Comunicação interna com transparência: mais confiança, menos ruídos

Ao praticar a transparência, a comunicação interna fortalece vínculos, inspira confiança e engaja equipes

Por mais que a realidade às vezes assuste, saber a verdade sempre é melhor do que viver no escuro. Pense no colaborador que descobre por um rumor que sua empresa está prestes a passar por uma transformação. Sem transparência, a comunicação interna, que deveria dar visibilidade aos fatos, abre espaço para fofocas, virando uma simples máquina de mensagens que ninguém lê e, muitas vezes, só geram desânimo. Uma frase famosa atribuída a dalai-lama ilustra bem esse cenário: “A falta de transparência resulta em desconfiança e um profundo sentimento de insegurança”. E ele não poderia estar mais certo. Uma comunicação ruidosa é incapaz de inspirar confiança, engajar equipes ou construir relacionamentos genuínos.

Mais do que uma prática de comunicação interna, a transparência é a chave para fortalecer o senso de pertencimento entre os colaboradores, sendo um dos pilares do ESG – o famoso tripé meio ambiente, social e governança. Afinal, ética, responsabilidade e transparência são os fundamentos mais básicos de uma governança que conecta pessoas a propósitos. Na prática, quando o colaborador sabe o que está acontecendo e entende seu papel na estratégia da empresa, um ciclo positivo se forma: o engajamento cresce, enquanto a organização se torna mais competitiva no mercado.

Ponte entre discurso e prática

Se a transparência é um fator crucial para o sucesso de qualquer negócio, por que tantas empresas ainda tropeçam ao adotá-la? Muitas vezes, o problema reside no fato de que comunicar não é o mesmo que engajar. Em outras palavras, não basta lotar o e-mail dos colaboradores com centenas de mensagens desconexas ou repetitivas; é preciso compartilhar a informação de forma clara e honesta. Quem faz o apontamento é Sheyla Angelotti, gerente de Gestão de Pessoas da Norte Energia e especialista em Psicologia da Educação. “Quando os profissionais são informados de forma honesta e humanizada, eles se sentem mais valorizados e motivados a contribuir com soluções para o sucesso da organização”, crava a especialista.

transparência e comunicação interna
Sheyla Angelotti – Foto: Helder Lana

Mas confiança não se “cria sozinha”. E, definitivamente, não dá para esperar engajamento de alguém em um ambiente onde a transparência se resume a poucas linhas em um relatório. Praticar uma comunicação interna transparente exige práticas consistentes e, acima de tudo, um direcionamento claro. “É primordial que as pessoas sejam consideradas como um dos principais ativos da marca”, destaca Sheyla. E, segundo ela, quando isso acontece, a transparência deixa de ser um conceito abstrato e passa a gerar colaboração, orgulho e criatividade.

Coerência

Segundo a porta-voz da Norte Energia, a transparência se torna real quando as palavras são coerentes com o dia a dia. Nesse sentido, algumas ações simples podem fazer toda a diferença no fortalecimento da cultura organizacional. “Dar voz aos colaboradores; transformar discurso em prática e adotar meios de comunicação com linguagem simples, clara e objetiva são passos fundamentais”, afirma. Mas implementar e-mail, intranet e newsletters é apenas o começo. Sheyla destaca que reuniões periódicas, processos bem definidos e um direcionamento rápido e transparente em momentos de mudança também são indispensáveis para traduzir a estratégia em algo concreto, acessível e alinhado para todos na organização.

Não à toa, o segredo de uma comunicação interna transparente passa por dois itens fundamentais: consistência e integração. Isso significa alinhar os canais à estratégia organizacional, garantindo que a comunicação seja ao mesmo tempo informativa e engajante. Para Vander Giordano, vice-presidente institucional da Multiplan, empresa de investimentos imobiliários e referência na administração de shoppings no país, também é importante que as informações cheguem de forma clara a todos, independentemente de função, área ou hierarquia. “Queremos que a comunicação seja simples e acessível, para que todos se sintam à vontade para participar e propor ideias”, reforça.

Na prática, a Multiplan aposta na diversificação dos canais de comunicação interna para se aproximar ainda mais dos colaboradores. E-mails marketing, newsletters quinzenais, intranet, videowalls, comunicados impressos e redes sociais internas fazem parte dessa estratégia. Vander também reforça o papel das reuniões periódicas com o presidente da empresa, transmitidas ao vivo para todas as unidades, como forma de garantir alinhamento e reforçar a proximidade entre as equipes. Essa abordagem não apenas integra os colaboradores, mas também fortalece a conexão deles com os objetivos da organização, transformando a comunicação interna em uma poderosa ferramenta de engajamento e transparência.

transparência e comunicação interna
Vander Giordano, da Multiplan

O exemplo vem de cima

De fato, o que não faltam são ferramentas para instigar os colaboradores na direção certa. Mas elas de nada servem se o discurso não for abraçado pelas lideranças. O exemplo precisa vir de cima. Para os especialistas, cabe aos líderes mostrar que a transparência não é só discurso, mas uma prática diária. “Ela é essencial para construir confiança. Quando as lideranças compartilham informações de forma clara, os colaboradores se sentem mais próximos dos objetivos da empresa”, destaca Vander Giordano, da Multiplan.

Ou seja, uma comunicação clara e aberta faz mais do que engajar – ela cria um ambiente naturalmente colaborativo, onde as pessoas confiam umas nas outras e, principalmente, na empresa em que trabalham. “Isso faz com que as pessoas se engajem mais, sabendo que fazem parte do todo”, complementa.

Compartilhar tudo ou proteger?

Transparência absoluta pode parecer uma boa ideia, mas a prática exige cautela. Vander é direto ao afirmar que “a transparência precisa andar junto com a responsabilidade”, já que nem tudo pode ser divulgado no exato momento em que acontece. Informações estratégicas requerem cuidado na comunicação, pois podem gerar falsas expectativas e prejudicar a empresa. Na Multiplan, essa questão é ainda mais delicada, tendo em vista que a empresa é uma companhia de capital aberto e com ações na Bolsa de Valores. “Alguns assuntos exigem sigilo até que estejam prontos para serem compartilhados. Aqui, buscamos ser o mais abertos o possível, garantindo que o que é divulgado seja relevante e seguro para todos”, explica.

Apesar das restrições, o compromisso da comunicação interna deve ser claro: manter os colaboradores informados, sempre com a devida transparência, sobre o que realmente impacta o dia a dia deles. Mas, sem o direcionamento correto, ela pode facilmente esbarrar em um dilema muito comum nos tempos atuais: comunicar demais ou de menos. O excesso de informações inúteis pode infoxicar o colaborador, enquanto uma comunicação insuficiente pode deixá-lo no escuro – e nenhuma dessas situações é ideal.

Outubro Rosa na Multiplan: um momento de escuta e muito acolhimento

Transparência é o melhor remédio

Esse desafio é amplificado no contexto do mundo BANI, termo que, como explica Sheyla Angelotti, gerente de Gestão de Pessoas da Norte Energia, define a realidade atual como frágil, ansiosa, não-linear e incompreensível. Nesse cenário, a comunicação interna precisa proporcionar clareza e equilíbrio ao diálogo com o colaborador. “A transparência na comunicação interna é absoluta. Não se trata de limites, mas da forma como as mensagens, até mesmo as mais difíceis e sensíveis, são comunicadas”, observa.

Segundo a especialista, encontrar o ponto de equilíbrio entre engajar e sobrecarregar é o grande desafio da atualidade. Isso porque, nas palavras dela, a distância entre as informações que motivam e os dados que desorientam é “uma linha bastante tênue”. Por isso, a comunicação interna deve priorizar qualidades como simplicidade e coerência para que as mensagens sejam compreendidas por todos e igualmente relevantes.

Imagens aéreas da Casa de Força Principal da UHE Belo Monte – da Norte Energia

No mundo BANI, mais do que nunca, resiliência, flexibilidade e transparência não são apenas desejáveis, mas indispensáveis. “Isso reduz inseguranças, melhora o alinhamento de expectativas e permite que todos entendam como seu trabalho e propósito contribuem para os objetivos coletivos”, finaliza.


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