Primeiro dia do 5º FJERC debateu como as tecnologias e as fake news influenciam no jornalismo

O 5º Fórum de Jornalismo, Especializado, Regional e Comunitário (FJERC) iniciou ontem os debates com a temática sobre como as tecnologias e as notícias falsas impactam diretamente o cenário do jornalismo; programação continua hoje

No primeiro dia do 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, que aconteceu nesta segunda-feira (24), jornalistas e profissionais da mídia de diferentes partes do país se reuniram para discutir os desafios e oportunidades relacionados ao jornalismo regional e comunitário. O evento, promovido pela Plataforma Negócios da Comunicação e pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação, realizado de forma virtual, contou com palestras, debates e troca de experiências entre os participantes.

Durante a programação do primeiro dia, foram abordados temas como a importância do jornalismo especializado na atualidade, o papel do jornalismo regional na cobertura de assuntos locais e a relevância do jornalismo comunitário para a promoção da inclusão social.

No primeiro painel do dia, intitulado “Esse robô é meu amigo?”, Angélica Consiglio, CEO da Planin; Felipe Payão, editor do Tech Mundo; e Rafael Silveira, head de novos negócios do O POVO (CE) e coordenador do Comitê de Estratégias Digitais da ANJ, discutiram os prós e contras do uso de IA pela imprensa. Abordaram questões relacionadas aos direitos autorais, bem como a importância de garantir um uso responsável, ético e transparente dessa tecnologia. Além disso, debateram estratégias de adaptação e preparação para a nova era do jornalismo impulsionada pela tecnologia.

Abrindo as discussões, Rafael Silveira acredita que hoje vivemos na época das Inteligências Artificiais degenerativas. No entanto, o que mudou foi a popularização das AIs, onde todos podem ter acesso a esses mecanismos, não influenciando negativamente o jornalismo. Para o jornalista, essa tecnologia não é nova, mas a grande sacada é que pode mudar a realidade de quem trabalha sozinho, não dependendo de grandes veículos para produzir materiais mais completos. “Há o risco desde o cancelamento, ao risco de produzir informação incorreta”.

Payão acredita que as AIs ajudam o jornalismo como estruturação de códigos e na facilitação de processos, auxiliando os profissionais nas redações, principalmente no pensar a pauta e ser um mecanismo auxiliar na estruturação de todos. Porém, o setor está engatilhado nesse tema. “Ainda não entrega para o público informações precisas, ainda é uma tecnologia nova que precisa fazer testes”.

Segundo Angélica Consiglio, em meio à avalanche de informações disponíveis, é fundamental que os jornalistas se especializem em determinadas áreas para poderem oferecer um conteúdo de qualidade e confiável aos leitores. “Acredito que possa ajudar a construir boas histórias, será como andar de bicicleta, aprendemos vários formatos e temos vários formatos”, opina a CEO.

No segundo painel do dia, intitulado “O começo de uma nova era?”, os jornalistas convidados Denys Grellmann, sócio e publisher na 100fronteiras e Arenusa Goulart, gerente de marketing do Sistema Verdes Mares, compartilharam insights sobre o impacto das plataformas digitais descentralizadas na representatividade do jornalismo regional. Os jornalistas discutiram a necessidade de adaptação para a criação de conteúdos mais imersivos e visuais, os recursos necessários para fortalecer a conexão com o leitor por meio da construção de conteúdo colaborativo, e o valor de investir em confiabilidade através do rastreamento e autenticação de informações.

Os speakers concordam que o momento atual da internet é quase de disrupção, em que o público tem a posse de narrativas na web. Dennys acredita que o momento 3.0 da Internet auxilia no jornalismo pela automatização dos conteúdos, em que os chatbots e robôs acrescentam nas formas de ver novos conteúdos. “Com a vinda do ChatGPT, popularizou-se os AIs na imprensa”. No entanto, acredita que a mídia local ainda não usa todo o potencial das Inteligências Artificiais.

Uma das principais características da Web 3.0 é a automatização dos conteúdos. Chatbots e robôs estão auxiliando na maneira como consumimos informações e exploramos novos conteúdos. A chegada do ChatGPT, por exemplo, popularizou o uso da Inteligência Artificial na imprensa, ampliando a forma como as notícias são produzidas e disseminadas.

No entanto, apesar das possibilidades infinitas da Web 3.0, ainda há desafios a serem enfrentados. A mídia local, por exemplo, ainda não está utilizando todo o potencial das Inteligências Artificiais para beneficiar seus processos de produção jornalística. Nela, pelas ferramentas disponíveis é possível integrar soluções de forma mais fácil entre as diversas áreas de uma empresa.

Arenusa acredita que na Web 3.0, o usuário passa a fazer parte do ecossistema das empresas. “Temos a oportunidade de dar mais opinião, a participação é mais presente”. Para a profissional, o grande desafio no momento de implantação, mas vai ser possível integrar soluções mais facilmente entre diversas áreas de uma empresa. A jornalista vê dois caminhos para a web 3.0 no mercado brasileiro, um em que grandes empresas já estão entrando nesse novo momento e outro em que profissionais estão seguindo sozinhos.

No painel “A medida do sucesso – ou da manipulação?”, Fabio Fernandes, professor assistente e mestre na PUC; Sérgio Spagnuolo, diretor do Núcleo Jornalismo; e Guilherme Ravache, consultor e colunista, discutiram os desafios enfrentados devido às métricas, algoritmos e influência dos filtros na formação de opiniões. Também debateram a importância de capacitar mais jornalistas especializados em ferramentas digitais para expandir o alcance dos veículos e adaptarem-se como fontes de informações confiáveis e imparciais.

Sérgio acredita que os algoritmos se tornaram métricas de imposição para todos que possuem negócios online, a fim de garantir audiência. “Eu não chamaria isso de medida de sucesso, mas sim uma imposição das grandes empresas de tecnologia, que decidem como o jogo é feito e as empresas precisam se adaptar”, opina. O jornalista acredita que os algoritmos são inevitáveis, levando as empresas a fazer ajustes em suas próprias plataformas para competir com os ChatGPTs. No entanto, ele acredita que isso não resultará em melhorias nos conteúdos.

Fábio considera que a manipulação não ocorre o tempo todo, mas atualmente há uma perda de qualidade ao tentar encontrar palavras-chave para obter sucesso. O profissional acredita que não é possível fazer uma curadoria dos conteúdos, mas as BigTechs veem a desinformação como um modelo lucrativo.

Guilherme acredita que os algoritmos são inevitáveis atualmente, porém o jornalismo tradicional está lutando por atenção em várias plataformas, como o streaming e as redes sociais, incluindo o TikTok. Apesar da diversidade de opiniões, acredita-se que ele ficaria refém dos grandes modelos de linguagem. Na visão de Ravache, o que é necessário é uma educação midiática mais robusta no Brasil. “Acredito que as organizações jornalísticas devem abordar esse assunto”, opina.

Jeniffer Mendonça repórter da Ponte Jornalismo; Katia Brembatti, presidente da Abraji e Paula Litaiff, CEO da Revista Cenarium Amazônia debateram no painel “Por trás da história: Os desafios e oportunidades do jornalismo investigativo” os meios utilizados pela mídia regional para buscar e verificar informações, as ferramentas disponíveis para os profissionais e seu papel essencial na promoção da transparência e responsabilidade. As speakers demonstraram que, mesmo com recursos limitados, é possível realizar reportagens investigativas impactantes.

Durante o painel, os jornalistas debateram como escolher um foco diante da infinidade de acontecimentos e informações que a atividade jornalística trabalha. Katia Brembatti lembra que o jornalismo investigativo não se resume apenas a denúncias, mas também a apontar caminhos, apresentar panoramas e cenários.

Jennifer recorda a cobertura da Ponte Jornalismo durante os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips no ano passado, quando estavam trabalhando em uma matéria jornalística.

Paula Litaiff, localizada em Manaus, relembra a cobertura da Revista Cenarium durante a pandemia da Covid-19, destacando que houve assédio judicial por parte de atores políticos. Uma pessoa processou a revista 15 vezes. Paula destaca que as retaliações afetam o financiamento da produção. “Na região Norte, enfrentamos dificuldades para buscar alternativas além dos fundos públicos. O financiamento não deve ser concedido para aqueles que elogiam os gestores, mas sim para divulgar e informar a população”, ressalta.

A jornalista também relembra que, antes da crise Yanomami, em que algumas etnias foram extintas devido ao descaso governamental, veículos locais já produziam reportagens sobre o assunto. “Durante a apuração, tivemos jornalistas ameaçados por garimpeiros. Portanto, além de nos preocuparmos com o financiamento, também devemos nos preocupar com vidas”, lamenta.

Katia Brembatti complementa que, apesar de serem frequentemente cobrados para produzir reportagens investigativas, os jornalistas precisam se precaver para evitar consequências físicas.

No painel “Acredito em você? Como reconstruir a confiança do público na imprensaJuliana Dal Piva, colunista e repórter investigativa da UOL;  Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte do Grupo RBS, e Sérgio Gomes, diretor de operações da OBORÉ Projetos Especiais conversaram sobre os próximos passos na difícil tarefa de recuperar a confiança do leitor. Discutiram soluções práticas para reconstruir essa relação, destacando a importância da mídia como ferramenta de prestação de contas, bem como abordaram os caminhos para manter a imparcialidade e independência da imprensa.

Juliana Dal Piva acredita que essa é a questão que permeia o jornalismo atual: recuperar a confiabilidade na imprensa tradicional, que nos últimos anos foi deteriorada muitas vezes por agentes públicos. “Há um movimento internacional de descredibilização da imprensa pelas plataformas sociais, e a mentira tornou-se uma arma política poderosa.”

Sérgio Gomes afirma que, na era da informação, há um excesso de informações, mas é preciso valorizar o jornalismo profissional e se atentar à formação de novos jornalistas. Marta Gleich compartilha da mesma opinião e aponta o jornalismo de soluções como um novo caminho, possível, para a imprensa.

Essa nova forma de jornalismo traz uma perspectiva mais positiva e busca destacar as iniciativas e projetos que contribuem para solucionar problemas. Nessa forma de levar informações procura investigar e apresentar alternativas concretas e inspiradoras, promovendo um diálogo construtivo com a participação do público. Em vez de focar apenas nos aspectos negativos, o jornalismo de soluções destaca histórias de sucesso, inovações, boas práticas e soluções criativas que estão sendo implementadas em diferentes áreas, porém sem deixar de lado os outros assuntos. “O jornalismo pode ajudar a valorizar o trabalho dos profissionais e reconectar-se com o público, o que pode ampliar a confiança na imprensa”, opina Marta. 

Em “Te dou um dado? Como inserir o jornalismo de dados no dia a dia da redação” com a participação de: Guilherme Felitti, cofundador na Novelo Data; Jamile Santana, coordenadora da Escola de Dados, programa da Open Knowledge Brasil e Renata Tomaz, professora e coordenadora de graduação da FGV/ECMI, foi discutido técnicas e ferramentas acessíveis para coletar informações de forma precisa, cuidados na verificação das fontes e dos dados apurados, estratégias de interpretação e desafios relacionados à integração dessas práticas na rotina da redação. Os jornalistas também destacaram a importância da capacitação especializada nessa área.

Renata aponta para uma modalidade pouco explorada no campo do jornalismo, que é o saber garimpar dados. A profissional afirma que este modelo de informação pautado em dados não surge em busca da exclusividade, como ocorre com outras formas de matérias, mas sim na busca por completar e traduzir informações para o leitor. “No jornalismo de dados, é uma modalidade que nos faz repensar a maneira de produzir notícias”.

Jamile relata que começou a se interessar pelo jornalismo de dados nas redações, e através da Escola de Dados, na qual coordena, oferece capacitação não apenas para jornalistas, mas para todos que se interessam pela busca de dados e informações. “Depois que comecei a ver os dados como ponto de partida para uma boa história, e não a própria história, percebi que conseguimos trazer mais imediatismo e fazer perguntas melhores”, lembra.

A capacitação de jornalistas para compreender dados e mecanismos de busca ainda é pouco explorada nas redações, acredita Felitti. Para o jornalista, ainda é necessário “ter a capacidade de filtrar e encontrar, é algo que ainda precisa ser treinado”.

Outro momento marcante do evento foi o painel “Estamos ao vivo A revolução da cobertura em tempo real pelas redes sociais”, jornalistas e especialistas discutiram a adaptação das redações a essa nova realidade. Ana Paula Couto, jornalista ex-apresentadora de telejornais na GloboNews e TV Cultura; Julia Pontes, analista de comunicação, autora da dissertação “Sensacionalismo e Violência no Contexto da Indústria Cultural” na UFG e Tiago Abech, editor-chefe da CNN Brasil Abordaram os impactos dos cortes e reconfigurações das equipes nessa forma de trabalho, bem como a responsabilidade e precisão dos fatos na cobertura de notícias em tempo real.

A transmissão ao vivo é o principal diferencial na cobertura atual, acredita Abeth. Atualmente, na visão do jornalismo, há mais rodas de conversa do que transmissão de notícias. “Nessa pressa de colocar informações no ar, que carece de informação, acabam surgindo informações incorretas.”

Nos últimos anos, o cenário jornalístico tem passado por grandes transformações. Com a ascensão das redes sociais e a facilidade de acesso à informação, a jornalista Ana Paula Couto afirma que “Há 5 anos, a notícia era mais forte, hoje vemos muita opinião e pouca notícia, pouca imagem, e hoje vemos muita mesa redonda.” A jornalista aponta uma possível causa para essa mudança: “Na minha visão, além de uma decisão editorial, também há uma redução de custos.” A questão econômica pode estar interferindo na maneira como as notícias são apresentadas, priorizando conteúdos mais baratos de serem produzidos, como mesas redondas, em detrimento da reportagem jornalística tradicional.

Julia aponta que a velocidade com que as transformações chegam ao público influencia a maneira como consumimos informações. Para a pesquisadora, o jornalismo fica refém das relações de mercado, principalmente devido à disputa pela atenção do leitor, o que leva ao sensacionalismo e aos erros. “Às vezes nos questionamos sobre o que a notícia relevante se tornou, se é sobre relevância social ou sobre o que vai vender”, acredita.

No último painel do dia, “É fato ou fake? Técnicas de checagem para quem não tem budget ou equipe”, Fernanda Dabori, CEO da Advice Comunicação Corporativa; Juliana Fernandes Teixeira, docente do Departamento de Comunicação Social (UFPI) e do PPGCOM (UFC); e Mônica Fort, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens na UTP, compartilharam suas experiências na identificação de informações falsas. Discutiram as boas práticas utilizadas por grandes veículos, que podem ser reproduzidas sem grandes investimentos, bem como os desafios enfrentados por veículos menores nessa tarefa. Também abordaram oportunidades de convênios e parcerias com agências de checagem, ferramentas gratuitas disponíveis, e a importância de promover a educação midiática do público.

Durante o debate, as profissionais destacaram algumas estratégias fundamentais para identificar e combater as fake news. Juliana Fernandes Teixeira destaca que muitas pessoas acreditam em fake news porque têm predisposição para identificar “informações com vários pontos de exclamação, ir em veículos de informações tradicionais, ter esses cuidados, mas também é necessário ter educação midiática para solucionar esse problema”, apontou.

Outro ponto levantado foi a importância de checar a data de publicação da notícia. Muitas vezes, informações antigas são repostadas como se fossem recentes, causando confusão e desinformação. “Nós somos cada vez mais, ao mesmo tempo que somos cada vez menos. A educação midiática é cada vez mais importante”, analisa Mônica.

O 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário continuará nesta terça-feira, 25, com mais oito painéis para discutir os principais assuntos que permeiam o jornalismo e os profissionais da área.

Assista ao primeiro dia aqui

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O evento conta com uma ação beneficente de arrecadação de recursos em prol da Casa Hope, instituição de apoio biopsicossocial e educacional a crianças e adolescentes de baixa renda com câncer.

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