Comunicação interna é felicidade em voz alta e escuta atenta

Entre palavras e gestos, a comunicação interna revela que felicidade organizacional não é promessa, mas construção contínua feita de escuta, coerência e presença

uem nunca se sentiu aliviado ao ter a certeza de que seus personagens favoritos foram, sim, felizes para sempre? É reconfortante saber que, no fim, deu tudo certo. Mas essa sensação de plenitude acaba sendo equivocada por dois motivos: primeiro, porque coloca a felicidade como desfecho; e segundo, porque faz parecer que ela é um estado permanente após superarmos os infortúnios. Definitivamente, algo de errado não está certo. Trazendo isso para o universo da comunicação interna, a gestão da felicidade não pode ser tratada como um mero “final feliz”, e sim como uma construção contínua, feita de escuta, coerência e propósito vivido no dia a dia.

Não faz tanto tempo que a comunicação com colaboradores era vista como uma espécie de “arauto das boas notícias”, responsável por anunciar promoções, eventos e novos benefícios no pacote. E, por um tempo, isso bastou. Até dava a impressão de que a felicidade morava ali, entre um comunicado e outro. Mas bem sabemos que o papel da área é bem mais profundo do que isso. Tem a ver com sustentar, todos os dias, a cultura e o clima que permitem que o bem-estar exista de verdade dentro das organizações.

Euforia constante ou construção diária?

Já parou para pensar que positividade em excesso também pode ser tóxica? A narrativa da felicidade, quando mal dosada pela comunicação interna, corre o risco de soar vazia se não houver conexão com a realidade vivida pelas pessoas. Falar de felicidade é, também, falar das dificuldades, porque ninguém é permanentemente feliz, como nos contos de fadas. Victor Nascimento, coordenador de Comunicação da Seagems, um dos principais players do setor de óleo e gás, prefere nem usar o termo “felicidade” por acreditar que passa a falsa sensação de euforia constante – e o trabalho, como a vida, é feito de altos e baixos.

Para ele, faz mais sentido falar em bem-estar e qualidade do ambiente. “Não buscamos um cenário em que nossos empregados sejam ‘felizes o tempo todo’, todos os dias. Mas queremos sempre que entendam o quanto a empresa pode ser acolhedora e compreensiva mesmo nos momentos em que não dá para ser feliz”, reflete. O que ele quer dizer é que o conceito de bem-estar acaba sendo mais amplo e significativo por integrar elementos como transparência, cuidado, harmonia e humanidade, que precisam ser trabalhados todos os dias para que a tal da felicidade seja possível. “É uma construção, não um estado”, acrescenta.

comunicação interna e felicidade corporativa
Victor Nascimento, da Seagems 2

Ser feliz não exclui conversas difíceis

Nesse cenário em que a felicidade é encarada como um processo, Victor acredita que a comunicação interna tem um papel essencial ao criar espaços para conversas francas e seguras. Afinal, quando o discurso pinta tudo em tons de rosa, os problemas acabam sendo vistos quase como falhas – e ninguém acaba falando sobre eles.

Segundo o coordenador, cabe à comunicação garantir que as pessoas se sintam seguras para pedir ajuda, compartilhar dificuldades e seguir produtivas. Na Seagems, um exemplo disso é o Programa de Educação Emocional, iniciativa que abre espaço para temas como ansiedade, estresse e depressão, oferecendo acolhimento a quem precisa.

De fato, dependendo de como a história é contada, os desconfortos que nos desafiam diariamente podem acabar sendo silenciados. Imagine só: em uma empresa ideal, onde a felicidade corporativa parece tangível, não haveria espaço para problematizar a vida real. O resultado disso é um silêncio amargurado disfarçado de sorriso amarelo.

Para Graziela Pereira, diretora regional de People da Thoughtworks LATAM, referência global em consultoria de tecnologia, esse tipo de postura apenas mascara os desafios reais das organizações. “Felicidade no trabalho é sobre se sentir desafiado, sentir pertencente, sentir que suas forças são importantes para o contexto em que está, se sentir reconhecido. É sobre entender o negócio da empresa e saber que as suas atividades contribuem para alcançar os objetivos”, explica. Em outras palavras, felicidade não é ausência de problemas, mas a existência de um ambiente que permite ao colaborador sentir-se bem, mesmo quando os desafios aparecerem.

A fórmula da felicidade

No caso da Thoughtworks, a chamada “fórmula da felicidade” passa longe de qualquer ideal de perfeição. Como explica Graziela, o segredo está em equilibrar autonomia e responsabilidade, com a comunicação interna atuando como base desse ambiente positivo. “Compartilhamos informações de forma transparente, respeitando os níveis adequados de acesso, para que as pessoas compreendam o contexto dos resultados e se sintam corresponsáveis por eles”, destaca. A clareza, nesse processo, é um ingrediente indispensável. Quando as pessoas entendem os porquês do que fazem, o propósito do que entregam e o contexto em que estão inseridas, o engajamento vira algo natural.

Para Graziela, é justamente esse olhar coletivo e colaborativo que sustenta o equilíbrio entre desempenho e bem-estar, especialmente em tempos desafiadores. Quando a responsabilidade precisa ser compartilhada sem comprometer o clima de confiança, a forma de comunicar faz toda a diferença. “Uma prática que adotamos é realizar conversas difíceis em pequenos grupos, a fim de captar feedbacks e perceber como as mensagens são recebidas, antes de definir o tom e a abordagem para toda a empresa. Esse processo funciona como uma medida de cautela e de cocriação, que nos ajuda a comunicar com mais empatia, consistência e impacto”, conta. Não à toa, a comunicação interna é o que confere contexto e transparência a esse diálogo, abrindo espaço para a escuta genuína e a troca de ideias. “Felicidade no trabalho nasce da coerência entre discurso e prática. Comunicar bem é viver bem o que comunicamos.”

Comunicação conecta clima emocional, propósito e cultura

Não é novidade que comunicar está na base de tudo o que é humano. E se comunicar bem é o que nos move para frente, dentro das empresas isso se traduz em algo ainda maior: o diálogo que amplifica o que a cultura tem de melhor. Victor Nascimento, da Seagems, recorre à própria origem da palavra para explicar o traço comunitário que define a área – do latim communicare, que significa “tornar comum”. Para ele, a comunicação interna é justamente esse ato de traduzir ideias, sentimentos e valores em atitudes perceptíveis ao grupo. “Por isso fazemos questão de trabalhar uma comunicação relacional, presente em cada espacinho da empresa, buscando ouvir, acolher, criar junto e celebrar as conquistas de todos”, reforça.

Entretanto, em uma empresa como a Seagems, que vive entre o porto e o alto-mar, com três escritórios e seis navios, manter a conexão entre os times exige uma boa dose de sensibilidade. Na prática, metade da equipe está embarcada, a outra em casa, e entre os embarcados, parte está na ativa enquanto o restante descansa. Desafiador? Sem dúvida. Afinal, todos precisam remar na mesma direção, o que torna ainda maior a responsabilidade da comunicação interna em traçar a melhor rota para a felicidade. Por lá, comunicar vai muito além de informar: é fazer com que cada pessoa se reconheça na cultura da empresa. “Nosso propósito é que sejamos sempre uma só empresa, na mesma página e na mesma sintonia. Performance no trabalho e felicidade na vida não são excludentes”, afirma Victor.

Felicidade é bem-estar no cotidiano

Do mesmo modo é desafiador comunicar bem com colaboradores remotos, como no caso da Thoughtworks. Segundo Graziela Pereira, em um contexto mediado por excesso de telas, estabelecer uma conexão genuína demanda um trabalho extra da comunicação interna para criar e aprofundar vínculos. “Acreditamos que, por meio de estratégias consistentes de comunicação, fortalecemos o engajamento e o senso de pertencimento das nossas pessoas, ao mesmo tempo em que reforçamos os valores que acreditamos e o futuro que queremos construir juntos”, reflete, destacando que a área de Talent trabalha em parceria com o time de comunicação para que os temas de negócio, cultura e bem-estar caminhem juntos.

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Graziela Pereira, da Thoughtworks

Para Graziela, esse pareamento é essencial para fortalecer uma cultura genuinamente vibrante, em que a felicidade se traduz em bem-estar vivido no dia a dia, com a comunicação interna atuando como fio condutor que conecta, valoriza e dá sentido à experiência das pessoas. “Aqui, as estratégias de comunicação são construídas com base em diálogos abertos, feedbacks constantes e práticas colaborativas, em que as pessoas participam ativamente da criação de mensagens e iniciativas”, explica a diretora regional de People da Thoughtworks LATAM.

Diferentes pessoas em diferentes contextos

Falando em conexão, alinhar pessoas diferentes em contextos diversos continua sendo uma das tarefas mais complexas dentro de qualquer organização. Ainda assim, a diversidade tem muito a oferecer a quem escolhe abraçá-la, especialmente quando o happiness management consegue transformar essa pluralidade em vantagem competitiva. Já falamos, em matérias anteriores, sobre o desejo que todos temos de fazer parte de algo maior e significativo, mas sem abrir mão da própria identidade para isso. Graziela argumenta que, quando uma cultura organizacional realmente acolhe a diversidade e faz da comunicação interna uma aliada estratégica, a felicidade impulsiona a inovação, o engajamento e colaboração. “Esse senso de propósito compartilhado é o que transforma o bem-estar em vantagem competitiva.”

Na prática, falar em bem-estar pode soar abstrato até para os mais convictos de que existe um final feliz, mas os princípios são bem claros. Victor Nascimento, da Seagems, complementa a reflexão adicionando que “pessoas que se sentem cuidadas, permanecem, inovam e se comprometem mais” – e a cultura da empresa comprova isso. Cerca de 45% dos profissionais offshore começaram sem experiência prévia e foram formados internamente. Quase metade da equipe tem mais de seis anos de casa e 20% já ultrapassou uma década. Para ele, essa permanência revela algo que vai além de números: um ambiente que inspira confiança, aprendizado e pertencimento. Afinal, como ele próprio resume, o happiness management, aliado a uma comunicação autêntica, “transforma o bem-estar em valor tangível”.

Apoio ou cobrança? A linguagem da felicidade

Além disso, a forma como uma mensagem é dita – e a frequência com que ela é repetida – pode definir se o colaborador se sente apoiado ou cobrado. No fim das contas, a linguagem da felicidade é feita de nuances: o tom, o ritmo e o contexto das comunicações internas podem tanto fortalecer vínculos quanto minar a confiança de uma equipe inteira.

Entre líderes e equipes, o tom certo é aquele que combina transparência e escuta, equilibrando informação e conexão. Mensagens guiadas por empatia, com espaço para o diálogo e o feedback, ajudam a sustentar vínculos e a evitar que a rotina vire um simples checklist de entregas. É o tipo de comunicação que não fala para, mas com as pessoas, criando espaços de troca e aprendizado mútuo. Como lembra Graziela Pereira, da Thoughtworks LATAM, “buscamos sempre uma linguagem aberta ao diálogo e guiada por uma escuta empática”. Por isso, cada interação, das conversas com lideranças aos fóruns coletivos como os All Hands, é pensada para comunicar com sentido, e não apenas com constância.

No ritmo da diversidade

Essa mesma atenção ao tom aparece na fala de Victor Nascimento, da Seagems. Ele lembra que o impacto de cada mensagem depende do público e do contexto, e que a coerência entre discurso e prática é o que mantém a confiança. “Temos uma diversidade grande de perfis e realidades, e isso exige que a comunicação respeite o ritmo das pessoas e as estratégias da companhia, sem deixar de considerar a humanidade dos nossos públicos”, diz. Na empresa, a escolha é por uma linguagem transparente e empática, que mostra o valor humano por trás de cada entrega. “Menos volume, mais sentido” resume a filosofia que transforma a comunicação em espaço de diálogo, e não de pressão. O resultado é uma prática de cuidado que mantém o clima saudável e reforça o propósito comum.

 

O papel da comunicação interna na interpretação da felicidade

Mas, afinal, dá mesmo para medir felicidade? Em tempos em que tudo vira dados, o risco é confundir indicadores com emoções e deixar escapar o que realmente importa: o significado das relações humanas. E é justamente nesse ponto que a comunicação interna tem muito a contribuir no papel de intérprete, transformando dados em histórias e ações concretas.

Mais do que simplesmente medir o bem-estar, o desafio é sentir o que os números tentam dizer. Como explica Victor Nascimento, o valor de uma pesquisa está no que acontece depois dela. A Seagems aplica trimestralmente o Pulso de Felicidade, uma análise rápida que acompanha o estado emocional das equipes e identifica tendências de humor organizacional. Mas o diferencial está no pós-avaliação: “Os resultados são transformados em planos de ação trabalhados junto às áreas de RH, Comunicação e Operações”, explica. Ao devolver os achados às equipes e mostrar as melhorias geradas, a empresa reforça a ideia de que cada resposta tem peso real e que cuidar das pessoas é um compromisso contínuo, não um bordão.

Na Thoughtworks, essa escuta, além de ser igualmente constante, ganha forma em práticas colaborativas. Além de pesquisas de engajamento e confiança, há grupos focais, check-ins de feedback, Q&As com a liderança e conversas abertas sobre carreira e estratégias do negócio. Tudo para captar nuances que os números não mostram, como o senso de propósito e o sentimento de pertencimento. Graziela Pereira resume bem esse papel ao dizer que a comunicação “transforma dados em significado, transmite confiança e dá voz às pessoas para que se expressem com autenticidade”.

Epílogo

No fim, é esse movimento, de ouvir, traduzir e devolver, que faz da comunicação interna uma das pontes mais poderosas entre felicidade e estratégia. Mas, aqui, vale o lembrete: o “felizes para sempre” só existe em contos de fadas. No mundo real, o bem-estar se constrói aos poucos, nas conversas que geram confiança e nos gestos que, dia após dia, reafirmam que as pessoas importam.


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