Depois de receber muitas críticas em todo o mundo pela falta de medidas mais efetivas para coibir a difusão de fake news por seus usuários, o Google e o Facebook anunciaram que irão doar US$ 13,2 milhões à Rede Internacional de Checagem de Fatos (International Fact-Checking Network), da Poynter Institute. O fundo vai dar apoio a uma rede de 135 organizações, distribuídas em 65 países, que verificam informações em mais de 80 idiomas. Essa rede internacional, na verdade, vai repassar essa verba para organizações de checagem em todo o mundo. A ideia é fortalecer iniciativas de combate às fake news.
O Google já possui um esquema de checagem de fatos via Google News Initiative. O buscador do Google também sempre coloca em destaque as notícias verificadas por instituições de checagem. O mesmo acontece nas buscas no Youtube.
Aliás, o Youtube já foi denunciado como o maior canal de desinformação e fake news do mundo por mais de 80 instituições de checagem. A crítica forçou a CEO do YouTube, Susan Wojcicki, emitir uma carta aberta em janeiro, reconhecendo que as medidas de verificação da plataformas realmente estavam sendo insuficiente para coibir as fake news e prometeu tomar medidas mais eficazes.
Plataformas são criticadas
O Facebook e o Youtube foram muito criticados pela falta de controle de informações propositadamente falsas em suas plataformas, gerando protestos de empresas, como a Unilever, que ameaçou retirar investimentos publicitários nessas empresas e do jornal Folha de S. Paulo, que publicou um anúncio crítico a esse problema e retirou seu perfil dessas mídias.
Durante as eleições ambas as plataformas colaboraram como TSE para filtrar informações erradas e mentirosas sobre as eleições. A professora Rafiza Varão, do departamento de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) diz que é fácil identificar uma notícia falsa, basta pesquisá-la nos sites de checagem. Infelizmente, muita gente não faz isso uma informação mentirosa, dependendo do grau, pode fazer um estrago em poucos segundos, atingindo milhares de pessoas, antes do desmentido publicado em algum site. “Quando você procura um conteúdo falso muito buscado, a inteligência artificial entende isso”, avalia Rafiza, explicando que as plataformas já fazem certa filtragem, automaticamente.
Para alertar e conscientizar a população dos perigos do compartilhamento de informações falsas, em 1º de abril de 2019, representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), das associações da magistratura e dos tribunais superiores e da imprensa lançaram o Painel de Checagem de Fake News. Os parceiros do Painel contribuem para o projeto dentro de sua área de atuação e com as ferramentas que dispõem para checar dados e realizar ações de alerta à sociedade sobre o perigo da informação falsa.
Problema antigo, o digital só potencializou
Fake news foi eleita a palavra do ano de 2017 pela editora inglesa Collins, o que mostra a importância de debater esse problema e buscar soluções. E a expressão “pós-verdade” (post-truth) também foi escolhida como palavra do ano em 2017, pelo Dicionário Oxford que a definiu como: “um adjetivo relacionado ou evidenciado por circunstâncias em que fatos objetivos têm menos poder de influência na formação da opinião pública do que apelos a emoções ou crenças pessoais”.
“Mentiras e boataria com alta disseminação social não são um fenômeno novo”, pondera o professor Marco Antonio Souza Alvares, da UFMG. ” Internet e o crescimento das mídias sociais não inventaram o fenômeno da desinformação, mas criaram um ambiente propício para que houvesse uma difusão em massa de notícias falsas, em velocidade nunca antes vista na história da humanidade”, complementa o professor.
Os chamados “filtros bolhas” são insuficientes para inibir as notícias mentirosas, segundo o pesquisador Angelo Sastre, da Unesp/Bauru: “Acredito que seja coerente apontar que a proliferação de fake news pode ser influenciada pelo uso de algoritmos e pela limitação provocada por
“filtros bolha”, mas nunca será provocada por esses elementos presentes no universo
digital”,
Uma pesquisa quantitativa em que avalia os hábitos de consumo quanto às notícias online,
principalmente por jovens que utilizam a Internet, dispositivos móveis, aplicativos e mídias sociais
com frequência, foi realizada por João Vitor de Oliveira, Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Fatec Taquaritinga e por Gustavo Henrique Del Vechio, doutor em Comunicação e Professor de Ensino Superior nas Fatecs de Bebedouro, Taquaritinga e Matão.
Eles chegaram a conclusão que o que se verifica é que muitas notícias são compartilhadas ou disseminadas sem mesmo haver um senso crítico em relação à veracidade dos fatos; “muitas vezes, inclusive, compartilha-se lendo apenas parte da notícia, ou somente a manchete. Isso, por certo, contribui expressivamente para que mais e mais informações falsas circulem na rede, o que pode ser muito prejudicial a inúmeras pessoas, marcas ou organizações”.
Para Del Vechio, a Internet não é um espaço em que a informação pode ser facilmente bloqueada ou eliminada: “Embora mecanismos de Inteligência Artificial e algoritmos computacionais
estejam otimizados e evoluídos no sentido de tentar identificar notícias falsas, o melhor
remédio para contê-las ainda continua sendo a conscientização e a reflexão por parte de
cada pessoa que produz, consome e compartilha informações. Na prática, o anticorpo
mais eficiente para conter a proliferação de fake news ainda é o senso crítico”.
Enquanto isso, redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter, além do Google, Mercado Livre e até a Associação de Jornalismo Digital criticaram o Projeto de Lei 2.360, de 2020, conhecido como PL das fake news. As empresas alegam que a proposta representa uma ameaça à internet livre.