Para o ESG, orçamento não é o problema

Mesmo com verbas restritas é possível iniciar implantação sólida de políticas de ESG segundo especialistas

A desculpa da falta de recursos não é um empecilho para a implantação de programas de ESG nas empresas. Mesmo com orçamento restrito é possível começar e implementar de forma adequada, segundo especialistas durante o 3º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação – No limite da mudança, que aconteceu dias 23 e 24, no modelo online e gratuito. Promovido pelas Plataformas Negócios da Comunicação e Melhor RH e pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação

O assunto foi discutido no painel: “Pensando sem caixa – Como promover inovação e mudança com orçamento restrito”, com Dani Plesnik, coordenadora da Human SA; Fabiano Rangel, executivo de Desenvolvimento Organizacional e Institucional e Lívia Desenso Monteiro, head de RH da Nexa Resources.

Fabiano Rangel

Rangel tocou no ponto fundamental que é, falando de orçamento, que as restrições não atingem apenas o ESG e sim também todas as áreas operacionais das companhias, e nossas ambições costumam ser maiores que nossos orçamentos. Mas o tema ESG, segundo ele, quase sempre é sequestrado, e constantemente levado a um campo de certo ceticismo. “Se eu tenho boas práticas, eu quero levar isso para o público interno e externo, e se falta orçamento pensamos: esse tema não é tão importante para a organização que não prioriza isso. E, por outro lado, se tenho os recursos e faço bem e divulgo, tem gente dentro e fora da empresa que irá dizer que estamos dourando a pílula. Tudo isso nos leva a lugares ruidosos. Mais do que comunicar o ESG e ter uma área de comunicação, ou uma área de ESG, devemos pensar o que queremos expressar do ESG, o que isso é importante para os nossos diferentes público. Se não comunicarmos bem, para os públicos internos e externos, isso não esta ajudando a agenda a se desenvolver. Então, para ele, não é uma questão de ter ou não recursos, e sim o que fazer. Os recursos ajudam, obviamente, mas ele faz questão de frisar que a ausência de recursos não impede as ações.

Dani complementou pontos importantes que são a integridade e a consistência. “Porque a forma como nos posicionamos no mercado falta a humildade de dizer que não chegamos ainda. Mas que estamos no processo e como tem sido esse processo. É uma área que já vem com muitos revezes, em função de históricos de mercado,  muitos greenwashing, então já partimos de uma percepção negativa na construção de um narrativa. Temos que reduzir o espaço entre o que estamos fazendo e o que estamos divulgando. E ser consistente e transparente nesse processo”.

Livia Monteiro

Livia, por sua vez, que trabalha em mineração, enfatizou que sua empresa respira ESG, mesmo antes de nascer esse termo, “mas tivemos acontecimentos no Brasil que foram Brumadinho e Mariana, que mudaram muito a forma de se comunicar internamente. Pois mineração ainda tem um viés negativo no público. E a partir daí como fazer para sustentar aquilo que a gente prega. A transparência nesses momentos foi essencial. Na Nexa temos mais de 48 barragens e como fazer para que as pessoas se sintam seguras ali. O que funcionou foi falarmos via associações e instituições do setor, que tem muita experiência com outras empresas e fortalece a narrativa. Temos grupos de trabalho no IBRAM e trocamos muitas práticas e experiências, assim adquirimos experiências internas e externas em nossas narrativas.  Então na minha experiência aprendi que tem que ser transparente, aprender a falar dos perigos que estamos sujeitos, onde iremos aplicar recursos de prevenção. No processo de narrativa para a sociedade temos que mostrar que é um aprendizado constante”.

Falando de três dimensões básicas do ESG, Rangel enfatizou a transversalidade, que exige uma leitura muito clara de materialidade; e materialidade, como segundo ponto, sobre os aspectos intrínsecos do meu negócio gero externalidades positivas e negativas. “E falando de materialidade e externalidade temos aquela visão enviesada de risco. Mas o risco pode ser positivo e negativo dependendo de como reagimos a ele. Então posso ter externalidades positivas, que passam por transparência e integridade. E o último aspecto é como nós amarramos tudo isso, de forma consistente e coerente. Assumir nossas vulnerabilidades. O risco de uma vulnerabilidade é um processo de desenvolvimento de aprendizagem para aprimorar nossas condutas”.

Dani Plesnik

Papel do líder

Uma das coisas que incomodam Dani, como ele bem colocou, é que os investimentos de ESG dependem do líder que está na empresa no momento. Se já é difícil para um profissional engajado fazer, imagina mobilizar toda uma organização, e aí envolve uma mudança de cultura, envolve investimento. O que ela recomenda num primeiro momento: mapeamento, discorrendo quais os riscos mais eminentes, o que iremos priorizar e não tentar fazer tudo de uma vez. Ter uma estratégia sustentável, sabendo que existirá momentos de maiores investimentos, popularmente conhecidos como de vacas gordas, “Mas parece que as empresas só reagem quando acontece um grande problema, uma crise, e aí surge o dinheiro, os grandes investimentos”.

Livia concluiu que dinheiro surge de alguma forma. Mas quando falamos de cultura é algo de cada um, pois uma cultura é feita por vários indivíduos de uma companhia. “E se tivermos uma cultura de ESG forte podemos aprender melhor com os erros. Precisamos ter uma cultura psicológica em saber lidar com os erros, pois eles irão acontecer”.

Dani complementou, falando de segurança psicológica, que, o que acontece muito quando temos a conversas francas. “Quando temos segurança psicológica podemos falar porque não iremos ser penalizados. Por exemplo, a escolha de usar ou não um copo de plástico, canudos de plástico, ou de optar por um fornecedor de brindes que tem um custo maior porque pratica o ESG, e assim perdemos um pouco do lucro da empresa nessa escolha. Ter um ambiente saudável para discutir tudo isso se trabalha melhor com a sustentabilidade”.

Palavra do apoiador

Para a Intel, uma das empresas apoiadoras do Fórum, ESG não é apenas uma sigla ou uma tendência do mercado — é parte essencial de como operamos e pensamos o futuro. “Acreditamos que nosso sucesso como empresa está diretamente ligado ao impacto positivo que conseguimos gerar, tanto dentro da Intel quanto na sociedade em geral”, explica Roberta Knijnik,  diretora de Vendas e Marketing para Américas & Líder de Diversidade e Inclusão para America Latina.

Roberta Knijnik. Foto Wanezza Soares

“Quando falamos de diversidade e inclusão, por exemplo”, continua Roberta, “isso vai além de uma simples iniciativa. Estamos falando de transformar o ambiente de trabalho, tornando-o mais diversos e inovador. Uma prova disso é nosso compromisso de aumentar a presença de mulheres em cargos técnicos e de liderança. Sabemos que equipes com diferentes perspectivas são mais criativas e trazem soluções mais inovadoras, o que nos fortalece como negócio”.

“Outro ponto importante é o investimento que estamos fazendo para promover essa inclusão no setor de tecnologia como um todo. Iniciativas como o Cloud Girls, que é um parceiro da Intel, ajudam a capacitar mais mulheres para atuarem em tecnologia, um campo historicamente dominado por homens. Sabemos que a mudança é um processo, mas estamos determinados a seguir nesse caminho. Para a Intel, ESG é sobre fazer a coisa certa e, ao mesmo tempo, garantir que estamos preparados para o futuro, um futuro que seja mais inclusivo, sustentável e inovador”.

Ao falar sobre a importância do Fórum ESG Melhor RH e Comunicação, ela afirma que “foi uma ótima oportunidade para trocar experiências e ver na prática o que outras empresas estão fazendo em termos de ESG. No painel ‘Cocriando o futuro’, que eu tive a chance de participar, falamos sobre como iniciativas colaborativas podem não apenas preparar nossas equipes para os desafios futuros, mas também amplificar  o impacto positivo que podemos ter nas nossas organizações e na sociedade”.

“O mais interessante foi aprender com exemplos reais de como essas iniciativas estão sendo aplicadas. Isso nos lembra da importância de ações concretas e consistentes, que fazem a diferença tanto para os colaboradores quanto para a sociedade. Esses eventos são essenciais para inspirar novas práticas e reforçar o compromisso com o ESG no dia a dia das empresas”.


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