O resultado da iniciativa conjunta entre Fenapro, Abap (Associação Brasileira das Agências de Propaganda) e Abradi (Associação Brasileira de Agentes Digitais) é a pesquisa que demonstra o alto nível de tensão e estresse nas agências de propaganda, ou seja, a saúde mental dos publicitários. O levantamento possui como objetivo entender a visão das lideranças e medir a dimensão do problema.
A nova edição da pesquisa VanPro, que é um importante termômetro dos negócios e da gestão das empresas do setor, realizada pelo sistema Sinapro/Fenapro, aponta que os níveis de tensão e estresse nas equipes das agências de propaganda brasileiras são considerados moderados pela maioria das lideranças entrevistadas (48%), e são vistos como muito altos, segundo 23% delas. Os dados são relativos ao mês de setembro. Em outras palavras, 71% das equipes são impactadas, em maior ou menor grau, pelo problema, na visão das lideranças das agências. Em comparação, apenas 29% consideram o nível de tensão e estresse no trabalho baixo ou muito baixo.
Vale lembrar que aqueles que trabalham em um grupo de empresas com receita acima de R$ 10 milhões, possuem um maior nível de tensão. As agências que possuem o nível muito alto são 47%; como médio, 43% e como baixo, 10% das agências.
O clima organizacional: positivo ou negativo?
No entanto, o clima no ambiente de trabalho indicou resultados positivos: 70% das lideranças das agências entrevistadas avaliam como bom ou muito bom; 27%, como mediano, e apenas 3% como ruim ou muito ruim.
Um clima agradável no ambiente de trabalho é fundamental para uma boa saúde mental dos funcionários, visto que, segundo Elaine Di Sarno, Psicóloga e Neuropsicóloga, isso impacta no engajamento deles. “A Síndrome de Burnout decorre da exposição crônica a agentes estressores na qual a pessoa não dispõe de mecanismos de enfrentamento suficientes para confrontar tais agentes e assim acaba por desenvolver a síndrome. É um transtorno que se desenvolve gradualmente por conta de desajustes entre o trabalho e o indivíduo. Ele afeta homens e mulheres que vivem situações de estresse constante ou prolongado no ambiente de trabalho”, explica Elaine.
Elaine ainda reforça que a síndrome de Burnout pode ser decorrente, por exemplo, de uma carga horária excessiva, de um cansaço profundo e do clima no ambiente de trabalho. E nada que não se resolva apenas com descanso ou férias.
Motivação dos publicitários
Outro ponto indicado na sondagem é o nível de motivação. Segundo a pesquisa, é visto como expressivo: 41% das lideranças das agências o consideram alto ou muito alto; 50,5%, como médio e 8,5%, como baixo ou muito baixo.
Elaine alerta sobre a questão do alto nível de estresse relacionada a baixa motivação das equipes. Uma vez que a baixa motivação dos colaboradores pode gerar um clima negativo de trabalho nas agências e elevar o estresse da equipe.
“O estresse é uma doença crônica recorrente que, a longo prazo, pode ocasionar incapacidade para o trabalho, gerando custos, perda de renda vitalícia e aposentadoria antecipada, além do risco de suicídio. É caracterizado por fatores biológicos, apresentando-se como uma resposta inespecífica do corpo diante de exigências às quais está sendo submetido, manifestando-se de forma positiva (eustresse), que motiva e provoca a resposta adequada aos estímulos estressores, ou negativa (distresse), que intimida o indivíduo diante de situação ameaçadora, com predominância de emoções de ansiedade, medo, tristeza e raiva e depende da percepção do indivíduo em avaliar os eventos como estressores, portanto, o cognitivo tem papel importante no processo que ocorre entre os estímulos potencialmente estressores e as respostas do indivíduo a ele”, afirma Elaine.
De acordo com a pesquisa, entre os entrevistados que mencionaram estresse alto ou muito alto, somente 21% avaliam a motivação das equipes como alta ou muito alta. E entre as empresas que citaram estresse baixo ou muito baixo, 64% avaliaram a motivação das equipes como alta ou muito alta.
A prevenção é ponto chave na saúde mental
Para o presidente da Fenapro, Daniel Queiroz, é aconselhável que as agências realizem pesquisas de clima, a fim de avaliar se é possível um bom clima em um quadro de sobrecarga de trabalho, e porque o clima positivo não se reverte em motivação.
Elaine explica que a prevenção é fundamental quando falamos de como as empresas podem contribuir com uma boa saúde mental dos publicitários. “A prevenção é de fundamental importância porque enfatiza a dimensão humana e sinaliza os cuidados quanto ao respeito à saúde do trabalhador”.
Além de uma pesquisa de clima, outras práticas devem ser consideradas visando o colaborador. “Práticas gerenciais como: comunicação adequada, concessão de poder e participação, metas definidas, capacitação de funcionários e apoio às famílias podem contribuir para a saúde mental dos funcionários. Envolver os funcionários na estruturação de suas funções e fornecer capacitação e ferramentas necessárias para um desempenho eficiente, contribui para a melhoria da qualidade do ambiente de trabalho e da saúde mental dos funcionários”, complementa Elaine.
A pesquisa também identificou que o volume de trabalho no primeiro semestre foi inferior a 5% do quadro de colaboradores em 41% das agências. Enquanto, em 32% delas, o volume de trabalho ficou entre 5% e 15%, e, em 27% das agências, foi superior a 15% no primeiro semestre.
Perfil das agências entrevistadas
O perfil predominante dos participantes da sondagem VanPro é de agências full-service (96%), sendo 41% com faturamento até 1 milhão; 28% entre R$ 1 milhão e R$ 3 milhões; 10% entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões; 11% entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões e outros 10% acima deste patamar.
Grande parte dessas agências contam com mais de 20 anos de existência (39%) ou possuem entre 11 e 20 anos (37%); 91% são associadas ao Sinapro (Sindicato das Agências de Propaganda) de seu estado e 78% ao CENP (Conselho Executivo das Normas-Padrão).