Um padrão improvável anos atrás tem prevalecido no mercado de comunicação: a aquisição ou a criação de veículos de imprensa por empresas do setor financeiro.
Sobram exemplos, sobram motivações a nova tendência.
Nos últimos anos, a XP Investimentos comprou o Infomoney; a Eleven Research, o Spotniks; o BTG Pactual, a revista Exame; e, a Empiricus, o Antagonista. Agora, surge o site BlockTrends, lançado pela QR Capital, holding especializada no setor de blockchain e criptoativos, com o curioso desafio de estabelecer uma conexão entre o mercado financeiro tradicional e o ambiente dos ativos digitais.
Cenário
O Brasil é um país que disputa espaço com as maiores economias do mundo e não tem o básico de educação financeira no currículo escolar. Cerca de 60 milhões de pessoas começaram 2020 endividadas, mesmo antes da pandemia, e aproximadamente 62% da população ainda investe na poupança. Os dados são da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito).
Ao mesmo tempo, o Brasil tem 134 milhões de usuários online, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2019. A democratização da informação na rede inevitavelmente leva educação financeira para as pessoas. É nesse espaço que surgem influenciadores e canais como Nath Finanças e Favelado Investidor, que focam em pessoas de baixa renda. Nesta polifonia proporcionada pela rede, empresas do mercado, como fintechs e bancos, também entenderam a necessidade de se comunicar com seus potenciais clientes. Algumas têm escolhido, para isso, os veículos de imprensa.
Plataformas
Essas plataformas funcionam como uma janela para geração conteúdo técnico e preciso a partir da evidente proximidade com especialistas do mercado. E, claro, são também uma enorme oportunidade de produção de content marketing de qualidade – como conteúdo complementar ao jornalístico. A estratégia aproxima, educa e informa clientes, além de gerar retorno para empresas.
Cada veículo tem seu foco. O BlockTrends, por exemplo, nasceu como veículo de análises e tendências da holding QR Capital orientado para público qualificado, que já investe no mercado financeiro convencional mas ainda não conhece o potencial da blockchain e dos criptoativos.
Comprada pelo BTG Pactual no fim de 2019, a revista Exame, que inclui site, revista, unidade de negócios e outros produtos, segue trabalhando com qualidade jornalística, sem interferências, pelo menos publicamente anunciadas, na linha editorial. Em entrevista ao site PropMark, o CEO da Exame, Pedro Thompson, afirmou que o investimento do banco tinha razões “econômicas” e de “impacto social”.
Objetivos
Uma das primeiras aquisições foi a da Infomoney, pela XP Investimentos, em 2011. O movimento foi considerado bem-sucedido pelo mercado, e ajudou a ampliar a visibilidade da empresa. O site cobre assuntos desde o profissional do mercado até o potencial investidor que não sabe nada sobre a área.
Um dos objetivos comuns deste movimento de compra é a ampliação do número de investidores do país. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Brasil tem cerca de 2,6 milhões CPFs cadastrados na Bolsa de Valores. Entre os ativos digitais, de acordo com dados da Receita Federal e da CVM, já são aproximadamente 99 mil CPFs únicos em exchanges de criptoativos e cerca de 8 mil cotistas em fundos de investimento em criptoativos de gestoras brasileiras.
Ou seja, o movimento das financeiras com seus veículos de comunicação gera um retorno para as empresas – é claro – mas também agrega valor para os leitores e para o mercado. Sabemos que quanto maior a concorrência melhor, tanto na comunicação quanto na economia.