Seja olho no olho ou a distância, a confiança é a base dos relacionamentos

A forma como nos relacionamos e fazemos negócios com as organizações sofreu transformações, em alguns casos, irreversíveis, mas certas coisas não mudam

Patricia Torres

Passados mais de dois anos desde o início da pandemia de covid-19, muitas organizações ainda estão passando por um momento de adaptação, tentando entender e absorver as mudanças que esse novo contexto trouxe.

Uma coisa já ficou clara há bastante tempo: existe um antes e um depois desse cenário. A forma como nos relacionamos e fazemos negócios com as organizações sofreu transformações, em alguns casos, irreversíveis. É bem verdade que algumas dessas mudanças – como, por exemplo, a digitalização – já estavam em curso e foram amplificadas ou aceleradas. Mas quando olhamos mais especificamente para a maneira como empresas e seus públicos se relacionam, vemos que novos desafios surgiram e outros cresceram em complexidade.

Em um estudo recente que liderei sobre relações de confiança, vimos como os desdobramentos dessas mudanças são uma preocupação da liderança. Para os líderes, em um contexto em que as interações nem sempre são presenciais, o principal desafio é aprimorar a comunicação com suas equipes (61% das respostas). Manter o engajamento dos colaboradores também é visto como um tema que merece atenção. Essas são questões que sempre estiveram no radar dos gestores e, segundo a opinião dos entrevistados, parecem ter sido potencializadas com uma nova realidade de formatos de trabalho a distância e híbrido.

Não existe uma receita mágica: cada organização tem uma cultura, práticas, ritos diferentes. E isso tem consequências para as interações – e para o nível de confiança construído nas relações. Quando olho esse resultado, eu não fico espantada, pois entendo que nem todas as empresas estão maduras para realizar a transição para um modelo de trabalho total ou parcialmente remoto, da noite para o dia. E isso vai gerar impactos na comunicação com os colaboradores e com o nível de engajamento.

Outro dado do nosso estudo mostrou que, para a maior parcela dos entrevistados (54,1%), a redução de interações presenciais não é, necessariamente, um obstáculo para a construção e manutenção de relacionamentos pautados pela confiança. Curiosamente, quando olhamos a percepção da liderança sobre o mesmo tema, a visão é diametralmente oposta: 59,3% dos entrevistados que integram esse nível hierárquico afirmaram que menos interações presenciais são, sim, uma barreira para o estabelecimento de relacionamentos confiáveis. Um aspecto interessante do nosso estudo é que esse é um olhar bastante particular da alta liderança (diretor, VP, CEO), pois 59,1% dos entrevistados da média gerência (coordenador, supervisor, gerente) não veem que a redução de interações presenciais traz prejuízos para a construção e a manutenção de relações confiáveis.

Para aqueles que enxergam que a distância é um obstáculo, o principal argumento apresentado foi que o contato presencial é essencial para o fortalecimento da cultura organizacional. Por outro lado, para quem vê que não existem grandes problemas no distanciamento, as relações exigem comportamentos claros para que a confiança seja estabelecida e mantida. Mais que o formato da interação (presencial ou remoto, tecnológico ou face a face), o diálogo e o compromisso com a transparência são os principais fatores para elevar o potencial de confiança.

Eu acredito muito que, como seres humanos, uma das nossas características mais fundamentais é manter o contato de proximidade. Nós precisamos disso, e não há nada de errado nisso. Mesmo com toda a tecnologia que temos à nossa disposição, o olho no olho ainda é importante e valorizado.

Da mesma forma, como gestora em áreas de comunicação por quase 20 anos, sempre cultivei uma forte crença no poder da confiança e de proporcionar autonomia para um time. Por isso, para mim o saldo da experiência de gerenciar equipes durante a pandemia, embora tenha apresentado seus desafios, certamente foi positivo. A verdade é que, a distância ou não, sem esses dois atributos – confiança e autonomia -, qualquer relação fica muito fragilizada.


Patrícia Torres é sócia e diretora de projetos da agência Tônica, tem 20 anos de experiência em gestão de áreas de comunicação de empresas de grande porte no segmento financeiro e de energia

Conteúdo RelacionadoArtigos

Próximo Artigo

Portal da Comunicação

FAÇA LOGIN ABAIXO

Recupere sua Senha

Por favor, insira seu usuário ou email