Jornalismo profissional é o que faz a diferença na credibilidade

O tema fake news e credibilidade da mídia fará parte de um painel no 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário

A credibilidade da imprensa foi colocada em xeque nos últimos anos. Entretanto, essa desconfiança ficou restrita a grupos políticos que proliferaram fake news e atacavam jornalistas nas ruas e virtualmente por divulgar notícias que não batiam com suas crenças negacionistas.  Esse assunto será discutido no  5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, que acontece na próxima semana, dias 24 e 25 de julho. E dentro do painel Acredito em você? Como reconstruir a confiança do público na imprensa, dia 24 de julho, das 17h04 às 17h44, com a participação de Sérgio Gomes, diretor de Operações da OBORÉ Projetos Especiais; Juliana Dal Piva, colunista e Repórter Investigativa da UOL; e Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte do Grupo RBS

Sérgio Gomes, do OBORÉ

Sérgio Gomes, que foi um dos curadores do Prêmio Audálio Dantas, que destacou jornalistas dedicados a questão dos direitos humanos e na indignação perante a injustiças, concorda que vivemos nos últimos anos numa campanha institucional, governamental contra jornalistas e veículos de imprensa, que resultou na agressão de jornalistas nas ruas e nas redes sociais pelo simples fato de estarem exercendo sua profissão e relatando fatos. Por outro lado, ele avalia que a cobertura da imprensa piorou nos últimos anos, onde se privilegia a opinião e pouco a reportagem. “Hoje se pratica um jornalismo preguiçoso e falta reportagem”, critica.

Ele cita como exemplo o fato dos jornais terem publicado que menos de 3% da população foi vacinada com a dose de reforço contra a Covid-19, e um número pequeno de crianças estão sendo vacinados para os mais diversos problemas. Isso aliado ao negacionismo, praticado nos últimos quatro anos pelo governo Bolsonaro, produziram marcas profundas na sociedade e alimentou um descrédito pelas instituições democráticas, como o jornalismo, a ciência, e a universidade. “Recuperar a credibilidade é um desafio de todos nós e para isso precisamos melhorar a cobertura das notícias e apurar fatos que sejam relevantes e pertinentes para a sociedade”, recomenda.

Polarização e desinformação

Marta Gleich_ da RBS (Foto: Divulgação/Raul Krebs)

Marta Gleich,  da RBS, avalia que, “em um cenário mundial de fenômenos como news avoidance, radicalizações e polarizações, desinformação e pulverização de fontes de notícias a imprensa pode ter sofrido como um todo, mas tenho certeza de que, pontualmente, veículos que praticam o jornalismo profissional só têm a ganhar pontos em credibilidade”. Esses veículos, que seguem o método jornalístico, buscam a verdade, que apuram, checam, verificam, utilizam fontes confiáveis, esclarecem desinformações que são espalhadas por aí e só publicam as notícias depois de ouvir fontes confiáveis, são os portos seguros de telespectadores, ouvintes, leitores usuários na busca de informações confiáveis. “É preciso, neste cenário, reforçar junto ao público, com transparência, os critérios de cada veículo, para diferenciar fontes de desinformação das fontes confiáveis. E isso é parte do nosso trabalho”, recomenda.

Para tratar desse problema na RBS, Marta diz que “o movimento mais recente que fizemos neste sentido foi a criação do Conselho Editorial, a partir de uma iniciativa do nosso publisher Nelson Sirotsky. Em agosto de 2022, um Conselho formado por pessoas de dentro e de fora da RBS passou a contribuir com os desafios editoriais dos nossos veículos, com o objetivo de qualificar nosso conteúdo, enfrentar grandes e pequenos problemas da nossa indústria e atuar de forma a atender ainda melhor aos nossos públicos. É deste trabalho que pretendo falar no fórum”, adianta.

O que mais tem sido feito para combater as fake news na RBS? Ela é enfática ao dizer que as rake news, “que eu prefiro chamar de desinformação, porque não se pode chamar de news algo que é fake, são combatidas diariamente por nossas redações de diversas formas. A checagem desses conteúdos falsos e o esclarecimento do público em relação à verdade precisa estar na pauta diária de qualquer redação. É nossa responsabilidade”.

Juliana, do UOL, uma das jornalistas homenageadas no Prêmio Audálio Dantas, e participante do painel na próxima semana, publicou muitas matérias em sua coluna com denuncias contra o governo Bolsonaro. Por isso foi vítima de muitas hostilizações e até ameaças. Inclusive uma mensagem de WhatsApp, enviada para a coluna da jornalista por Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, dizendo, entre outros ataques, sugerindo que ela se mudasse para a China: “Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”. Ela tem declarado em seus comentários na mídia que não deixa de trabalhar em ambiente hostil, mas tem evitado coberturas ao vivo e as vezes nem se identificar como jornalista.

Opinião da área corporativa

Ouvimos também duas empresas apoiadora do Fórum, a agência Planin e a Rhodia-Solvay sobre essas questões que afetam o jornalismo hoje.

Angélica Consiglio, da Planin

Segundo Angélica Consiglio, CEO da Planin, “as redes sociais mudaram a dinâmica do planeta, que tinha apenas a Imprensa como canal de divulgação e propagação de informações. Com bilhões de pessoas comentando sobre os temas mais diversos, a Imprensa começou a dividir o palco com esses novos canais de comunicação. Porém, mesmo assim, a Imprensa mantém uma posição de destaque e de relevância mundial. Entendo que para não perder credibilidade diante da opinião pública, a Imprensa tem alguns desafios pela frente como ser ainda mais criteriosa na produção de matérias e mais cuidadosa na propagação de informações”

Sobre o trabalho das assessorias em defesa da imprensa profissional, Angélica diz que “a Imprensa continua sendo o Quarto Poder pela importância que possui e pela capacidade de influenciar todos os públicos de interesse para temas que são relevantes para as empresas. As marcas brasileiras sabem da importância da Imprensa e entendem, também, que suas estratégias de comunicação precisam contemplar o meio digital para gerar uma aproximação ainda mais com os clientes, que antes não tinham sequer canais de relacionamento para expor suas ideias e problemas. Fake News precisam ser rapidamente combatidas”.

Ainda sobre as fake news, Angélica avalia que “são resultado da Era da Pós-Verdade, na qual cada indivíduo tem uma opinião considerada como verdade absoluta. Temos milhões e brasileiros criando conteúdos diariamente por suas redes sociais e uma grande parte desse conteúdo traz apenas um lado da informação, ou traz um dado distorcido a partir da visão de cada pessoa.

Luciane Nogueira, da Rhodia/Solvay

Luciane Nogueira, gerente de comunicação da Rhodia/Solvay, avalia: “É fato que a polarização político/ideológica registrada na última década no mundo, amplificada pelo uso distorcido das mídias sociais, teve como efeito um certo descrédito dos meios tradicionais de informação. O objetivo dos que promovem essa polarização é esse mesmo – colocar no mesmo cesto o que é fato e o que é fake (mentira), para atender aos seus interesses particulares. Procuram fazer com que o público consumidor de informação comece a duvidar cada vez mais da apuração jornalística e passe a tratar qualquer informação como uma peça de marketing que atende esse ou aquele interesse do emissor da comunicação”.

“Penso que uma solução possível para separar o falso do verdadeiro é exercer cada vez mais o ‘bom senso’, avaliar com critério as informações e se possível buscar outras fontes para investigar a informação que se consome via imprensa tradicional, em todos os meios, sejam impressos ou eletrônicos. Lembro também que os meios jornalísticos sérios têm investido recursos para se proteger da proliferação de mentiras que, ao final, podem acabar com seu negócio de oferecer informação ao público”.

A respeito do que pode ser feito no mundo corporativo, das assessorias de comunicação de empresas para minimizar o problema, Luciane diz que as organizações, de um modo geral, estão atentas à evolução dos negócios de comunicação,  à  ampliação dos canais de disseminação de informação e da relação com a imprensa. Procuram empenhar seus recursos de marketing, publicidade e patrocínios naqueles veículos que são referência em reputação jornalística, independentemente do nicho de comunicação em que atuam, seja na mídia em geral seja na chamada mídia especializada.

“Fake news são um problema para a sociedade em geral”, continua a gestora. “No ambiente corporativo e com a comunicação na era digital, um dos maiores desafios é contarmos com estruturas capazes de responder rapidamente à disseminação de notícias falsas sobre a empresa, o que ajudaria a combater uma possível crise. Indo um pouco além, é papel da área de comunicação orientar a liderança em relação à forma de consumir conteúdo, ou seja, treinar nossos líderes para que a busca de informações sobre negócios e  mercados de interesse seja realizada de forma segura, nos veículos que têm a credibilidade como marca registrada.  Como profissional de comunicação, entendo que a única forma de enfrentar essa ‘praga’ dos tempos atuais é continuar comunicando com transparência, defendendo a reputação da empresa e, quando for o caso, tomar as medidas previstas na legislação de cada país onde a empresa tem presença industrial e comercial”

 

———————————————————————————————————————–

O evento conta com uma ação beneficente de arrecadação de recursos em prol da Casa Hope, instituição de apoio biopsicossocial e educacional a crianças e adolescentes de baixa renda com câncer.

———————————————————————————————————————–

OFERECIMENTO:

     

               

     

     

 

 

Conteúdo RelacionadoArtigos

Próximo Artigo

Portal da Comunicação

FAÇA LOGIN ABAIXO

Recupere sua Senha

Por favor, insira seu usuário ou email