Continuam as agressões contra jornalistas no Brasil, principalmente mulheres

Últimas pesquisas comprovam 1 caso por dia no País, um ataque à democracia e aos direitos humanos

As agressões contra jornalistas transformaram a profissão numa das mais arriscadas no Brasil. O monitoramento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), no “Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022, indica que foram registrados 376 casos de agressões a jornalistas e veículos de comunicação no Brasil, o que equivale a praticamente um caso por dia. Somente o dia 8 de janeiro, nos ataques à praça dos Três Poderes, em Brasília, 15 profissionais de mídia foram agredidos.

Em números parciais, feito pouco antes do final do ano passado, mostrava uma tendência de alta. Nos primeiros meses de 2022 aconteceram 66 agressões graves, que envolvem episódios de violência física, destruição de equipamentos, ameaças e assassinatos. Esse número representa um crescimento de 69,2% em comparação com o mesmo período de 2021, que teve 39 casos.  O cenário geral de ataques também se agravou: de janeiro a julho de 2022, foram identificados 291 alertas totais de violações da liberdade de imprensa — 15,5% a mais do que nos primeiros sete meses do ano passado. Esses casos incluem, além das situações mais críticas, ocorrências de discursos estigmatizantes, processos legais, restrições na internet, restrições de acesso à informação e uso abusivo do poder estatal, que vitimaram jornalistas, comunicadores, meios de comunicação e a imprensa de modo mais amplo.

Entretanto, e felizmente, os números ficaram menores que em 2021, no recorde desde o início da série histórica feita pela federação, quando foram registrados 430 casos. Apesar da queda de 12,53% em relação ao ano anterior, o relatório constata que as agressões diretas a jornalistas tiveram crescimento em todas as regiões do país.

Os ataques mais genéricos, que atingem a credibilidade da imprensa, foram os mais comuns, com 87 casos (em 2021 foram 131). Seguido de 77 casos de ameaças, hostilizações e intimidações. Em terceiro lugar vem a censura (queda de 54,96%), que havia sido a maior categoria ano passado. Também foram registrados casos de agressões verbais (que caíram 20,69%), agressões físicas (que aumentaram em 86,46%) e o impedimento do exercício da profissão (aumento de 200%). Ataques cibernéticos a veículos de comunicação também foram registrados, passando de quatro para sete ocorrências (aumento de 125%).

“O ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como nos três anos anteriores, foi o principal agressor. Sozinho, ele foi responsável por 104 casos (27,66% do total), sendo 80 episódios de descredibilização da imprensa e 24 agressões diretas a jornalistas (10 agressões verbais e 14 hostilizações)”, afirma nota da Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj.

O relatório lembrou o assassinato do jornalista britânico Dom Philips, destaque na imprensa mundial.

Outro estudo, este feito com dados atualizados online pela Abraji, aponta as mulheres jornalistas como alvos das violências, desde agressões verbais e ameaças inclusive no meio cibernético (33,8%), físicas (9%), assédio e violência sexual (4,8%), processos civis e penais na tentativa de intimidar e censurar (2,8%), até tentativas de homicídio (1,4%). Ataques com viés de gênero, e casos que vitimaram mulheres no Brasil, em 2023, já chegam a 20 ataques. E 51% deles contém conteúdos estigmatizantes que procuram difamar e constranger as vítimas. E 67,6% foram proferidos por autoridades públicas ou figuras proeminentes.

Ainda não surtiu grandes efeitos práticos o Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais instituído pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em 17 de fevereiro deste ano. O órgão pretende monitorar e apoiar investigações de agressões contra profissionais.

Esta matéria faz parte das homenagens ao Dia do Jornalista (7 de abril) é um oferecimento de:

 

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