Olho nos valores
A atualização constante dos valores corporativos, segundo a diretora de RH da Cargill, Simone Beier, pode contribuir para que a cultura da organização reverbere além do público interno, além de promover resultados e satisfação entre os colaboradores.
De acordo com a executiva, há cinco anos, a Cargill realizou um trabalho global para trazer mais uniformidade a essas diretrizes. “Simplificamos os statements e definimos três valores principais como condutores de todas as ações da empresa: fazer a coisa certa, colocar as pessoas em primeiro lugar e superar as metas”, recorda Beier.
A executiva destaca o fato de que são valores positivos, diretos e universais – funcionam para os diversos negócios e regiões em que a companhia vem atuando nos últimos anos.
“Esses valores norteiam os comportamentos necessários para atingirmos nossos resultados, sempre a partir de ações orientadas para o cliente, voltadas para inovação, que conquistem nossos objetivos e envolvam todo o time”, pontua.
RH para garantir a coerência
Para o CEO da Fiter, Sergio Amad, o RH virou, sem dúvida, a área especializada em criar e difundir a cultura organizacional, contribuindo com a construção da marca empregadora. “A cultura precisa ser coerente e levar em consideração peculiaridades de cada setor, sob o risco de torná-la incongruente e suscetível a detratores”, afirma.
Amad pontua que o RH se torna guardião da cultura, à medida que é uma das poucas estruturas com o olhar voltado a essa questão, e também a única capaz de alinhar as relações expectativa/ realidade e discurso/prática de maneira global na companhia.
Nessa linha de raciocínio, a diretora executiva de Pessoas da NTT DATA Brasil, Tatiana Barrocal Porto, acredita que, para conseguir engajamento dos colaboradores à cultura organizacional, os processos da empresa devem estar alinhados aos valores culturais. “De nada adianta, por exemplo, estimular o trabalho em equipe se os indicadores apenas avaliam o desempenho individual”, ela diz, colocando os indicadores em destaque.
Falar de felicidade no trabalho, principalmente em empresas focadas em metas, pode gerar um efeito contrário ao desejado. Isso porque, segundo Tatiana, felicidade está associada a uma cultura de bem-estar, de equilíbrio, onde a excessiva agressividade por resultados não se encaixa.
Contudo, Tatiana comenta que o cuidado na linguagem não inviabiliza ações humanizadas compartilhando, inclusive, algumas estratégias que utilizam o discurso a favor da transformação, sem chocar o público interno.
No caso de culturas organizacionais mais resistentes à mudança, a diretora Global de Gente, Gestão e Comunicação da Votorantim Cimentos, Cinthia Bossi recomenda a construção do que chama de “pontes de transição”.
“Promover diálogos sobre o que se pretende atingir sem desconsiderar o histórico da empresa contribui para a evolução da cultura organizacional sem eliminar o que já se conquistou até então”, afirma, com o entendimento de que é necessário imprimir coerência para a trajetória das companhias, mostrando avanços, caminhos e possíveis ajuste de rota para cumprir as metas, em termos de cultura organizacional.
Cada passo ou pessoa contam
Para o consultor Almiro dos Reis Neto, da Franquality Consultores, nenhuma mudança cultural acontece sem três aspectos: dados que justifiquem essa transformação, rituais que ajudem os colaboradores a internalizar a mudança e habilidade e sensibilidade para fazer tudo isso acontecer levando em consideração a realidade da empresa.
“A liderança da empresa é o principal fator disseminador da cultura e, portanto, da estratégia. Rituais ajudam a criar a comunicação, que vai incentivar a liderança a ser o agente transformador e inspirador das mudanças que se quer implementar”, explica.
O desenvolvimento da inteligência emocional também pode contribuir com a cultura organizacional por capacitar os colaboradores a enfrentar desafios, resolver conflitos e colaborar eficazmente, resultando em equipes mais resilientes e engajadas.
Para a diretora de RH do grupo Polenghi, Fernanda Tricerri, colaboradores com alta inteligência emocional são mais adaptáveis a mudanças. “Habilidades emocionais resultam em um aumento geral da produtividade da equipe e estimulam uma cultura organizacional que valoriza respeito, empatia e colaboração”, finaliza a executiva.
Reportagem: Melhor RH