O uso de análises conhecidas como People Analytics está ganhando força no RH das empresas e também na Comunicação Interna, que se torna assim, mais eficiente. Trata-se da gestão inteligente de dados dos colaboradores para a tomada de decisões. Para que isso aconteça, antes de se preocupar com tecnologias sofisticadas e grandes objetivos de análise, aconselha Leandro Figueira Neto, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo Marista, “é necessário atualizar constantemente o banco de dados dos funcionários”. Sem isso não é possível nenhuma análise segura. O roteiro é a aplicação de técnicas de coleta, tratamento e análise de dados. Iniciativas simples, como atualizar o endereço do colaborador, sua nova formação acadêmica e outros apontamentos que surgem no decorrer de sua carreira na empresa. Leandro é um especialista e entusiasta do tema, sendo também professor no curso People Analytics no setor de RH promovido pela Universidade Cambridge.
A Ciência de dados pode gerar valor com o volume de dados que são produzidos diretamente no processo de gestão de pessoas. “Muitas decisões do RH das empresas são intuitivas, na base do achismo”, critica Leandro, e isso evidentemente prejudica muitos processos de tomada de decisão. Ele exemplifica com situações do dia a dia como um gestor que estava preocupado com o turnover em sua área, mas analisando com cuidado o caso, apenas uma pessoa saiu da empresa. Em outro caso, também no Grupo Marista, outro gestor, estava muito preocupado com o aumento de salário promovido pela Secretaria de Educação de seu Estado, o que poderia impactar a folha de pagamento de sua empresa. Mas, na verdade, só existiam três colégios do Grupo naquele Estado e isso não afetaria a política de salários de todo a organização. Com dados, essas situações generalizadas são administradas com bases mais racionais, com informação precisa, ajudando nas decisões.
Leandro já comandou o time de comunicação interna da empresa. E ainda hoje a comunicação utiliza suas recomendações de uso de dados. “Sabemos quais os canais internos mais bem avaliados pelos funcionários, os emails mais abertos e lidos no outlook, acompanhamos os dados de nossa empresa no LinkedIn e também o acesso de nossas informações nas redes sociais”
Comunicação interna e marca empregadora
A Comunicação Interna também cuida da marca empregadora em mídias sociais como o LinkedIn, portanto, a preocupação em analisar os dados produzidos nas redes torna-se muito importante. “A Comunicação Interna trabalha com estratégias de focus groups, analisando como que determinados grupos de pessoas avaliam a empresa.
“Toda a nossa organização toma decisões baseadas em dados, de mercado e de pessoas”, avalia Leandro, que ressalta os aspetos éticos envolvidos: “Dados podem ser utilizados para o bem e para o mau, e por isso é necessário cuidado na política interna e na escolha de pessoas que irão trabalhar com eles nas empresas”. Um líder despreparado pode usar um conjunto de dados para perseguir e punir injustamente pessoas ou até grupos étnicos na empresa, exemplifica o diretor. “Não se pode usar os dados para tomar decisões autoritárias”, qualifica. Por isso que, a questão ética surge logo na sua primeira aula de People Analytcs.
Na Marista, Leandro disse ter tido a sorte de montar um time de People Analytics de alto nível. Tem por exemplo um profissional de TI que conhece o assunto e é familiarizado em temas de RH. “A estrutura deve começar aos poucos”, recomenda Leandro. E uma de suas dicas é saber quais os problemas que a empresa ou a área que cuidará dos dados quer resolver. Pode iniciar, por exemplo, cuidando das metodologias de recrutamento e seleção, algo bem utilizado com dados hoje em dia. Como também testes de perfis. E depois, partir para outros temas internos. Uma coisa de cada vez.
Dados internos devem ser bem atualizados
A base do Grupo Marista, com atuação forte no setor educacional, é composta de informações de 12 mil funcionários. “Podemos fazer vários recortes, como saber quantas mulheres existem em nossas equipes; qual idade média; quantos irão se aposentar neste ano…” Por isso ele ressalta a importância de ter dados atualizados e completos, o que envolve o RH principalmente, mas também outras áreas. “Avançamos bem nesse tema”, orgulha-se. A empresa consegue também cruzar dados de perfis de funcionários e o desempenho de cada um em vendas e na entrega de projetos. O que ajuda na movimentação interna dos quadros. “O importante é termos dados que impacta os negócios”, aconselha o diretor e professor. Outro recorte: o nível de sofisticação na Marista atingiu o ponto que o RH consegue medir o índice de felicidade das pessoas e descobrir os mais criativos, tudo cruzando dados. “Sei por exemplo, o desempenho de cada pessoa ou grupo de pessoas após terem feito treinamentos específicos”.
O People Analytics também utiliza ferramentas de inteligência artificial, de manipulação de algoritmos, para prever ações e decisões futuras, montando cenários. “É um dado novo no mercado, poucas empresas estão trabalhando com isso em RH”, avalia.
Leandro recomenda ainda a contratação de cientistas de dados, de pesquisadores para montar uma equipe eficiente. Ele começou a montar um time de People Analytics em 2003, em outra empresa, e levou essa iniciativa para o Grupo Marista, posteriormente. Na época da primeira implantação, contratou um estatístico quando nem se falava nesse tema nas organizações.