Greta Thunberg está certíssima: a COP26 é, de fato, um grande evento de relações públicas. Embora tenha feito essa associação para criticar, em mais um discurso com cobrança de medidas para limitar o aumento da temperatura no planeta, a jovem ativista sueca sabe muito bem que avanços na agenda climática, por meio da COP26 ou em qualquer outro fórum, depende sim de um grande esforço de comunicação e de relações públicas. Afinal de contas, embora seja retratada e percebida predominantemente como desafio econômico e geopolítico, o elemento central na questão do aquecimento global é a opinião pública.
O nível de consciência da população global para questões ambientais evoluiu exponencialmente nos últimos anos. Pesquisa realizada recentemente por instituto ligado à IBM revelou que nove entre dez empresas globais pretendem desenvolver iniciativas de sustentabilidade até o final deste ano. Fazer com que a sociedade perceba a preocupação em ajustar-se à uma economia mais limpa tornou-se questão estratégica para essas empresas. É um alinhamento necessário, já que na outra ponta estão consumidores cada vez mais criteriosos, além da sustentabilidade socioambiental ser condição essencial para a manutenção dos próprios negócios e empresas.
Toda essa jornada foi construída por meio de relações públicas. O surgimento do tripé da sustentabilidade, conceito criado há quase 30 anos por John Elkington, é uma evidência disso. Foi uma reação da comunidade empresarial à atuação de ambientalistas que, num esforço muito bem-sucedido de relações públicas, transformaram o debate ambiental em questão prosaica. O mundo começou a perceber que um futuro sustentável depende de mudanças de hábitos, e que isso tem poder de transformar relações de consumo e políticas governamentais.
Para além das relações de consumo, a sociedade percebeu que deve interferir diretamente em esferas mais estratégicas, com ações de comunicação arrojadas e bem pensadas, além de buscar aproximação ombro a ombro com lideranças políticas e empresariais. Esse é o espírito da COP26. E a edição deste ano, que tive a oportunidade de acompanhar presencialmente, é um grande evento de relações públicas, marcado por participação intensa de grupos étnicos, organizações da sociedade civil e movimentos independentes – cada um com seu time de comunicação.
Como profissional da área e de relações institucionais, vejo esse movimento de uma forma bastante otimista. Uma das grandes expectativas da COP26 é por medidas concretas em direção da transição energética, ou seja, substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis e limpas, como geração fotovoltaica, eólica e hidrogênio verde. Uma governança global, participativa e equilibrada depende da manutenção de uma teia onde todos se sintam conectados e que possam ser ouvidos.
A mistura de nacionalidades, em um espaço onde CEOs, governantes, líderes indígenas, cientistas e estudantes circulam pelos menos espaços, pegam a mesma fila – e até sentam-se ao chão para fazer refeições improvisadas – é a materialização do espírito que precisamos manter para avançarmos com uma agenda climática positiva. Nessa direção, relações públicas tem papel fundamental, para criar e manter essas conexões e canais de diálogo.
Ao mesmo tempo, como diretor de empresa geradora de energia, percebo que o setor elétrico tem um desafio relevante na construção dessa teia. Precisamos dar mais visibilidade às tecnologias para geração de energia limpa e renovável, que já são realidade em nosso país, além daquelas que estão em fase de desenvolvimento. Engolfados pela crise hídrica atual, deixamos em segundo plano, por exemplo, a informação que o Brasil vem batendo recordes sucessivos de geração eólica e fotovoltaica. No Nordeste, a energia produzida por complexos eólicos semelhantes àqueles que a SPIC Brasil opera em Mataraca (PB), já é suficiente para abastecer toda aquela região.
Devemos nos orgulhar disso: somos um país que possui uma matriz predominante hidrelétrica, estamos muito avançados na geração eólica e fotovoltaica, e estamos nos preparando para absorver novas tecnologias. O hidrogênio verde, por exemplo, vai levar a descarbonificação a segmentos que emitem quantidade significativa de gases de efeito estufa, como transporte público e rodoviário, atividades nas quais a utilização de motores elétricos convencionais não se mostra viável.
Comunicar esses avanços com a sociedade, como parte imprescindível do nosso planejamento de relações públicas, também é essencial para promover participação social e dar celeridade em questões que passam pela esfera política, a exemplo da regulação. Se há um combustível imprescindível para sustentar a nossa caminhada nessa jornada, rumo a um futuro com oferta de energia limpa a preço justo, ele se chama comunicação. Abasteçamos, por tanto, esse tanque inesgotável com otimismo boas ideias e ações arrojadas!