As questões ambientais entraram na pauta do desenvolvimento sustentável por parte da gestão empresarial. Organizações privadas perceberam que tem muito a contribuir com o tema e assim minimizar o passivo do meio ambiente deixado por várias gerações e que agora se agrava; estamos no limite da segurança planetária, segundo alguns especialistas. O assunto, que faz parte do “S” do ESG, foi discutido no primeiro dia do Fórum ESG e Comunicação, promovido pelas Plataformas Negócios da Comunicação e Melhor RH.
Denise Carvalho, sócia-fundadora da Agência Blue Chip, conduziu a discussão intitulada “A hora S”, com os speakers Bruno Assami, diretor executivo da Unibes Cultural e Julio Cesar Cintrão, docente do Senac-SP.
As empresas comprometidas em promover um impacto positivo e principalmente serem catalisadoras de uma revolução social, econômica e sustentável tem focado seus esforços para programas voltados para as comunidades em que atuam.
Os participantes no painel trouxeram reflexões sobre a importância do “S” dentro das metas da empresa e como as companhias podem sensibilizar seu olhar para o gerenciamento do negócio. Denise começou lembrando que a agenda da sustentabilidade tomou conta das empresas, algo que reflete fora do seu ambiente de negócios, mas elas não se negam em contribuir com soluções: “A gente tem dados do Fórum Econômico Mundial que aponta o crescimento das desigualdades como um fator relevante para a instabilidade em todo o mundo, e as empresas podem ajudar de diversas formas”.
Desafios do século 21
Bruno Assami apontou os desafios do século 21, que exigirá muito de todos os atores da sociedade: “Não importa em qual agenda estamos falando, se estamos nos referindo a questões ambientais, questões de ameaças de guerras, de pobreza, concentração de renda de países, etc. As empresas não poderão estar fora disso, não apenas por uma necessidade do seu entorno ou sobre suas questões mais prementes e imediatas. É uma agenda coletiva da nossa sociedade global”.
“O desenvolvimento social é bastante importante na visão de todos os entes que compõe a sociedade, como as empresas, governos, e sociedade como um todo”, relaciona Julio Cintrão. Porque, ele continua, todos os envolvidos devem “gerar saídas criativas para superar esses problemas que são estruturais, que remonta desde a consolidação de nossa sociedade. É uma questão ancestral que está presente ate os dias de hoje”.
São cenários complexos e Cintrão propõe a busca de saídas criativas, empreendedoras, na geração de projetos. E os atores envolvidos devem atuar em rede. “São empresas conectadas que vão conseguir gerar essas saídas que tanto a gente fala”, sugere.
“No início do século 20 éramos 1 bilhão de habitantes no planeta, hoje o número chega a mais de 8 bilhões. É um crescimento para se pensarmos como alimentar, abrigar, vestir, toda essa população”, questiona Assami. Por outro lado, ressalta, “o PIB médio entre 1820 e 2010 aumentou 10 vezes, enquanto que a população aumentou sete vezes”. Será que isso significa que o mundo está mais rico? Assami responde que de certa forma sim, mas a distribuição de renda ficou concentrada em grandes países, como EUA (que concentra 30% da riqueza planetária); China e Japão. Com grandes concentrações de renda individuais. Os 50% mais pobres do mundo tem apenas 2% da renda mundial. “Com o ESG, pelo menos nas empresas de capital aberto, essa será uma agenda irreversível global. Só acho que estamos um pouco tarde, mas menos tarde do que nunca”, compara.
Demanda por mais produtos é questionada
O contexto e a história são importantes para compreendermos todos esses fenômenos. O professor do Senac destaque que os profissionais de marketing dos anos 90 falavam só em gerar demanda. Cada vez mais demanda, posição que é contestada hoje quando se coloca o tema sustentabilidade em menos produtos, com menos lixo, menos reposição de produtos, porque o planeta não suporta mais esses excessos. Julio Cesar propõe que as empresas pensem na área onde estão inseridas. Quem são as pessoas evolvidas na produção e consumo de seus produtos ou de seus serviços, além de seus fornecedores. “Olhar para o ser humano e gerar respostas humanas, perceber a atenção e a solução de problemas sociais, que estão presentes numa causa, num território, nessa área de atuação da empresa”, recomenda. E mais: “Precisa ser uma meta, um objetivo tal qual como o objetivo financeiro que a companhia precisa entregar para continuar existindo”.
Sao grandes desafios, qualifica Bruno Assami. “Cerca de 12% da sociedade está excluída do consumo, e ainda temos, no Brasil, 12 milhões de desempregados; uma população subutilizada de quase 27 milhões de pessoas,. A população fora do sistema de trabalho é de 105 milhões de indivíduos. A população desalentada, que não busca mais emprego, é de quase 5 milhões.
Denise coloca em debate a pressão por mudanças que parte muito dos consumidores, que exigem que as empresas adotem modelos sustentáveis de produção e que cuide melhor dos funcionários; e do próprio trabalhador, pressionando em suas reinvindicações. “Com o modelo híbrido de trabalho, a pessoa hoje escolhe onde quer trabalhar”, justifica, como uma nova carta na mesa.
Agenda da esperança
Cintrão fala em olhar os processos produtivos de maneira mais humanizada. “Já passamos da margem de segurança, a gente já vive o esgotamento, a crise climática, epidemias de doenças, psicológicas, ligadas as relações de trabalho”, critica.
Por isso Assami aborda o fato que a mudança deve ser um papel de todo mundo, e os problemas fazem as camadas mais vulneráveis sofrer mais. “Alem do grande desemprego, temos um número expressivos de pessoas vivendo na vulnerabilidade. Estamos dentro de uma grande panela de pressão”, alerta. “O significado do trabalho para a sociedade produtiva tem de mudar, encontrar novos modelos”. Tudo é um desafio coletivo, pondera. Um ufanismo que temos que acreditar. Somos a agenda da esperança”.
Acompanhe o evento no primeiro dia e no segundo dia.
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