O desafio da inclusão das mulheres trans no mercado de trabalho

Problemas vão desde a discriminação no processo de seleção de emprego, falta de acesso a oportunidades de capacitação e treinamento, desigualdade salarial, clima organizacional hostil e até mesmo dificuldades no acesso a banheiros e vestiários adequados

No cenário atual, ainda existem diversos mitos relacionados à comunidade transgênero que precisam ser derrubados, principalmente no ambiente de trabalho. Muitas vezes, colaboradores trans enfrentam discriminação e preconceito, o que impacta negativamente em sua produtividade e bem-estar no ambiente laboral.

De acordo com a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), os dados levantados em 2020 revelaram que apenas 13,9% das mulheres trans e travestis possuem empregos formais. Essa porcentagem é significativamente baixa quando comparada aos 59,4% dos homens trans que estão empregados de forma formal.

A pesquisa chama atenção para a desigualdade de gênero e a discriminação enfrentada pelas mulheres trans e travestis no mercado de trabalho. Os números mostram a urgência de políticas públicas e ações efetivas para combater a exclusão e a marginalização desse grupo na sociedade.

O estudo também ressalta a importância de se criar oportunidades de emprego e capacitação para as mulheres trans e travestis, visando reduzir as desigualdades existentes e promover a inclusão social e econômica.

Os dados fornecidos pela FAPESP servem como um alerta para a necessidade de se promover mudanças e medidas que garantam o acesso igualitário ao mercado de trabalho, independente de gênero ou identidade de gênero. 

Durante o painel “Como derrubar mitos e apoiar colaboradores trans”, apresentado nesta sexta-feira, 1º de dezembro, no 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão, Jaque Fantinelli, psicóloga e especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão, Isabella de Avila, analista de Diversidade e Inclusão na Intrials, e Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, debateram a importância de políticas inclusivas e de acolhimento no ambiente de trabalho.

A discussão ressaltou a necessidade de promover um ambiente corporativo mais inclusivo e preparado para receber pessoas trans e travestis, fornecendo suporte, capacitação e oportunidades de emprego. A falta de representatividade e as barreiras enfrentadas para a inserção no mercado de trabalho foram temas centrais do debate.

Tornando o ambiente de trabalho mais inclusivo para pessoas trans

As speakers acreditam que para incluir pessoas trans, as empresas devem oferecer políticas claras de inclusão e diversidade, promovendo igualdade de oportunidades e respeito à identidade de gênero dos colaboradores. Além disso, é importante fornecer treinamentos para que todos os funcionários estejam preparados para lidar de forma respeitosa e inclusiva com colegas transgênero.

Isabella: empregabilidade tem melhorado

A promoção da diversidade também envolve dar voz e espaço para que colaboradores trans tenham oportunidades de liderança e participação ativa em processos decisórios dentro das organizações.

Isabela destaca que a empregabilidade de transexuais era pouco debatida quando ela começou sua transição de gênero. No entanto, ao longo dos anos, observa-se uma mudança gradual na mentalidade das empresas, que agora estão mais abertas e dispostas a acolher e valorizar a diversidade de gênero. “Sendo muito otimista, começamos a ouvir mais sobre isso há cinco anos. E antes desse tempo estávamos ou na prostituição ou em trabalho muito específicos como cabelo, maquiagem e que eram nossas únicas opções”, lembra. 

Ela acredita que é essencial que as empresas ofereçam oportunidades de capacitação e desenvolvimento profissional para pessoas trans, para que possam competir em igualdade de condições no mercado de trabalho. Além disso, ressalta a importância de políticas inclusivas e de um ambiente de trabalho seguro e acolhedor.

Isabela também aponta que as violências são vividas dentro das instituições de ensino superior e no ambiente corporativo, reforçando a necessidade de políticas efetivas de combate à transfobia e promoção da igualdade de oportunidades. Ela lembra que muitas vezes precisou se adaptar para evitar retaliações, escolhendo um curso à distância para evitar preconceitos e retaliações. “Muitas vezes precisamos nos adaptar para não sofrer retaliações, eu escolhi fazer um curso à distância porque ele oferecia menos retaliação e prejuízos quando a minha pessoa”, recorda, como uma estratégia de defesa contra agressões.

Jaqueline salienta que a falta de acesso à educação pode impactar a inserção no mercado de trabalho. Além disso, enfatiza como as empresas que estabelecem critérios rigorosos de seleção podem dificultar a entrada de pessoas que enfrentam barreiras. “As duas faces da moeda são como se sentimos com nossa identidade e a outra são questões estruturais, de como o mundo nos acolhe, abre portas ou fecha” , enfatiza.

O que o RH de uma empresa pode fazer para acolher?

Jaqueline: falta de acesso à educação pode impactar a inserção no mercado de trabalho

O departamento de Recursos Humanos (RH) desempenha um papel crucial no acolhimento e inclusão de pessoas trans no ambiente de trabalho. Para isso, é fundamental implementar programas de sensibilização e conscientização sobre questões de identidade de gênero, garantindo que todos os funcionários estejam preparados para lidar de forma respeitosa e inclusiva. Além disso, o RH é responsável por buscar formas de aumentar a representatividade de pessoas trans na empresa, oferecendo oportunidades de liderança e participação ativa em processos decisórios, e garantindo que as políticas de recrutamento e promoção sejam inclusivas e livres de preconceitos.

Jaqueline destaca a importância de conscientizar todos os colaboradores sobre a valorização da diversidade, promovendo treinamentos e workshops para criar um ambiente de trabalho acolhedor para pessoas trans. Ela ressalta que a empresa precisa criar procedimentos e treinamentos para orientar os funcionários sobre como lidar com colegas trans. “Precisamos falar de conscientização, porque muitas vezes não sabem como lidar com um colega trans, e a empresa precisa criar procedimentos e treinamentos”, aponta.

Além disso, o RH pode estabelecer políticas de suporte e acolhimento para pessoas trans, garantindo que tenham acesso a benefícios e recursos necessários para o seu bem-estar no ambiente de trabalho. Aline ressalta que a inclusão não é apenas responsabilidade do RH, mas também de outros times, como a comunicação, que desempenha um papel fundamental. Ela enfatiza a importância da transparência nos programas de diversidade e inclusão.

Gabriela: empresa deve estar envolvida com a causa para acolhimento

“Precisamos falar de conscientização, porque muitas vezes não sabem como lidar com um colega trans, e a empresa precisa criar procedimentos e treinamentos”, aponta. Ao promover a inclusão de pessoas trans, o RH não apenas contribui para a construção de um ambiente de trabalho mais justo e igualitário, mas também fortalece a imagem da empresa como um local que valoriza a diversidade e a igualdade de direitos.

Jaque ressalta que é preciso criar estratégias ao longo prazo nas companhias para garantir que a inclusão de pessoas trans seja uma prática contínua e não apenas uma iniciativa pontual. Ela enfatiza a importância de implementar políticas e programas de suporte, além de oferecer oportunidades reais de crescimento e liderança para as pessoas trans dentro da empresa. “Em janeiro é fácil colocar ícones trans, ou tirar fotos de funcionários, mas qual a real meta de inclusão que empresas estão adotando para promover a real oportunidades?”, questiona.

Ela defende que a inclusão de pessoas trans não é apenas uma questão de justiça social, mas também traz benefícios concretos para a empresa, como maior inovação, produtividade e satisfação no trabalho. Jaque ainda critica a falta de inclusão deste público nas empresas, enfatizando a necessidade de letramento, treinamento, e revisão de processos potencialmente transfóbicos, destacando que mesmo pequenas mudanças representam um progresso significativo. “Precisa questionar as empresas do porquê não há a inclusão deste público por eles, além disso precisa de letramento, treinamento, rever os processos, que em algum momento possam ser transfóbicos, se fizer o mínimo já evolui bastante”, elucida.

Gabriela concorda que, para que a inclusão de pessoas trans seja efetiva, é essencial que toda a empresa esteja envolvida e comprometida com essa causa. Isso significa que todos os departamentos, não apenas o RH, devem estar alinhados e engajados em promover um ambiente de trabalho inclusivo e acolhedor para pessoas trans.

Confira esse e outros painéis do segundo dia do  3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão, ele está completo no canal da Negócios da Comunicação no Youtube. Acesse aqui.


Oferecimento:

                       
             

Conteúdo RelacionadoArtigos

Próximo Artigo

Portal da Comunicação

FAÇA LOGIN ABAIXO

Recupere sua Senha

Por favor, insira seu usuário ou email