O ano de 2020 acabou, mas os efeitos de um ano atípico devem alimentar as tendências pelos próximos anos. Esta é uma das conclusões da pesquisa feita pela Cushman and Wakefield junto à 122 executivos de multinacionais que atuam no Brasil. A pesquisa revelou que 73,8% das empresas pesquisadas pretendem manter o trabalho de casa como uma opção definitiva no pós-pandemia.
Um estudo feito pela Technology Review Brasil, uma das principais publicações de tecnologia e negócios do mundo, que leva a chancela do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) afirma que 80% das empresas no país terão algum tipo de home office.
Muitas organizações já tornaram públicas suas intenções de permanecer em home office, como Google, Twitter, Facebook. Estudos e pesquisas levam a uma tendência inexorável: O futuro será híbrido, com pessoas e negócios virtuais, mas quais são as habilidades de liderança que farão a diferença neste novo jeito de trabalhar?
O próprio conceito de liderar vem sofrendo transformações importantes com o passar dos anos. Se fizermos uma reflexão sobre as habilidades de liderança ao longo dos anos, vamos perceber notórias mudanças, no estilo e na forma de liderar, fruto das grandes revoluções no mundo do Trabalho.
Liderança
O primeiro grande paradigma do trabalho surgiu no século 18 quando o trabalho manual deu lugar às máquinas industriais. Liderar significava pensar em eficiência das máquinas e ganhos de produtividade, liderança era definida como traços e personalidade. A segunda revolução trouxe a evolução em vários tipos de indústria, automóveis principalmente. Nesta época começava-se a analisar a liderança do ponto de vista comportamental. Foi a partir da terceira revolução industrial, marcada pela transição da era analógica para a digital, que o líder passou a ser definido como alguém que tivesse que liderar conforme a situação levando em consideração a maturidade da equipe. Neste período o líder teve que aprender a fazer a transição de um líder transacional, aquele que negocia recompensa e punições, para um líder transformacional, aquele que inspira e desenvolve seguidores. Foi na esteira da quarta revolução industrial, era marcada pelas grandes transformações digitais – inteligência artificial, robótica, internet das coisas, que a pandemia mundial surgiu, como um desafio adicional de inspirar e engajar pessoas com o pano de fundo da incerteza e da vulnerabilidade.
Pensar em habilidades de liderança requer profundidade e contextualização. Vince Molinaro em seu livro excepcional: Leadership Contract traz o conceito de accountability que em português seria: se apropriar pessoalmente de seu papel de líder. Penso que este é um bom começo. Apropriar-se de seu papel significa dizer que: “isto é meu e eu tenho responsabilidades e deveres” então, a primeira grande habilidade a desenvolver é o Accountability.
Se o líder assume o seu papel, com todas as letrinhas miúdas que vem embutidas em seu contrato, ele precisa entender o contexto, as pessoas, o seu negócio, a diversidade de seu time e principalmente o que mobiliza as pessoas, então a segunda habilidade é a consciência do contexto, de que forma este líder vai agregar valor e fazer a diferença naquele ambiente.
Desafios
A pandemia coloca o líder frente à uma diversidade incrível em termos de dificuldades e particularidades. Nem todos os colaboradores gostam do home office, as pessoas têm condições financeiras diferentes, nem todos tem os mesmos compromissos pessoais com família, filhos, muitos problemas emocionais surgem de forma silenciosa, sem fazer alarde, então as habilidades que não podem faltar no líder são a flexibilidade e a empatia.
Liderar virtualmente requer criatividade e curiosidade para se reinventar continuamente e, este processo precisa ser feito COM as pessoas, de forma participava e inclusiva, aproveitando a diversidade da equipe, contudo vale ressaltar: a criatividade e a curiosidade não brotam em ambientes tóxicos, onde há falta de transparência e confiança.
David Rock, neurocientista, em seu livro: Liderança Tranquila, traz a necessidade do líder se adaptar aos novos tempos levando em consideração as descobertas da neuroliderança. É quase impossível destruir um sistema de conexões – ou seja, um hábito cristalizado, mas é fácil criar novas conexões – ou seja, criar novas formas de fazer as coisas. Para isto o líder não deve dizer aos outros o que fazer, deve ensiná-los a pensar.
Por fim, o líder deve ter consciência que o seu legado transcende, é muito mais amplo do que a empresa e a posição que ele ocupa, e, para fechar este artigo trago o pensamento de Carl Buehner: “as pessoas esquecerão o que você disse, as pessoas esquecerão o que você fez, mas elas nunca vão esquecer como você as fez sentir.”