milhões de usuários da classe AB que acessam a CNN. Isso representa uma estratégia inteligente e beneficia ambas as partes.

Quantas matérias são publicadas diariamente no iG? Há projetos de expansão de editorias? 

Produzimos atualmente 1.600 notícias por dia, entre matérias nacionais, internacionais e locais, abrangendo uma ampla variedade de assuntos. Este é um volume considerável de notícias originais, não replicadas, geradas pelos nossos 120 jornalistas, distribuídos em 44 editorias. Pretendemos continuar a expandir nesse ritmo. Além disso, estamos utilizando inteligência artificial de maneira responsável e coerente para ampliar o escopo de notícias, aproveitando todos os benefícios que a tecnologia pode oferecer.

Ano que vem o iG faz 25 anos. Quais são as iniciativas para comemorar a data? 

Estamos prestes a comemorar os 25 anos da internet brasileira e também o aniversário de 25 anos do iG. Estas comemorações terão destaque em nosso calendário de eventos ao longo do ano, incluindo vários eventos temáticos. Estamos planejando convidar as personalidades mais influentes dos últimos 25 anos da internet brasileira para participar de um congresso e promover discussões sobre o tema, além de abrir espaço para o público em geral e a grande mídia. Esta celebração não é apenas do iG, mas também do UOL, que também está completando 25 anos. Nossa comemoração será conjunta, afinal, tanto o UOL quanto o iG começaram suas atividades após o pioneirismo do Mandic.

Ao retornar ao iG no ano passado, o portal estava em 15º lugar em audiência e agora já ostenta a quarta posição. Como tem sido esse desafio?

É um desafio muito gostoso. É inspirador estar envolvido no relançamento do iG, 25 anos depois de sua primeira estreia. Este relançamento trouxe a oportunidade de formar uma equipe de talentos brilhantes e engajados. Gosto de dizer que o iG é uma “startup de 25 anos”, pois a maioria da equipe atual não era nem nascida quando o portal foi criado. A energia da equipe é algo especial. Eu sou o único “velho” por aqui, já que a maioria tem menos de 30 anos. Não se trata de um portal antigo de 25 anos, mas sim de um portal que está sendo reinventado agora. A audiência mantém uma sintonia muito afetiva com o conteúdo, e a equipe é composta por talentos conectados, brilhantes e criativos. Voltar a trabalhar com uma equipe eclética de jovens talentos é muito gratificante. No jornalismo, muitas vezes temos a imagem do jornalista mais velho, que transmite credibilidade, mas, na verdade, o iG atualmente é 100% feito por uma equipe com menos de 30 anos. 

Além de fundar e retornar ao iG, você teve passagens importantes em empresas como MTV, ESPN, Disney, Estadão, RedeTV e Time for Fun. O que te motiva?

Eu acho que o principal desafio, e o que mais me motivou, foi justamente essa mudança de comportamento e de consumo das mídias. Eu pertenço a uma geração que nasceu em um mundo sem internet, sem redes sociais, sem WhatsApp. É bem diferente das gerações mais jovens, que já nasceram em um mundo completamente conectado. A transição do jornalismo e da comunicação linear, offline, para a digital é uma mudança fascinante para acompanhar e fazer parte. No entanto, isso exige constante atualização e aprendizado. Tenho uma vasta experiência na área de comunicação, com 40 anos de profissão e 57 anos de vida. Acompanhei de perto o nascimento da internet brasileira e o advento das redes sociais. O mercado mudou significativamente ao longo do tempo, e é essencial se manter atualizado. Gosto de me considerar um eterno aprendiz.

Como você vê o futuro do jornalismo e da comunicação? 

Hoje, o futuro do jornalismo e do jornalista é ser multidisciplinar, saber escrever para todas as telas. Eu, 20 anos atrás, já começava a falar que a palavra telespectador, de “tele”, estava muito ligada à televisão. Mas, atualmente, temos que fazer de tudo para o “telaspectador”. Hoje, o espectador consome o Google Play no celular e vídeos no YouTube. Então, cada um tem a sua especificidade. Logo, o jornalismo precisa ser eclético. Portanto, é necessário ser multidisciplinar para escrever, postar, fazer vídeos, gravar áudio etc. O que é hoje o espectador? Ele é multitela. Então, é preciso saber produzir em cada formato com sua especificação técnica, em cada ambiente. Isso, sim, é fundamental.

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