Segundo dia do 6º Fórum de Jornalismo: tecnologia X sustentabilidade

Tecnologia, novos meios de financiamento, diversidade, futuro da imprensa, foram alguns dos assuntos no segundo dia do 6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário

O segundo dia do 6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, organizado pelo CecomCentro de Estudos da Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação, foi marcado por discussões a respeito do destino do jornalismo no novo ambiente de negócios e informativo, que tem a ver com as tecnologias, redes sociais e, principalmente a Inteligência Artificial. E o impacto na produção jornalística, na vida das pessoas devido ao excesso de informação e até a influência das falsas narrativas e manipulação de dados nas próximas eleições.

Abrindo a tarde, aconteceu o painel: “Identidade e engajamento – A força do jornalismo de serviços”, com Ana Maria Brambilla, doutora em Comunicação Digital, com pesquisa sobre jornalismo de serviços, e com passagens pela Editora Abril, Portal Terra e Editora Globo, e que agora atua como assessora de imprensa; Carlos Peres de Figueiredo, professor colaborador do Mestrado Profissional em Economia da Universidade Federal de Sergipe, com doutorado sobre Jornalismo de Serviços; e  Rodrigo Hornhardt, gerente de integração e planejamento de jornalismo do SBT e que também já atuou também no Jornal Nacional, na Rede Globo. Ana abordou que o jornalismo de serviços deveria engajar as pessoas e dar uma dimensão de transformação social por discutir problemas práticos. Rodrigo fez um contraponto que serviços e investigação são caros e dificultam a cobertura hoje com os veículos em comunicação enxugando custos. E por outro lado, alguns veículos menores, sem tradição, usam serviços para extorquir políticos locais com suas denúncias”. Carlos Peres lembrou que as plataformas, grandes redes sociais, “mudam a todo hora os algoritmos”, o que dificulta os veículos de comunicação acompanhar suas estratégias para aumentar a audiência e o debate público.

Na sequência, assistimos ao painel “Equipe no singular – O declínio dos grandes veículos é reversível?”, com Eugênio Bucci, professor Titular da USP, com larga experiência como diretor de redação de grandes veículos; Eurico Matos, professor da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV; Jorge Tarquini, sócio-diretor da Scribas Produção de Conteúdo, professor e ex-editor na Abril. Tentando responder a pergunta do título, Matos revelou uma pesquisa de 2023 feita pela FGV, que perguntou ao público, que tipo de conteúdo compartilha mais nas redes sociais, e 51% disseram que compartilham notícias; então não está caindo o interesse por notícias, ele ponderou.  Bucci alertou que “a forma de produção jornalística mudou”, e com essas mudanças surgiram problemas, como por exemplo, uma informação que seja acessível e não seja privilégio de um grupo, de poderosos. Por exemplo, a informação não deve vir do poder, este deve ser ouvido, fiscalizado e checado. Tarquini avaliou que o mundo da internet, numa visão positiva, favoreceu o surgimento de pequenos negócios de jornalismo, empreendedor e coletivo. Não se imagina mais hoje criar um veículo de imprensa pensando em se tornar uma Rede Globo. Os grandes veículos que não entenderam esse  jogo estarão fora do mercado em breve, e os novos empreendedores que estão avançando. Concordando com Bucci, disse que todos nós temos que nos reinventar, buscando novas formas de sobreviver e se financiar.

Próximo painel: “ Reescrevendo a história – A transformação da imprensa pela mídia nativa digital e independente”, previsto com as participações de Emílio Sant’Anna, repórter e editor freelancer (que não pode comparecer); Katia Brembatti, presidente da Abraji; e Maia Gonçalves Fortes, diretora Executiva da AJOR. Maia falou do papel social do jornalismo como bem comum e da sociedade, e esse conhecimento deveria afetar as políticas públicas de forma positiva. Kátia, que também trabalha no Estadão, com checagem, lembrou que a Abraji nasceu devido a morte de Tim Lopes, e esse contexto de agressões aos jornalistas continua. “A Abraji quer garantir o trabalho do jornalista. Com segurança também. Hoje, audiência e a questão econômica do jornalista também está no foco da entidade, além da discussão de como a imprensa cobre o cotidiano. Emilio não pode se conectar devido a uma urgência de saúde em sua casa.

Em “A alvorada da produção descentralizada – Como veículos independentes tem trazido fôlego e renovação para a imprensa nacional”, participaram Denys Grellmann, sócio e publisher da 100fronteiras; Flávia Saad, head de Conteúdo do Grupo Juicyhub; e Larissa Siqueira Pontes, diretora Executiva da Inova.aê. Grellmann destacou o impacto positivo das suas matérias na comunidade, e, como todos os veículos regionais e independentes, “fomenta novas perspectivas para o público local”.  Por estar na Baixada Santista, perto de um grande centro, que é São Paulo, Flávia desabafou que profissionais da região, de todas as áreas, sofrem da “síndrome do vira-lata”, achando que tudo o que é importante acontece na capital. E isso prejudica negócios de comunicação locais, por essa cultura de baixa-autoestima. “Nós sempre questionamos isso”, defendeu. “O Juicihyb ajuda a construir uma nova autoestima para a população e de uma apropriação de seu território”. Larissa, que trabalha com o tema acessibilidade, concordo com o impacto do jornalismo local, por transmitir informações que grandes veículos não cobrem. A questão, para todos os speakers é manter uma constância do faturamento e isso leva a busca de novas fontes de financiamento.

O próximo painel, “Jornalismo para quem? – Conscientização e práticas para respeitar e incluir a todos“, com Bianca Pedrina, diretora executiva Operacional no Nós, mulheres da periferia; Lenne Ferreira, editora da Afoitas; e Marcelle Chagas, coordenadora da Rede de Jornalistas Pretos Pela Diversidade na Comunicação.  Lenne diz que sua proposta é colocar a mulher negra no centro do debate. Marcelle também falou de sua luta para incluir a diversidade na pauta do jornalismo, inclusive dentro das redações. Bianca trouxe a visão do mercado e dos profissionais, muitas vezes, colocam as mídias de inclusão em caixinhas, em rótulos, e “nos privam dos espaços de poder”, destacando que “o que nós fazemos também é jornalismo e um jornalismo de qualidade”.

O painel “O inimigo agora é outro – IA é aliada para processamento de dados e tendências”, teve a participação de Eduardo Tessler, sócio-diretor da Mídia Mundo; Lucas Maia, diretor de Tecnologia da Agência Tatu; Rafael Queiroz Silveira, head de Novos Negócios Jornal O Povo e diretor de Operações da Casa Azul Ventures. Maia lembrou que a Tatu foi o segundo veículo no País a criar uma política de uso da Inteligência Artificial, informando os leitores disso.  Silveira apontou que as coisas tem mudado muito rápido em IA, e falou de tópicos que muita gente não está prestando atenção, como a sustentabilidade. E deu como exemplo o ChatGPT, o qual consome mais energia do que uma consulta do Google. Na prática, a cada 10 perguntas feita para o ChatGPT são consumidos 1  litro de água. “Inteligência artificial não faz jornalismo”, disparou acertadamente Tessler. “Ela faz conteúdo, em cima de conhecimento que ela absorve, também do jornalismo”, complementou.

Nesse mundaréu de desinformação e fake news, foi muito apropriado o tema do painel ” Para ir além do básico – O jornalismo como ferramenta da educação midiática”, com três nomes que lidam com isso nos seus dia a dia: Alexandre Le Voci Sayad, diretor executivo da ZeitGeist, jornalista, educador e escritor. Mestre em inteligência artificial e ética pela PUC-SP;  Anderson Santana, co-fundador da Iniciativa Nordeste Rural Conectado, e mestre em Comunicação e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins; e Daniela Machado, coordenadora do EducaMídia / Instituto Palavra Aberta, jornalista, com mais de 20 anos de experiência em diversas redações.

Santana falou das pessoas não alfabetizadas para a mídia, que devem ser ensinadas ou reensinadas a lidar com esse universo num contexto de muita desinformação. E, por outro lado, veículos de mídias tem feito um esforço para que se compreenda, por parte do público, o que e como se faz no jornalismo, a diferença entre reportagem e opinião, e também a adaptação para uma linguagem mais simples.  Sayad desmistificou algumas narrativas. “Não está todo mundo conectado não.  Fora dos grandes centros urbanos ainda tem rádios de ondas curtas e a TV aberta chega primeiro que a banda-larga”. Essa é a realidade da maior parte do Brasil, fora dos grandes centros. Isso não significa que essas pessoas estejam ou não desconectadas das redes sociais, mas que é mais difícil atingi-las nos esforços de comunicação profissional. Daniela conceituou que o letramento para o consumo de notícias é o objetivo da educação midiática. Mas, mesmo nos grandes centros, “não existe necessariamente entendimento do consumo de notícias. Então a sobrevivência do jornalismo será mostrar a diferença do trabalho dos jornalistas e de quem opina e os que multiplicam fantasias das redes sociais”.

A cereja do bolo no evento foi o pertinente painel “Candidatos à desinformação – O desafio das eleições municipais frente aos desertos de notícias”, cuja complexidade do tema exigiu a presença excepcional de quatro speakers:  Daniel Bramatti, editor do Estadão Verifica; Franscisco Belda, diretor de Operações do Projor; Roseli Fígaro, professora titular na Escola de Comunicações e Artes da USP; e Mateus Netzel, diretor executivo do Poder360. Roseli esquentou o debate ressaltando que o controle econômico e desenvolvimento tecnológico se dá por grandes empresas e conglomerados de mídia que são o Google e o Alphabet, que controlam 80% dos recursos de publicidade no Brasil… o dinheiro passa por ali e o poder e o jornalismo também”. E esse controle passa por cima de nossas leis, criticou. Netzel complementou com outro problema,  que é o jornalismo, no contexto de eleições municipais, pois existem grandes dificuldades técnicas e operacionais para pulverizar sua cobertura e gerar informação de qualidade sobre os candidatos locais e suas cidades. Custa muito dinheiro. Apesar isso, Bramatti destacou que “nós jornalistas estamos numa posição privilegiada para mostrar com mais transparência como trabalhamos com informação, diferente de uma pessoa que filma um resgate no Rio Grande do Sul e deturpa tudo o que está acontecendo”. E que o jornalismo “está sendo chamado para um problema que ele não criou, que são problemas gerados pelo modelo de negócios das  big techs. O algoritimo que privilegia o conteúdo que gera engajamento”.

O evento, pela carga horária e volume de painéis, com conteúdo relevante e de qualidade, e speakers especializados, deixou um legado de informação e reflexão para todos os jornalistas e deve contribuir para aprimorar o trabalho de todas as mídias e avançar na solução dos problemas apresentados.

 


Assista aos dois dias de evento, clique nos links:

Dia 20/05:
Dia 21/05:


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