Por João Roncarti
Hoje somos inundados por siglas: KPIs, OKRs, ROI. Dashboards coloridos e relatórios detalhados tornaram-se as bússolas que, supostamente, guiam os líderes e as empresas ao sucesso. O C-Level, pressionado por resultados tangíveis, dedica tempo e recursos consideráveis para definir, medir e apresentar esses indicadores. No entanto, uma verdade inconveniente persiste nas entrelinhas dos gráficos de desempenho: indicadores, por si sós, não engajam.
Pesquisas apontam para uma crise de engajamento no trabalho. Dados como os do Instituto Gallup revelaram que apenas 31% dos funcionários na América Latina estavam engajados no trabalho. Uma das razões é a desconexão entre o trabalho diário e um senso de propósito maior.
Quando a comunicação da liderança se resume a “atingir o número X”, perde-se a oportunidade de conectar a tarefa ao seu significado. Pessoas não são robôs. A gestão baseada puramente em métricas opera sob uma premissa falha: a de que seres humanos são motivados primariamente por recompensas e punições ligadas a números. No entanto, décadas de pesquisa em psicologia e comportamento organizacional, popularizadas por autores como Daniel Pink em seu livro “Motivação 3.0”, mostram que a motivação intrínseca é muito mais poderosa para tarefas que exigem criatividade, resolução de problemas e engajamento genuíno.
Essa motivação é alimentada por três pilares:
Autonomia: O desejo de dirigir a própria vida e trabalho.
Maestria: A ânsia de melhorar em algo que importa.
Propósito: A necessidade de fazer o que fazemos a serviço de algo maior que nós mesmos.
Empresas que prosperam em engajamento entendem isso. Por exemplo, uma empresa reconhecida por seu forte ativismo ambiental conecta suas métricas de negócios diretamente à sua missão de “salvar nosso planeta natal”.
Os funcionários não trabalham apenas para vender roupas, mas para financiar causas ambientais, o que confere um propósito profundo ao seu trabalho diário, muito além dos KPIs de vendas.Como deu para perceber, o papel do C-Level transcende a mera apresentação de resultados. Trata-se de traduzir números em narrativas significativas.
Um KPI ou OKR não deve ser apenas um item em um slide, mas o ponto de partida para uma conversa relevante. Uma das gigantes da tecnologia passou por uma transformação cultural significativa, movendo-se de uma cultura interna descrita como competitiva e focada em métricas individuais para uma abordagem mais colaborativa e centrada na “mentalidade de crescimento” e no impacto no cliente.
Embora as métricas continuem importantes, a comunicação enfatiza o aprendizado, a colaboração e o propósito maior, o que reenergizou a empresa. KPIs, OKRs e dashboards são ferramentas valiosas para a gestão e a tomada de decisão.
Contudo, são apenas mapas que ajudam a navegar. O que verdadeiramente impulsiona o desempenho e o engajamento não é um gráfico, mas sim a compreensão do porquê a jornada importa e a confiança em quem guia o caminho.
Os líderes que compreendem isso passam de replicadores de números para se tornarem contadores de histórias e tradutores de propósito.
Se você busca resultados, precisa investir não apenas em medição, mas em conversas e conexão humana. Afinal, empresas são feitas de pessoas, e pessoas se movem por propósito, não apenas por percentuais.
