Os avanços tecnológicos têm transformado diversas áreas do nosso cotidiano e o jornalismo não escapa dessas mudanças. Nos últimos anos, os algoritmos têm desempenhado um papel fundamental na forma como consumimos notícias e na maneira como os veículos de comunicação produzem e distribuem conteúdo.
Os algoritmos são fórmulas matemáticas que utilizam dados e informações para automatizarem a tomada de decisões. No contexto do jornalismo, eles são programados para analisar grandes quantidades de dados, identificar tendências, padrões e preferências do público, proporcionando assim uma experiência de leitura mais personalizada.
Uma das principais mudanças promovidas pelos algoritmos no jornalismo dizem respeito à distribuição de conteúdo. Antes, a seleção das notícias que chegava aos leitores era feita manualmente pelos editores dos veículos de comunicação. Com o uso de algoritmos, em sites, mecanismos de buscas e redes sociais, essa seleção passa a ser automatizada, baseada nas preferências e interesses de cada leitor. Isso significa que cada pessoa recebe uma combinação única de notícias, de acordo com seus hábitos de consumo e histórico de leitura.
Além disso, os algoritmos também têm influenciado a forma como os jornalistas produzem conteúdo. Com a utilização de diversas ferramentas e softwares, é possível analisar dados em tempo real sobre o desempenho das notícias, como o número de visualizações e compartilhamentos, e utilizar essas informações para definir pautas, decidir o formato de um artigo ou determinar a melhor estratégia de divulgação de uma reportagem.
Essa questão será debatida durante o 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, que acontecerá nos dias 24 e 25 de julho, com transmissão gratuita e ao vivo pelo canal da Plataforma Negócios da Comunicação no Youtube. No painel “A medida do sucesso – ou da manipulação? O impacto de filtros e algoritmos na distribuição de notícia”, dia 24 das 15h38 às 16h18, especialistas irão debater os impactos dos algoritmos no avanço tecnológico, na produção e na disseminação de notícias. Participam da discussão: Fábio Fernandes, professor assistente mestre na PUC; Sérgio Spagnuolo, diretor do Núcleo Jornalismo, e Guilherme Ravache, consultor e colunista.
Algoritmos influenciam no consumo e produção jornalística
Uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center, em setembro de 2020, entrevistou 476 especialistas em tecnologia, jornalismo e questões sociais. Os resultados mostraram que a maioria dos entrevistados acredita que os algoritmos desempenham um papel significativo na produção jornalística nas redes sociais.
Conforme apontado pelos especialistas, os algoritmos podem influenciar a produção jornalística de diversas maneiras. Por exemplo, eles personalizam o conteúdo, fornecendo aos usuários informações relevantes e interessantes. Além disso, as redes sociais têm uma preferência por conteúdos visuais, como imagens e vídeos, em detrimento de textos longos e complexos. Os algoritmos também incentivam a velocidade da produção, promovendo a busca por notícias em tempo real e a rápida publicação de conteúdo, às vezes sem uma verificação adequada dos fatos.
Essa nova dinâmica traz tanto desafios quanto benefícios para o jornalismo. Fábio Fernandes explica que, ao contrário do que muitos pensam, os algoritmos não são complicados de entender. “Algoritmo é, na verdade, uma sequência de linhas de código”. O professor ressalta que o algoritmo estabelece algumas regras do sistema.
Sergio Spagnuolo, ressalta que o jornalistas orientados por volume de audiência tendem a adaptar suas reportagens e títulos a fim de atender preferências de algoritmos de recomendação e alavancar seus conteúdos. “O problema disso é que pode gerar distorções de conteúdo puramente para atender a critérios de SEO ou de recomendações automatizadas em redes sociais. Essa queda de qualidade é o principal problema que eu vejo”, afirma o jornalista
Guilherme Ravache, acredita que operações jornalísticas não podem se dar ao ludo de ignorar o Google porque quanto maiores elas são, maior a dependência. “O Android, do Google, é o sistema operacional em mais de 80% dos celulares brasileiros. Mais de 70% dos internautas usam o Chrome como navegador e mais de 90% das buscas na internet acontecem no Google. Então, cada vez mais o conteúdo é produzido para performar bem no Google”. Na opinião do jornalista o crescente uso de títulos clickbait são exemplo disso: “Quanto mais cliques, melhor a performance. As páginas e pautas dos sites, tudo cada vez mais parecido, é outra consequência”.
Por um lado, a personalização das notícias permite que cada leitor tenha acesso a conteúdo relevante e de seu interesse específico, aumentando o engajamento e a fidelização. No entanto, é importante cautela para evitar que ocorra uma “bolha informativa”, onde o leitor fique exposto apenas a conteúdos que reforçam suas opiniões, limitando sua exposição a diferentes pontos de vista. Spagnuolo destaca que é fundamental ler além do habitual para quebrar essa bolha das redes sociais. “A melhor forma de quebrar a bolha das redes sociais é se forçar a ler coisas além do que você está acostumado. Inscreva-se em newsletters, visite sites sérios e confiáveis fora de sua área de interesse, engaje civilmente com pessoas que pensam diferente”.
Rachave, acredita as pessoas já não buscam a notícia, sendo muito difícil fugir da bolha de conteúdo. “Para editores, o caminho é construir uma conexão direta com o consumidor de notícias”. O jornalista acredita que Newsletters, podcasts são eficientes neste sentido, mas usualmente se tornam “produtos de nicho por não terem a influência e alcance dos algoritmos das big techs”.
Liberdade de expressão
Outro aspecto relevante é o impacto dos algoritmos no jornalismo como fonte de informação confiável. Os algoritmos podem desempenhar um papel importante na filtragem e sinalização de notícias falsas, além de direcionar os leitores para fontes mais confiáveis. No entanto, é preciso ter cautela para não comprometer a liberdade de expressão e a diversidade de opiniões. Fábio argumenta que a filtragem de conteúdo não é equivalente a censura, pois existem leis que salvaguardam as pessoas contra calúnias e difamações. “Filtragem não é censura A filtragem é justamente pra gente separar o joio do trigo”, aponta o jornalista.
O jornalista explica que a filtragem de conteúdo serve para determinar quais conteúdos queremos ter acesso. “Você pode dizer o que você quiser. Agora se você caluniar alguém você pode ser processado. Isso sempre existiu. Isso é o código penal. Isso tem no Brasil, isso tem nos Estados Unidos e tem no Europa”, ressalta.
Apesar das polêmicas e desafios, não podemos negar que os algoritmos têm transformado significativamente o jornalismo. Eles têm o potencial de tornar a experiência de leitura mais personalizada e eficiente, além de auxiliar os jornalistas na produção, distribuição e análise de conteúdo. No 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, jornalistas e especialistas aprofundarão no tema. Para se inscrever, acesse aqui.
———————————————————————————————————————–
O evento conta com uma ação beneficente de arrecadação de recursos em prol da Casa Hope, instituição de apoio biopsicossocial e educacional a crianças e adolescentes de baixa renda com câncer.
———————————————————————————————————————–
OFERECIMENTO: