Em um mundo cada vez mais conectado e socialmente consciente, as empresas estão percebendo a importância de ter um posicionamento institucional claro e bem estruturado. Isso não se resume apenas à manifestação de valores e princípios, mas também abrange a definição e aplicação de um código de conduta eficiente.
Um estudo realizado pela Reputation Institute em 2020, por exemplo, mostrou que as empresas que gerenciam e se envolvem em causas sociais de maneira eficaz tendem a ter uma reputação melhor perante os consumidores e stakeholders. Além disso, essas empresas também demonstraram aumentar a lealdade do consumidor, a atração e retenção de talentos e a vantagem competitiva no mercado.
Outra pesquisa conduzida pela Cone Communications em 2019 revelou que 87% dos consumidores têm mais chances de apoiar uma empresa que defenda uma causa social que eles acreditam. Além disso, 76% dos consumidores dizem que esperam que as empresas tomem medidas para apoiar questões sociais e ambientais importantes.
Os estudos revelam que as empresas estão reconhecendo cada vez mais a relevância de se engajarem em causas sociais autênticas, pois isso impacta diretamente na percepção e reputação da marca perante seu público.
Durante o 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão, ocorreu o painel “Guia de enfrentamento à discriminação – A importância do posicionamento institucional na estruturação de condutas“, com a participação de Mario Augusto Costa Valle, Priscila De Nadai Fonseca e Renato Franco Morelli Mira, todos representando o Senac São Paulo. Nesse debate, foi discutido o papel crucial dessa postura para as empresas e para o fortalecimento da diversidade dentro das empresas.
É preciso olhar para dentro da empresa
Um código de conduta é um conjunto de diretrizes e normas que orientam o comportamento ético dos colaboradores e demais envolvidos com a empresa, tanto interna quanto externamente. Ele serve como uma bússola para a tomada de decisões, ações e relacionamento com stakeholders, sendo essencial para tomada de decisões. “Definir um código de conformidade estabelece maneiras de atuação dos membros em uma empresa, isso já deixa muito claro o que se fazer e se tornar em uma realidade prática”, explica Priscila.
Para garantir que o código de conduta seja realmente eficaz e seguido à risca, é essencial que a empresa possua canais de comunicação seguros e transparentes. Esses canais devem permitir que os colaboradores denunciem casos de violação ética ou qualquer outra irregularidade, sem medo de represálias ou punições injustas.
Priscila lembra que antes é preciso olhar para os líderes, para garantir que eles também estejam aderindo ao código de conduta e mantendo um ambiente de trabalho saudável e ético, e principalmente um ambiente diverso. “Além dos gestores é preciso olhar para as missões, para que seja condizente para além das propagandas. É essencial que o dia a dia tenha a noção de diversidade porque é essencial”, destaca a profissional.
Na opinião de Mauro Augusto, os gestores são essenciais para que esse processo se concretize dentro das empresas. “É preciso olhar para o quadro de gestores e pensar como mudar esse cenário, e colorir as empresas em todos os níveis hierárquicos, sendo fundamental olhar para o quadro de quem manda”, afirma Augusto.
Letramento é essencial e líderes precisam querer mudar
Os líderes são fundamentais para promover a diversidade e a inclusão dentro das organizações. Eles precisam ser exemplos e promover um ambiente de trabalho que respeite e valorize as diferenças. Além disso, é importante que os gestores estejam abertos a ouvir as demandas e preocupações dos colaboradores, acreditam os speakers.
Renato acredita que para haver diversidade e inclusão dentro e fora das empresas, é preciso um processo de letramento para incluir pessoas diversas. O letramento para a Diversidade e Inclusão, ou D&I, é um processo composto por diversas práticas cujo principal objetivo é promover a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, independentemente de gênero, raça, orientação sexual, capacidade física, idade, entre outras características. Esse letramento visa conscientizar as pessoas sobre a importância da diversidade e da inclusão, promovendo um ambiente de trabalho e uma sociedade mais justa e acolhedora.
Para que a diversidade e a inclusão sejam efetivamente promovidas, o letramento para D&I envolve a educação sobre questões relacionadas à diversidade, tais como o combate ao preconceito, estereótipos e discriminação, além de destacar a importância de valorizar e respeitar as diferenças. O letramento também aborda a conscientização sobre privilégios e a necessidade de criar espaços inclusivos.
Além disso, o letramento para D&I inclui a promoção de práticas inclusivas no ambiente de trabalho, o desenvolvimento de políticas internas que garantam a equidade de oportunidades e a valorização da diversidade, bem como a criação de programas de treinamento e sensibilização para os colaboradores.
“O letramento precisa estar conectado ao processo de autonomia, para se letrar para procurar outras realidades possíveis, para ter lentes mais diversas e para que mudanças sejam feitas na empresa e que tenham olhar para a mudança”, afirma Renato.
Ele explica que o letramento inclusivo envolve a promoção da igualdade de oportunidades, o combate aos preconceitos e a valorização das diferenças. Destaca que é importante que isso não se torne um fardo para as pessoas, mas sim um respaldo para construir um ambiente diverso. “Pensar a comunicação está conectado a isso, porque é através dela que sonhamos, não tem como pensar em D&I sem saber para quem estamos comunicando”, ressalta.
Além disso, Renato ressalta a importância de criar ambientes seguros e acolhedores para que todos os colaboradores se sintam confortáveis em expressar suas identidades e opiniões. “A diversidade e a inclusão devem ser incentivadas em todos os aspectos do ambiente de trabalho, desde a contratação e promoção de funcionários até as políticas internas e práticas cotidianas”, destaca.
Para o profissional, é essencial que as empresas se comprometam de forma genuína com a diversidade e a inclusão, e que isso seja refletido em todas as áreas da organização. “É preciso ter um corpo de funcionários que tragam representatividade, principalmente em como trazer a diversidade no produto final e nas novas realidades que a empresa pode criar atuando dentro de uma sociedade”, completa Renato.
Redes sociais são lentes de como vemos o mundo
Renato acredita que as redes sociais exercem um papel fundamental na promoção da diversidade e inclusão social. Ele acredita que as redes sociais possibilitam que diferentes vozes sejam ouvidas e promovam a diversidade de pensamentos, culturas e experiências. Além disso, Renato vê as redes sociais como ferramentas poderosas para a conscientização e educação sobre questões relacionadas à inclusão, como a luta contra o preconceito e a promoção da igualdade de oportunidades. “As redes são as lentes que utilizamos para ver o mundo, aquilo que consumimos são os nossos olhos para a realidade e vai se retroalimentando na forma como vemos o mundo e a nossa realidade”, aponta.
Mario Augusto lembra que é preciso fazer o exercício de pensar de que lugar olhamos para as questões relacionadas ao D&I e como se criam novas condutas: “Esperamos que as pessoas tenham condutas que sejam alinhadas ao que represento neste mundo e como posso interferir para que seja bom para todos”.
O profissional ressalta que quando se fala em diversidade e inclusão, não se está falando apenas em fazer um mundo melhor para negros, mulheres, LGBTQIA+ ou pessoas com deficiência, mas sim em criar um ambiente onde todos se sintam respeitados, incluídos e valorizados. Mario Augusto enfatiza que a diversidade vai muito além de questões de raça, gênero e orientação sexual, envolve também a inclusão de diferentes perspectivas, experiências, habilidades e necessidades. “Não estamos falando apenas das minorias, mas em um mundo melhor para todos”, conclui.
Opinião de apoiador do evento
O CIEE é um dos apoiadores do 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão. Para Rodrigo Dib, superintendente institucional do CIEE, “Discussões como as produzidas pelo 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão do Cecom, e pelo Encontro CIEE da Diversidade e Inclusão, são fundamentais para a conscientização e combate aos preconceitos como racismo, homofobia, capacitismo e sexismo. O evento vem se consolidando como um espaço para compreender erros e percepções. Neste sentido, é essencial discutir tais questões dentro do ambiente de trabalho e com profissionais que fazem parte do dia a dia das corporações”.
Ainda sobre o 3º Fórum do Cecom, Dib faz a ligação imprescindível do tema com gestores de recursos humanos: “Os profissionais de Recursos Humanos são fundamentais para esse processo transformador nas empresas, pois estão à frente dos processos de recrutamento e seleção. Além disso, são essenciais para a construção de um clima organizacional mais saudável e livre de preconceitos. O encontro trouxe diferentes visões de organizações inovadoras que pontuaram as vantagens de atuar com público diverso e promover a inclusão, mostrando na prática a relevância da diversidade no ambiente corporativo”.
Dib recomenda também alguns pontos importantes para a boa promoção da D&I numa organização: “Para construir e consolidar um ambiente mais diverso e inclusivo é necessária a consolidação da cultura organizacional e espaço para que os colaboradores se sintam efetivamente parte da empresa. Uma cultura que abraça a diversidade deve sustentar os pilares de respeito às diferenças individuais e as singularidades de cada indivíduo, e, para isso, as lideranças possuem um papel fundamental de transformar boas intenções em realidade, com alinhamento de valores e sem discriminações de qualquer tipo”.
“Neste sentido, um bom exemplo dessa prática é o Comitê Interno de Diversidade e Inclusão, criado há 5 anos pelo Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE, para fomentar o tema corporativamente e promover um maior entendimento de todas as questões que envolvem a diversidade e inclusão por parte dos colaboradores e lideranças. O Comitê atua também acolhendo e apoiando aqueles que fazem parte de minorias e grupos sub-representados dentro da instituição. Essas ações contribuem para que os colaboradores se sintam parte da instituição e dá liberdade para serem quem são.”
“Este movimento de transformação cultural envolve também um processo profundo de identificação e revisão de posturas e práticas cotidianas da organização. Por fim, a criação de vagas afirmativas, programas sociais e debates sobre o tema também contribuem positivamente para a promoção de boas práticas.”
Confira esse e outros painéis do primeiro dia do 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão, ele está completo no canal da Negócios da Comunicação no Youtube. Acesse aqui.