Com a reflexão central sobre a importância de superar paradigmas ultrapassados, enfatizando que avanços tecnológicos só fazem sentido quando aliados a uma mentalidade moderna e inclusiva, o 4º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão – Conexão com um Novo Tempo reuniu, em novembro, lideranças de Recursos Humanos, especialistas e profissionais da área para discutir os desafios e avanços no campo da inclusão.
O evento destacou, entre outros temas, como a gestão de mudanças pode promover a convivência harmoniosa de ideias, comportamentos e experiências, evidenciando que a diversidade é uma fonte de inovação para práticas e pensamentos. Promovido pelas Plataformas Negócios da Comunicação e Melhor RH e pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação, o encontro aconteceu de forma on-line e gratuita.
Um dos destaques foi painel “Flexibilidade que Inclui – As possibilidades do home office para mulheres e PCDs”, que contou com a participação de Bia Diniz, fundadora da ONG Cruzando Histórias; Maria Paula Oliveira, diretora de Gente, Jurídico e Compliance na LG lugar de gente; e Almiro dos Reis Neto, consultor e professor da FGV. O momento trouxe insights sobre como o trabalho remoto pode beneficiar minorias, ao mesmo tempo em que ressaltou os desafios culturais e estruturais de adaptação a essa nova realidade.
Olhar humano na inclusão
Bia destacou a necessidade de processos seletivos mais humanizados, considerando a realidade de grupos vulneráveis, como mulheres e pessoas com deficiência (PCDs). Segundo ela, “a inclusão é entender a realidade do outro, especialmente em processos seletivos e no onboarding. Devemos adotar uma perspectiva mais humana, levando em conta os avanços tecnológicos e as mudanças significativas trazidas pela pandemia”.
Ela também enfatizou que muitas empresas ainda não incorporaram as transformações exigidas por um mundo em constante mudança. “Os clientes preferem empresas que tratam melhor a diversidade”, afirmou, reforçando o valor de uma gestão alinhada com os novos paradigmas sociais.
Conscientização da liderança
Maria Paula ressaltou que a diversidade e a flexibilidade exigem a conscientização e o engajamento da liderança. “Não existe um manual único para isso. Cada empresa tem sua realidade, e estamos em um processo de tentativa e erro, aprendendo o que funciona ou não”, explicou.
Ela também mencionou o desafio de manter a cultura organizacional no modelo remoto. “A cultura é aprendida no dia a dia, nos encontros casuais e momentos de troca presencial. Reproduzi-la no ambiente remoto é complexo, mas necessário”, disse, destacando o papel do RH em treinar equipes e líderes para gerir o tempo e as relações de maneira eficaz.
Apoio tecnológico
Reis Neto compartilhou experiências de adaptação tecnológica, lembrando que o trabalho remoto foi uma mudança significativa para as empresas e para as populações vulneráveis. “As mulheres, que ainda acumulam mais responsabilidades familiares, e os PCDs, que enfrentam dificuldades de deslocamento, ganharam qualidade de vida e tempo graças às possibilidades tecnológicas”, pontuou.
Ele também destacou o papel das empresas em apoiar essas mudanças: “Durante a pandemia, muitas companhias forneceram equipamentos e adaptações para colaboradores. Para PCDs, por exemplo, o home office representa uma redução significativa de barreiras físicas e mais qualidade de vida”.
Para além de estereótipos
Outro momento a tratar do tema de pessoas com deficiência foi o painel “Coitadinho do PCD? – Como promover capacidades e afastar o capacitismo”. Participaram do debate Carlos Alberto Maioli Jorge, diretor e psicólogo na Hippocampus Psicologia – IHpsi; Katya Hemelrijk da Silva, CEO da Talento Incluir; e Mariane Guerra, vice-presidente de RH para América Latina da ADP. O debate destacou a necessidade de superar estigmas históricos e promover um ambiente organizacional que valorize as capacidades individuais, indo além do capacitismo estrutural e das questões de flexibilidade ou adaptação física dos locais de trabalho.
Katya, que é cadeirante, abordou o impacto do capacitismo estrutural e o lugar historicamente atribuído às pessoas com deficiência. “Agora que o tema está mais em pauta e vemos pessoas com deficiência circulando mais pela sociedade, percebemos que elas não são nem coitadinhas, como sugere o tema do painel, nem super-heróis, exemplos de superação”, afirmou.
Ela questionou os conceitos de normalidade e destacou a importância de uma abordagem mais inclusiva. “Somos pessoas com características físicas, sensoriais ou cognitivas diferentes da maioria, mas existe um mundo que pode se adaptar para nos receber e para vivermos em comunidade.”
Jorge, por sua vez ressaltou a importância de uma abordagem constante e prática para combater o capacitismo. “O capacitismo é um assunto difícil, muitas vezes surge de forma inconsciente. Precisamos trabalhar de forma lúdica para abrir essa conversa”, afirmou.
Ele também destacou o desafio da progressão de carreira para pessoas com deficiência. “Vemos muitos PCDs entrando em cargos iniciais e não evoluindo dentro da empresa. Isso pode ser resultado de acomodação, mas muitas vezes é falta de oportunidades ou de estrutura para apoiar o desenvolvimento. No final, tudo se resume à informação e à conscientização.”
Já Mariane ompartilhou os desafios enfrentados na ADP para engajar pessoas com deficiência em iniciativas de diversidade. “Enquanto mulheres e até pessoas trans têm orgulho do que são, por que as pessoas com deficiência ainda procuram se esconder?”, destacou.
“Ao longo dos anos, trabalhamos para conscientizar a equipe e as lideranças a lidarem com esses grupos, incentivando a valorização das diferenças”, contou, mencionando iniciativas bem-sucedidas da empresa, como a campanha interna Sou Singular.
Desafios e perspectivas
Os painéis concluiram que, apesar das vantagens do trabalho remoto, ainda há desafios a serem enfrentados, como a inclusão de todos os colaboradores em uma cultura organizacional adaptada aos novos tempos. A liderança, por sua vez, precisa estar alinhada com a valorização da diversidade e com práticas que realmente beneficiem grupos vulneráveis. Há necessidade de abandonar narrativas estereotipadas em torno das pessoas com deficiência e construir uma cultura inclusiva que valorize suas capacidades e características únicas.
O 4º Fórum Melhor RH reafirmou que a inclusão não é apenas uma questão social, mas também um diferencial estratégico para empresas que desejam se destacar em um mercado cada vez mais exigente e consciente.
Para assistir ao evento completo:
Dia 1
Dia 2