Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, com infraestrutura e recursos limitados, a promoção da agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) torna-se uma pauta de extrema relevância. Apesar das dificuldades que essa realidade impõe.
A pauta ESG vai além de questões ambientais, atingindo também aspectos sociais e de governança. Ela busca uma maior preocupação e ação em relação ao meio ambiente, como o uso sustentável dos recursos naturais, a redução de emissões de gases de efeito estufa e o respeito à biodiversidade. Além disso, a dimensão social do ESG envolve a preocupação com a igualdade de oportunidades, o tratamento justo aos funcionários, a segurança no trabalho e a diversidade e inclusão.
Já a dimensão de governança trata das práticas de gestão interna das empresas, como a transparência nas informações financeiras, a ética nos negócios e a responsabilidade dos gestores. Esses aspectos são importantes para garantir a confiança dos investidores, bem como a sustentabilidade das organizações a longo prazo.
Nesse contexto, no 2º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação, promovido pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e pelas Plataformas Melhor RH e Negócios da Comunicação, especialistas discutiram a importância de abordar a temática ESG âmbito empresarial e como tornar a pauta acessível para todos os agentes envolvidos.
A relevância dessa pauta também foi evidenciada por uma pesquisa recente publicada pela BlackRock, uma das maiores gestoras de investimentos do mundo, em 2021. Essa pesquisa, intitulada “Sustainable Investing: Resilience and Responsibility” (Investimento Sustentável: Resiliência e Responsabilidade), revelou que o interesse por investimentos sustentáveis está aumentando em todos os perfis de investidores, independentemente de suas gerações, localizações geográficas e níveis de renda.
Segundo a pesquisa, 94% dos investidores institucionais e 90% dos investidores de varejo afirmaram estarem comprometidos com a integração de fatores ambientais, sociais e de governança em suas decisões de investimento. Além disso, 88% dos investidores institucionais e 86% dos investidores de varejo acreditam que as considerações ESG são essenciais para gerenciar riscos e gerar retornos financeiros.
Essa pesquisa mostra que a pauta ESG não é mais vista apenas como uma questão de ética ou de impacto social, mas sim como uma estratégia de investimento necessária e lucrativa. Ela também reforça a ideia de que o interesse pelos aspectos ESG é compartilhado por uma ampla gama de investidores, independentemente de sua origem ou características demográficas.
A importância de implantar uma agenda ESG e torná-la factível a todos foi tema do painel “ESG é uma pauta para todos? – Como promover uma agenda com infraestrutura e recursos limitados”. Participaram do debate Alexandre Leite Lopes, CEO da Jobcenter do Brasil; Cássia Monteiro, gerente de Comunicação Interna; Simone Cotta, gerente de Comunicação Corporativa e ESG do Grupo Pereira.
ESG é para todos, sim
Promover uma agenda com infraestrutura e recursos limitados não se trata apenas de uma questão econômica, mas também de sustentabilidade e desenvolvimento social. É necessário buscar soluções viáveis e inteligentes para enfrentar os desafios relacionados a essa temática, de forma a garantir um futuro saudável para as gerações presentes e futuras.
Segundo Simone Cotta, a pauta ESG vai além do âmbito profissional, porque se não for incorporada no cotidiano não haverá transformação efetiva. “Se as pautas ESG não forem adotadas no nosso dia a dia, não tem sustentabilidade em nada, nem no planeta, nem em nossa vida, é uma pauta de todos”, acredita a profissional.
Da mesma opinião compartilha Alexandre Leite: “A pauta importante que precisa estar em português na mente de todos o tempo inteiro”. Alexandre avalia que o nome também precisa ser de entendimento de todos, ao contrário da sigla em inglês, o profissional acredita que a tradução para o português, como Ambiental, Social e Governança, pode ajudar a tornar a pauta mais acessível e compreensível para todas as pessoas. “Essa pauta deve extrapolar o mundo corporativo, deve tomar conta de toda a sociedade porque ela é urgente tanto para pessoa jurídica, quanto para a física”, avalia.
Cássia concorda que a pauta ESG não se restringe apenas às empresas e ao mundo corporativo. Ela deve estar presente em todas as esferas da sociedade, desde as ações individuais até as decisões governamentais. “A pauta circunda todos os ambientes, têm o ponto do social, e precisa ter acessibilidade, inclusive como comunicamos essa pauta”, acrescenta.
Comunicação eficiente
Segundo estudos, como os desenvolvidos pela MSCI e pela Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), apontam para a crescente relevância do ESG como uma pauta para todos. Esses indicadores destacam o crescimento dos investimentos sustentáveis em todo o mundo e a expectativa de que essa tendência continue nos próximos anos.
Uma das principais estratégias para enfrentar essa pauta é a conscientização. Tornar a população ciente da importância de utilizar de forma eficiente os recursos disponíveis é fundamental. Além das pautas de governança e social.
Simone analisa que muitos acreditam que a pauta ESG tem tom elitista, não sendo possível para todas as organizações, sendo papel do papel do profissional de comunicação refutar essas falácias. “Na comunicação temos o papel de desmistificar o que é ESG e como atuar em ações pequenas, mas que geram impactos”. A speaker lembra que no grupo na qual trabalha foram feitas ações que trouxeram as práticas para próximo dos trabalhadores de diferentes áreas. “E 98% das pessoas que trabalham conosco está nas lojas, então para comunicar fizemos uma campanha de comunicação interna lembrando da importância da reciclagem, para que informações cheguem para todos”, lembra.
Especialista dentro de casa
As questões relacionadas à responsabilidade socioambiental assumem um papel cada vez mais relevante e requerem uma mudança estratégica por parte das empresas. Nesse contexto, é essencial a formação de porta-vozes e líderes em ESG para garantir a eficácia das práticas sustentáveis e a comunicação adequada com os stakeholders.
As empresas que adotam práticas baseadas nesse tripé têm se destacado no mercado, conquistado a confiança de investidores e consumidores, e estão mais preparadas para enfrentar desafios e atender às demandas da sociedade.
No painel “Especialista dentro de casa: o diferencial de formar porta-vozes e líderes em ESG”, Carolina Prado, diretora de Comunicação para América Latina da Intel; Melissa Bianchi, gerente de Comunicação Corporativa e Gestão da Votorantim Cimentos; e Renata Pache de Faria Gusmon, diretora executiva de Pessoas da UHG Brasil/Amil, compartilham os desafios e oportunidades de formar porta-vozes como diferencial estratégico.
Na Intel, além do tema ESG ser trabalho pela equipe de comunicação, pessoas e as lideranças, foram formados grupos de porta-vozes que têm afinidades com o tema, que foram treinados, porém também recebem treinamentos para exercer tal função.
Na Votorantim, para conectar pessoas às causas ESG foram feitos treinamentos de aculturamento interno e informações sobre as diretrizes e práticas relacionadas à sustentabilidade, governança corporativa e responsabilidade social. Esses treinamentos visam conscientizar os colaboradores sobre a importância das questões ESG e como suas ações individuais podem impactar positivamente no cumprimento dessas diretrizes.
Na UGH há uma área específica dos assuntos relacionados à sustentabilidade e governa. Renata lembra que a preparação das lideranças são essenciais para que possam trazer a prática para os colaboradores com sucesso. “A Amil reconhece a importância de ter uma área dedicada exclusivamente aos assuntos relacionados à sustentabilidade e governança em sua estrutura organizacional. Essa área desempenha um papel fundamental na identificação e implementação de práticas sustentáveis e na adoção de políticas de responsabilidade social”.
No entanto, Renata destaca que apenas ter uma área específica não é o suficiente para obter resultados significativos. “É fundamental que as lideranças de toda a organização estejam preparadas para entender e disseminar a importância da sustentabilidade e governança, tanto para os colaboradores como para a sociedade em geral”.
Renata ressalta também, que a preparação das lideranças é essencial para que elas possam, de fato, trazer a prática da sustentabilidade e governança para os colaboradores. Isso envolve fornecer treinamentos e capacitações sobre os princípios do ESG, promover a conscientização sobre a importância de práticas sustentáveis, e incentivar as lideranças a se tornarem exemplos em suas próprias ações.
Para que as práticas em ESG sejam efetivas, é importante que as empresas tenham porta-vozes e lideranças bem preparados para comunicar e implementar essas questões de forma adequada. Isso significa que esses profissionais devem ter um profundo conhecimento sobre os temas que envolvem o ESG, além de habilidades de comunicação e liderança. “Preparamos nossos líderes, mas se não tiver alguém na ponta sendo impactado, não se sustenta”, relembra Melissa.
Um porta-voz especializado em ESG precisa compreender os desafios e oportunidades relacionados à sustentabilidade, bem como estar atualizado sobre as melhores práticas adotadas pelo mercado. Essa especialização permite que esse profissional se torne um elo entre a empresa e seus stakeholders, transmitindo mensagens claras e transparentes sobre as ações voltadas para o ESG.
Melissa também destaca que é preciso trabalhar com metas e compromissos e como a empresa fará para ser comprometida. “É preciso trabalhar para a meta de pessoas e de diversas áreas para ter consistência na comunicação e o que a liderança fala”, aponta
Já as lideranças em ESG são responsáveis por implementar e coordenar as práticas sustentáveis dentro das empresas. Esses líderes devem ter a habilidade de engajar colaboradores, promover a inovação e criar uma cultura organizacional alinhada com os princípios do ESG. Além disso, é importante que sejam capazes de acompanhar as mudanças regulatórias e as tendências do mercado, para ajustar as estratégias e metas em função das novas demandas.
O diferencial de formar porta-vozes e lideranças em ESG está na capacidade desses profissionais de engajar todos os públicos de interesse da empresa em relação às práticas sustentáveis. A partir de uma boa comunicação e de uma liderança comprometida com os princípios do ESG, é possível promover uma maior transparência e confiança nas ações da empresa, fortalecendo sua imagem e competitividade. Carolina acredita que é preciso iniciar, a profissional ressalta que de início não é possível englobar todo a sigla, mas é precisa que a mensagem seja genuína “Nunca seremos especialistas em tudo, nem tocaremos todos os temas, mas é preciso escolher as demandas mais urgentes e não contar apenas as histórias perfeitas, mas evoluir”, salienta.
Diversidade social e inovação
A diversidade social é um assunto cada vez mais discutido quando se trata de inovação e reputação empresarial. Essa questão está ganhando relevância e se tornando fundamental nas estratégias de negócio das empresas. A diversidade social engloba a inclusão de pessoas com diferentes origens étnicas, culturais, socioeconômicas, de gênero, orientação sexual e habilidades diversas.
Um estudo realizado pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) analisou o impacto da diversidade no mercado de trabalho e constatou um crescimento na eficiência das empresas entre 2010 e 2019. Segundo a pesquisa, a cada aumento de 10% na representatividade étnico-racial, houve um avanço de aproximadamente 4% na produtividade das empresas.
Além disso, a cada aumento de 10% na diversidade de gênero, foi observado um aumento de cerca de 5% na produtividade das empresas. A inclusão de diferentes perspectivas nas decisões e processos empresariais permite a criação de soluções mais criativas e eficazes. A diversidade social estimula a colaboração entre pessoas com experiências e conhecimentos distintos, resultando em uma maior capacidade de encontrar soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela empresa.
No painel “O ‘S’ do ESG na transformação do negócio – Como a diversidade social pode acelerar a inovação e fortalecer a reputação da sua empresa”, estiveram presentes Ana Minuto, consultora DEI (diversidade, equidade e inclusão) e CEO da Minuto Consultoria, Marcelo Moreira, jornalista e sócio-diretor da DiversaCom, e Mariane Del Rei, jornalista e coordenadora da UNI Periferias, localizada na Favela da Maré, no Rio de Janeiro.
Caminho para o sucesso empresarial
Ana Minuto aponta que as empresas que investem em diversidade estão mais bem posicionadas para atrair e reter talentos altamente qualificados. O marco deste processo está na pandemia, quando o trabalho passou por transformações “Foi neste momento que se não se envolvessem no social, dificilmente teriam dificuldades em manter seus funcionários”, lembra.
A profissional destaca que o envolvimento com o bem-estar dos stakeholders foi a oportunidade de desenvolver suas habilidades e crescer profissionalmente. “Se não investisse no processo pode ser que não tivessem colaboradores. Paralelamente a isso, houve pressão popular por maior diversidade”, acrescenta.
Todavia, a falta de representatividade nas empresas e a escassez de stakeholders provenientes de grupos minoritários são questões urgentes que continuam a ser um desafio no mundo corporativo. Apesar dos esforços recentes para promover a diversidade e inclusão, as estatísticas atuais revelam uma disparidade significativa na composição das equipes de trabalho e nos cargos de liderança.
Os números não mentem: O Instituto Ethos, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizou a pesquisa “Censo da Diversidade” em 2020, analisando dados de mais de 1.400 empresas de diferentes setores e portes. O estudo teve como objetivo avaliar a representatividade de grupos minoritários, como mulheres, negros, pessoas com deficiência e LGBTQIA+.
Os resultados revelaram que as minorias continuam sub-representadas nas empresas brasileiras, apesar dos avanços recentes. No caso das mulheres, a participação nos cargos de liderança é baixa, representando apenas 39,4% nos cargos de primeiro nível e 20,6% nos cargos de alta liderança.
A presença de negros em cargos de liderança também é limitada, com apenas 4,7% nos cargos de primeiro nível e 6,3% nos cargos de alta liderança.
Quanto à inclusão de pessoas com deficiência, houve um aumento em relação a anos anteriores, porém ainda abaixo do estabelecido pela Lei de Cotas. Apenas 1,2% dos cargos de primeiro nível são ocupados por pessoas com deficiência.
Para Marcelo, os números refletem a falta de oportunidades e de políticas efetivas de inclusão por parte das empresas. Ele ressalta a importância da diversidade não apenas para a representatividade, mas também para a inovação, a criatividade e o crescimento sustentável das organizações.
“A diversidade traz diferentes perspectivas, experiências e habilidades para a mesa. Isso é fundamental para o processo de reputação das empresas, se não é responsável, ela não vai performar nem terá um resultado positivo em sua área”, acredita
Ele ressalta também que a pressão da população por maior diversidade nas empresas vem se intensificando, principalmente através das redes sociais e do ativismo online. Os consumidores estão cada vez mais atentos às práticas e valores das marcas com as quais se relacionam, influenciando diretamente o sucesso ou o fracasso de uma empresa. “O ESG não é mais um conceito de prospectar clientes e é bom ter, é uma exigência de mercado”.
Para promover a diversidade e a inclusão de forma efetiva, Marcelo Moreira sugere alguns passos importantes que as empresas podem adotar: estabelecer metas claras de diversidade e monitorar regularmente o progresso; investir em programas de capacitação e desenvolvimento para grupos minoritários; e criar um ambiente de trabalho inclusivo, onde todos os colaboradores se sintam seguros e respeitados.
Diversidade têm que estar na pauta
A falta de representação nas empresas tem um impacto profundo. Os stakeholders provenientes de minorias frequentemente enfrentam barreiras adicionais para atingir posições de destaque e influência. Isso pode ser atribuído a diferentes fatores, como estereótipos negativos, falta de oportunidades de desenvolvimento profissional e discriminação sistêmica.
Essa falta de representatividade também afeta a forma como os produtos e serviços são desenvolvidos e entregues. Sem uma gama diversificada de perspectivas, empresas correm o risco de perder oportunidades de mercado e alienar potenciais consumidores. Na UNI periferias, que atua pensando soluções para as periferias da capital fluminense e do mundo corporativo, o ESG é visto como um compromisso necessário. “É ter o compromisso de ser uma empresa mais diversa, inclusiva, igualitária, para que possa construir uma sociedade mais justa”, aponta Mariane Del Rei.
Para combater essa falta de representatividade e dar voz às minorias, algumas empresas têm tomado medidas palpáveis. Iniciativas como programas de mentoria, treinamentos em diversidade e inclusão, e políticas de contratação equitativas têm sido implementadas para enfrentar esse desafio. Além disso, a divulgação de dados e metas de diversidade tem se mostrado eficaz para estimular um ambiente mais inclusivo.
Ana Minuto ressaltou que a diversidade social nas empresas vai além da inclusão de diferentes raças e gêneros. Ela enfatizou a importância de incluir também pessoas de diferentes classes sociais, com origens diversas e que representam a pluralidade presente na sociedade. Essa diversidade traz uma variedade de perspectivas e experiências que podem contribuir significativamente para a inovação e a resolução de problemas. “A gerência precisa ter o entendimento da importância da diversidade, nós temos questões de gênero, raça e classe, por isso é tão importante debater a diversidade, equidade e inclusão”, acrescenta
Assista ao 2° Fórum Melhor RH ESG e Comunicação nos links abaixo:
Primeiro dia (25/09): https://bit.ly/2ºFMRHESGDIA01MRH
Segundo dia (26/09): https://bit.ly/2ºFMRHESGDIA02MRH