Para além dos índices de responsabilidade socioambiental listados no mercado de capitais, o board internacional de contabilidade passou a exigir, recentemente, o cumprimento de regras globais para descrever riscos e oportunidades provenientes de políticas e ações ESG (sigla para o acrônimo em inglês, que trata dos pilares ambiental, social e de governança das organizações) nos balanços das empresas. Um claro sinal de que o tema é estratégico para as companhias, além de urgente no âmbito das demandas da sociedade: justiça ambiental, descarbonização, diversidade, inclusão e transparência empresarial e institucional estão na pauta diária dos cidadãos. Crise climática, igualdade de gênero, racismo, erradicação da fome e a confiança nas organizações públicas e privadas fazem parte dos diálogos familiares e são assuntos que norteiam a busca por propósito de indivíduos e instituições.
Nesse cenário e diante de uma agenda ainda tímida sobre o tema no Brasil, o Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e as Plataformas Melhor RH e Negócios da Comunicação promovem o 2° Fórum Melhor RH ESG e Comunicação – Consciência para direcionar, de forma on-line e gratuita, no YouTube de ambas as Plataformas. O evento aconteceu segunda e terça-feira.
Prioridade na jornada
Demandas crescentes e cada vez mais complexas são a realidade da área de RH de qualquer empresa, na qual também se inserem o apoio a uma comunicação voltada para o ESG e a adesão à agenda do tema na vivência da cultura organizacional. Nesse sentido, o painel “Calma, RH: uma responsabilidade por vez” abriu o Fórum e discutiu a organização de prioridades da pauta no contexto atual das companhias brasileiras, muitas vezes com poucos recursos.
Santiago Garcia Lopez, diretor de RH da Samsung América Latina, destacou a oportunidade de tratar a pauta a partir das crises que mais exigem posicionamento da organização, “fazendo o possível, com o mínimo, estudando de que tipo de crise se trata e como redirecioná-la”, destacou o executivo.
Já Douglas Almeida, diretor de RH América Latina da GE HealthCare, ressaltou a possibilidade de aproveitar o momento de contenção para envolver os colaboradores, com transparência, contextualizando as ações e decisões. O que muitas vezes exige tempo e disponibilidade do time, além de investimento, pode ser abraçado pelo trabalho voluntário e com baixo custo, envolvendo instituições e parceiros com propósitos afins, entende o executivo.
Fabiana Cymrot, consultora de Carreira na FCYM, por sua vez, destacou a prática do bônus financeiro para os colaboradores, que ajuda a alcançar resultados, sob o cumprimento de metas ESG da empresa, com reflexos diretos na reputação interna e externa da companhia.
Questão de propósito
A incorporação do ESG na cultura organizacional e caminhos para conscientizar, implementando projetos e verdadeiras transformações foi tema do painel “Educar para multiplicar cultura”. Programas de capacitação e sensibilização para o envolvimento dos times se mostraram essenciais na prática diária das agendas do tema.
Mário Augusto Costa Valle, coordenador do Programa de Inclusão e Diversidade do Senac São Paulo, lembrou que a cultura organizacional é o espaço para abraçar a agenda ESG, provocar a reflexão e fazer com que os conceitos sejam praticados.
Elica Cristina Pratavieira Zanchim, técnica de Desenvolvimento Profissional do Senac São Paulo falou sobre as trilhas formativas corporativas e para o mercado sobre o tema, que ajudam a modificar e desenvolver cultura, lembrando a ausência de conteúdo sobre o assunto na educação de negócios. Elica citou pesquisa da Exame, que mostra escassez de cursos e capacitação em que apenas 1%, entre pelo menos um milhão de executivos, têm acesso à cursos da área.
“Mais do que capacitação profissional é participação social, são espaços democráticos, é de fato fazer diferença dentro da empresa e fora”, comentou, sobre o impacto das formações do Senac para executivos e companhias envolvidos. Os cursos oferecidos pela instituição são de pós, extensão, presencial e EAD, além dos livres, de 30 e 40 horas, desenvolvidos para a formação de itinerários temáticos.
Nesse estágio de conscientização e capacitação, Ana Lucia Zanovello, executiva de Contas do Senac São Paulo, destaca que, na companhia, “não é preciso incorporar o E, o S e o G de uma só vez. A empresa pode ver com qual tema tem mais afinidade, em sua cultura, para iniciar uma ação: Diversidade, sustentabilidade, igualdade de gênero, lideranças femininas…”, citou, entre outros tópicos possíveis.
A hora da tecnologia
No painel “IA entende de sustentabilidade?”, especialistas destacam como a Inteligência artificial pode auxiliar nas ações de responsabilidade ambiental das empresas e também em outros pilares ESG. Os participantes enumeraram ações das quais participam, que sem este recurso não seriam possíveis, ou teriam sua condução dificultada.
Anatrícia Borges, diretora de ESG da LLYC enfatizou o uso de IA no aprendizado sobre o tema e no monitoramento de catástrofes.
Jonas França, proprietário e consultor da Amary Soluções Ambientais destacou o uso corporativo de IA, para o monitoramento de temperatura de equipamentos eletrônicos, além de monitoramento ambiental em geral e mapeamento de áreas de risco para as companhias.
Já Miguel Feres, diretor de Recursos Humanos e Sustentabilidade da Faber-Castell, falou sobre o uso de IA nos projetos da empresa, com área dedicada de Inteligência Artificial e Business Intelligence, atuando diretamente nas ações de preservação e reflorestamento de espécies nativas em regiões de cultivo da companhia.
A indústria utiliza madeira 100% certificada e mantém em torno de 10.000 hectares de florestas próprias, das quais utiliza matéria-prima para fabricação de lápis, suprindo 86% de sua demanda de madeira.
Quando não há recursos
O painel “ESG é uma pauta para todos?” discutiu como promover uma agenda com infraestrutura e recursos limitados e construir uma cultura alinhada à responsabilidade social e à sustentabilidade.
Alexandre Leite Lopes, CEO da Jobcenter do Brasil, lembrou que a pauta transcende as empresas e que por isso mobiliza e engaja, para além dos investimentos. Nas companhias, contudo, as ações devem ser conduzidas pelo exemplo, com envolvimento de toda a organização e das lideranças, entende Lopes.
Cássia Monteiro, gerente de Comunicação Interna, por sua vez, chamou a atenção para a questão da comunicação como mecanismo de engajamento e recurso-chave na construção da reputação, em se tratando de monitorar o tema ESG nas companhias.
Simone Cotta, gerente de Comunicação Corporativa e ESG do Grupo Pereira, também enfatizou essa importância. “Internamente, precisa lembrar que o colaborador faz parte disso, da base à liderança” destacou. E lembrou que, se a agenda “não impacta o negócio, não é ESG”.
Fixar conceitos
O diferencial de formar porta-vozes e lideranças em ESG foi tema do painel “Especialista dentro de casa”. A importância de fomentar discussões produtivas junto à sociedade, o impacto no fortalecimento da cultura, o alinhamento necessário com a comunicação interna e externa e os indicadores essenciais para alcançar resultados positivos foram debatidos nesse momento.
Carolina Prado, diretora de Comunicação para América Latina da Intel, enfatizou a falta intencionalidade na abordagem ESG nas empresas, sempre em busca de autenticidade na construção de um propósito. Caminho em que cabe, ainda, segundo a executiva, contar a jornada ESG da companhia para o mercado e para os colaboradores, assumindo eventuais erros e valorizando a trajetória de avanços.
Para Melissa Bianchi, gerente de Comunicação Corporativa e Gestão da Votorantim Cimentos,
Como conectar os empregados e fazer entender o papel deles nessa jornada é um desafio. “Não é só media training, mas um trabalho de cultura”, e, ainda, contextualizando o que ocorre na sociedade, entende a executiva.
Para Renata Pache de Faria Gusmon, diretora Executiva de Pessoas da UGH Brasil / Amil, parece que o tema “está num pedestal, mas foi a gente que colocou lá”, afirmou. Para ela, a abordagem da jornada ESG é importante para o mercado, mas é essencial a repercussão interna das ações e políticas desenvolvidas.
Já no painel “RH que pensa diferente, faz a diferença”, os participantes destacaram incentivos efetivos para o engajamento junto às metas, discutindo como conscientizar sobre a importância de dados e índices mensuráveis para os relatórios e o impacto de fazer parte de iniciativas e programas de impacto social.
Participaram desse momento, José Ricardo Amaro, diretor de RH da GRSA Compass Group, Giusepe Giorgi, diretor de RH da Pirelli na América do Sul, e Rodrigo Dib, superintendente Institucional do CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola.
Amaro ressaltou o papel do RH em conectar temas e ações ESG sob um mesmo guarda-chuva, agregando escala e visibilidade aos resultados, o que auxilia na construção de cultura, engajamento e reputação na empresa. Já Dib destacou que esses resultados podem ser intensificados quando a organização adere a “causas que se afinam com a cultura” da companhia.
Catalisador social e colaboração
Como a diversidade social pode acelerar a inovação e fortalecer a reputação da sua empresa foi tema do painel “O ‘S’ do ESG na transformação do negócio”.
Marcelo Moreira, jornalista e sócio-diretor da DiversaCom, vertente da Textual Comunicação, tem mais de 30 anos de experiência na cobertura de assuntos relacionados à diversidade e aos Direitos Humanos, lembrou que os conceitos ESG foram pautados como pilares fundamentais para que a humanidade sobrevivesse. “Não tem como a empresa não ter preocupação em deixar algum tipo de legado”, destacou o executivo. “Reputação e performance estão interligados.”
Já Ana Minuto, reconhecida como Top Voice no LinkedIn, é CEO na Minuto Consultoria especialista em DEI, com mais de 20 anos de expertise em consultoria de diversidade, comentou como a pandemia acelerou o processo de adesão e cumprimento de metas de inclusão, lembrando os problemas sociais desse momento e a importância de trabalhar o social diante da dificuldade de manter os funcionários. E trouxe números: em uma realidade populacional de 52% de mulheres e 28% de mulheres negras, essa representatividade é infima e não reflete a sociedade no mercado corporativo. Com uma população de pessoas com deficiência na faixa dos 24 %, empresas não cumprem cotas de 3%. “É também sobre dinheiro, sobre estratégia de negócios”, enfatizou, lembrando que empresas diversas performam melhor. “O mercado cobra metas claras e processo é lento”, destacou.
Mariane Del Rei, jornalista e coordenadora de Comunicação da UNIperiferias, ONG da favela da Maré/RJ, defende a implementação, no contexto empresarial, de soluções originadas nas favelas e periferias. Ela destaca a importância de adotar e adaptar abordagens inclusivas que nasceram em comunidades marginalizadas para promover uma transformação social mais abrangente e autêntica. Lembrou, durante o evento, da estrutura sociológica que se dá nesse contexto, em que o profissional muitas vezes tem tripla jornada, para conciliar casa, trabalho e estudo. Para a executiva, é preciso complementar a capacitação do colaborador, e de maneira flexível para suavizar o seu expediente.
Participaram do último painel do primeiro dia, “Cocriando o futuro”, os executivos Denise Machado Horato, People & Culture Business Partner and Enabler Lead do Grupo Roche; Gabriel Clemente, Especialista em Sustentabilidade Corporativa da Vale, e Juliana Barreto, gerente de Comunicação e Marca Corporativa da SuperVia.
Os participantes discutiram a colaboração de stakeholders internos e externos nas soluções de desafios ESG, destacando o poder da colaboração interdepartamental, o diferencial de parcerias externas como instituições acadêmicas e ONGs, e a importância de medir o impacto das ações e do diálogo aberto para alinhamento de objetivos.
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Assista ao 2° Fórum Melhor RH ESG e Comunicação nos links abaixo:
Primeiro dia (25/09): https://bit.ly/2ºFMRHESGDIA01MRH
Segundo dia (26/09): https://bit.ly/2ºFMRHESGDIA02MRH
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