Os avatares estão invadindo o mercado da influência digital e as marcas estão apostando neles para se aproximar cada vez mais do público, criando um “rosto” digital.
A Lu do Magalu, prova que os influenciadores digitais não precisam ser seres humanos, podendo existir somente no mundo virtual e obter sucesso financeiro e conquistar muitos seguidores. A personagem 3D se tornou um caso de sucesso ao longo dos anos, ultrapassando o objetivo inicial de divulgar a loja que leva o seu nome e, praticamente, ganhando vida própria. Um levantamento feito pelo site Onebuy Tablets, por exemplo, apontou que a Lu tem potencial de gerar US$ 16,4 milhões de receita por si só.
A utilização de personagens como forma de estabelecer conexões emocionais entre o público e as marcas não é uma novidade. Urso (Coca-Cola), Nat Natura ( Natura), baianinho (Casas Bahias), Moça (Leite Moça) são alguns exemplos de mascotes que possuem décadas de existência, marcaram a publicidade e hoje são exemplo de sucesso nas redes sociais. Com o avanço tecnológico, os novos hábitos de consumos e os avanços do marketing de influência, novos formatos estão possibilitando marcas exploraram o universo dos avatares no ambiente digital.
Elis Monteiro, especialista em marketing digital, explica que o avatar é uma extensão do ser humano e funciona na mesma lógica do marketing de influência: “O intuito é aproximar a marca das pessoas comuns”. Para ela, estes personagens que possuem perfis próprios nas redes sociais, milhares de seguidores e muitas vezes fazem collabs com outras marcas, também atuam como influenciadores digitais, o que é uma tendência crescente no meio digital.
Na onda dos avatares do metaverso, celebridades, com grande números de seguidores, tem investido em influenciadores de pixels para atrair marcas e seguidores, como é o caso da apresentadora e influenciadora Sabrina Sato, também tem investido no alter ego virtual.
A personagem de nome Satiko, é um avatar que mescla características da artista com uma personalidade única e distinta e representa Sato em campanhas de marketing. “A Sabrina Sato é uma pessoa com forte presença nas redes sociais. Ela não tem uma loja, mas é uma marca e a lógica é a mesma: ser alguém que a gente se reconheça nela ou que a gente inspire”, explica Elis.
Chatbots e avatares: tecnologias diferentes
Os avatares, apesar de trazerem personalidade e identidade, são diferentes das estratégias dos chatbots. No entanto, as tecnologias de chatbots e avatares se complementam no atendimento ao cliente. Enquanto os chatbots são responsáveis por responder perguntas frequentes de forma automatizada, os avatares oferecem um atendimento mais próximo e humanizado, simulando a presença de um agente humano.
Os chatbots são programados para seguir um fluxo de conversa pré-determinado, oferecendo respostas rápidas e eficientes através de uma interface textual. Já os avatares utilizam a inteligência artificial para oferecer um atendimento mais completo e personalizado, utilizando a voz e a expressão facial para se comunicar com o cliente. Elis explica que os chatbots são indicados para tirar dúvidas simples e diretas, os avatares são ideais para situações mais complexas, como a venda de produtos ou serviços.
Os avatares também são uma opção mais cara e complexa de implementar, já que exigem o desenvolvimento de modelos 3D e a inclusão de recursos de animação e voz. Já os chatbots são uma solução mais acessível e rápida de ser implementada, podendo ser integrados a diversos canais de atendimento, como aplicativos de mensagem e redes sociais.
Lu do Magalu, um case de milhões
Criada em 2003, para humanizar a experiência de compra no e-commerce da Magalu, a Lu é um avatar, ou seja, um personagem virtual criado para representar a empresa nas mídias sociais.
O avatar, cativante, e que já foi capa da Vogue, entrevistada por Marília Gabriela, além de aparecer em programas de auditório, transformou a propaganda em uma influenciadora digital por si só.
Inicialmente surgiu com o nome “Tia Luiza”, para tornar o ambiente online menos frio e humanizar essa relação. Na época, a Luiza era a vendedora virtual do Magazine Luiza”, lembra Aline Izo, gerente de redes sociais do Magalu. Com o aprimorando tecnologia a Lu foi virando a identidade de sua rede de Varejo. “Nós não fazíamos ideia de que ela se tornaria esse fenômeno que atualmente é e, muito menos, que chegasse ao patamar de ser a maior influenciadora virtual do mundo. E essa transformação foi acontecendo organicamente, garante a gerente.
Hoje, Lu é um exemplo de que influenciadores não precisam ser de carne e osso, podem existir apenas no mundo da tecnologia para ditar tendências de estilo, vender produtos e sensibilizar para causas sociais e ambientes. A Lu é simpática, engraçada e bem-humorada, o que faz com que as pessoas se identifiquem com ela e queiram acompanhar suas postagens e stories.
“O sucesso e a evolução da Lu caminham junto ao sucesso da própria marca do Magalu”, afirma Aline. Por trás do avatar, há um ecossistema gigante de ghostwriters, produtores e designers que criam o storytelling da personagem todos os dias, além de várias outras áreas internas que contribuem para que tudo aconteça. Um grupo de profissionais atua para abastecer de conteúdo os mais de 6 milhões de seguidores no Instagram, 7 milhões no TikTok e 2,7 milhões inscritos, no Youtube, que acompanham a influenciadora narrando jogos, dando dicas de compras ou fazendo uma série de vídeos sobre o combate às fake news.
Influência usada para as causas sociais
O avatar da Magalu, como muitos influenciadores de carne e osso, assume causas importantes como a luta contra a homofobia, misoginia e racismo. E assim, usa suas redes para falar sobre diversidade, inclusão e combate à discriminação.
No início deste ano, ela lançou o movimento #VamosJuntas, que tem como objetivo unir mulheres na luta contra o assédio e a violência. Por meio desse movimento, ela mobilizou milhares de mulheres em todo o país, criando uma rede de apoio e empoderamento.
“A Lu é porta-voz da marca, inclusive para as ações de causas. Ela se posiciona, participa de discussões e ações relevantes para a sociedade sobre assuntos e causas que a empresa apoia e tem iniciativas, como o combate à violência contra a mulher e o antirracismo”, conta Aline. Assim como outras pessoas que se posicionam nas redes, o perfil também é alvo de “hates”. Por conta dos posicionamentos da Lu, que nem sempre agradam todo mundo, ela já teve que lidar com críticas e com ataques de vários tipos.
Neste sentido, Elis acredita que o posicionamento das marcas para causas sociais é positivo, mas por outro lado ele está atrelado a um conjunto de medidas que visam atrair o público, criando identificação. “Quando uma marca fala contra a homofobia, contra o machismo, contra o racismo, ela está criando a identificação para ela porque os consumidores a exigem. Elas querem o posicionamento da massa que seja condizente com o posicionamento que elas creem”, ressalta a especialista em marketing de influência.