Com a evolução dos celulares, qualquer pessoa pode ser produtora de conteúdo. Se antes, utilizar este aparelho poderia parecer desleixo ou amadorismo, hoje, é uma tendência na produção audiovisual. A popularização desses dispositivos, que cada vez mais agregam funcionalidades, estão servindo para mostrar a realidade de grupos minoritários, que dificilmente teriam espaço na mídia tradicional.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, há mais de 240 milhões de aparelhos no país, 25 milhões a mais do que habitantes. Porém, se somar a outros dispositivos como tablets, notebooks e computadores, chegam a superar os 447 milhões de dispositivos digitais em uso no País.
Números tão impressionantes refletem no consumo dos internautas na disseminação de notícias e na produção de conteúdo audiovisual. O assunto foi tema do painel: “Criando conteúdo e a própria realidade”, durante o 12º Fórum sobre Marketing de Influência, promovido pelo Cecom – Centro de Pesquisa em Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação.
Priscila Barbosa, idealizadora e diretora executiva da Autoestima Diva; Joyce dos Santos Tavares, influencer e publicitária da @boraderiocrd e Thamirys Marques, gerente de conteúdo de influenciadores da Digital Favela, discorreram sobre o impacto social das plataformas, a importância da valorização de conteúdos que apostam na diversidade, e o desafio de chamar a atenção das marcas para as criações que fogem do padrão.
Internet vai além de um meio de comunicação
Priscila afirma que o celular e a facilidade em criar conteúdos deu voz a movimentos e coletivos negros que antes não tinham espaço na mídia: “Criar conteúdo para nós é fazer história, abrir caminhos e ampliar as vozes daqueles que vieram antes de nós, firmando o nosso conhecimento de muito tempo”.
A influenciadora ressalta ainda que as redes sociais têm sido um instrumento de inclusão para pessoas da periferia: “Existem muitas questões na tecnologia; eu comecei a entendê-la como algo ancestral, olho para além de uma fibra ótica, porque proporciona colocar para fora o que os nossos ancestrais não tinham em termos de ferramenta”, observa a creator.
Segundo pesquisa ” Creators e Negócios 2022″, apenas 16% dos criadores de conteúdos são pretos. Joyce dos Santos afirma que a criação de vídeos por conta própria tem revolucionado as questões sociais, dando voz à quem não tinha voz, mas aponta que nos últimos tempos, apesar de youtubers e influenciadores estarem presentes em campanhas, ainda falta quebrar padrões em todos os campos da internet: “Nós não avançamos muito, mas estamos no caminho para avançar. Não vemos muitos criadores de conteúdo periféricos que tenham ascensão e quebrem o padrão”.
Thamirys Marques afirma que o mercado vem mudando, sendo que há dez anos não havia muitos pretos em espaços de debate: “Estou há 10 anos no mercado de conteúdo e vejo que o muita coisa mudou, tem mais pessoas periféricas, pessoas pretas. Nós somos a última geração dos primeiros; há muitas pessoas que estão surgindo e somos referência para elas”, acrescenta a especialista.
As speakers concordam que a tecnologia, mesmo que muitos não a tenham, e o acesso a esses conteúdos, continuam sendo a sobrevivência e um modo de pessoas da periferia tentar transformar sua realidade e precisa haver o reconhecimento que criadores de conteúdo também são agentes de mudança e transformação; que sabem contar suas narrativas de forma profunda, genuína, relevante e que se conectam com outras pessoas.
Mercado para creators negros está mudando
No painel, as speakers compartilham também suas experiências com o mercado do marketing de influência. Para elas, é fundamental que pretos e pretas não deixarem que outras pessoas contem as suas histórias e com isso, se tornar referência para as próximas gerações.
Thamirys Marques acredita que com maior número de petos como produtores de conteúdo, melhor para a representatividade: “Eu, enquanto comunicadora e gestora de uma equipe que só tem mulheres pretas, vejo que ajudou a construir outras narrativas. Se há dez anos tivesse como chefe uma mulher preta, teria sido de outra maneira, porque aqui também estamos falando de autoestima”.
A especialista complementa: “Eu olho para o mercado, pode parecer otimista, mas as marcas estão entendendo que a periferia é extremamente consumidora. Se fosse um estado, a galera da favela seria o quarto maior da república. Não é pouca coisa”.
Priscila aponta que muitos influenciadores ainda veem influenciadores periféricos como uma cota a ser cumprida ou como uma forma de ajudar. Porém, é preciso que haja o amadurecimento nas relações. “Muitas marcas ainda olham para mulheres pretas, LGBTQIA +, pessoas da favela, como uma forma de ajuda. Mas, nós não estamos nos ajudando, isso é uma via de mão dupla, vocês existem porque nós existimos. Esse amadurecimento precisa vir dos dois lados”, diz.
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