O paradoxo da comunicação: mais engajamento e menos diálogo

Hoje, com um simples clique, demonstramos interesse pelo que vemos. Não há mais a necessidade de comentar ou iniciar uma conversa

Por Diana Rodrigues

A forma como nos comunicamos nas redes sociais passou por uma transformação radical. Quem se lembra de quando uma curtida era apenas o ponto de partida para uma conversa? Navegávamos por feeds, interagíamos com comentários, expressávamos admiração ou, no mínimo, elogiávamos de forma genuína. Essa troca, que fortalecia laços, cedeu espaço para algo mais ágil, automático e, por vezes, superficial. Refiro-me
às curtidas nas redes como Instagram, TikTok e LinkedIn.

Hoje, com um simples clique, demonstramos interesse pelo que vemos. Não há mais a necessidade de comentar ou iniciar uma conversa. Curtir nos dá a sensação de participar de uma discussão, mesmo sem proferir uma palavra. E o marketing e a comunicação, com sua obsessão por engajamento e métricas, abraçou essa ideia de corpo e alma. Mas, por mais que essa dinâmica tenha se tornado a norma, algo valioso está se perdendo no
caminho: a genuína conexão humana.

Será que, ao priorizarmos os números e as reações instantâneas, não estamos negligenciando a essência da comunicação? Será que a comunicação não está perdendo sua profundidade? Uma rápida pesquisa na
internet revela manchetes como “Brasileiros que passam mais tempo nas redes sociais são os que têm ansiedade”, “Registros de ansiedade entre crianças e jovens superam os de adultos pela 1ª vez no Brasil”. O impacto psicológico dessa nova dinâmica social é um tema urgente e que nós, da
comunicação, precisamos abordar.

Não podemos nos limitar a métricas de engajamento sem considerar o contexto. A mesma tecnologia que facilita conexões pode estar reforçando padrões que isolam e aumentam a ansiedade. Se nosso papel sempre foi
entender o consumidor, agora precisamos ir além: como construir narrativas que incentivem interações mais saudáveis? As redes sociais não vão desaparecer, mas podem evoluir. Como queremos fazer parte dessa
mudança?

Se estamos tão focados na eficiência, devemos refletir sobre o que estamos sacrificando em nome da praticidade. A questão não se resume a curtidas, mas sim ao que estamos abrindo mão nesse processo. Criamos tecnologias para otimizar o tempo, simplificar tarefas e conectar pessoas, mas, paradoxalmente, nunca estivemos tão sobrecarregados e distantes uns dos outros.

O marketing, como um grande catalisador de tendências, desempenha um papel crucial. Podemos continuar alimentando interações superficiais ou encontrar caminhos para promover conexões mais autênticas, que
valorizem a conversa e não apenas o engajamento instantâneo. O desafio não está em abandonar as formas de interação, mas em entender como torná-las mais humanas.

Porque um “like”; jamais terá o poder de uma conversa. E, se almejamos que a comunicação evolua sem perder sua essência, talvez seja o momento de recordar que, por trás de cada tela, ainda existem pessoas buscando se
conectar de verdade.

 

 

 

Diana Rodrigues é diretora de Comunicação e Marketing da TOTVS

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