A Comunicação Interna assumiu um papel de transformação cultural além da produção de conteúdo. O que importa são as mudanças promovidas pelas informações e campanhas que protagoniza, principalmente em aspetos de saúde e bem-estar e no suporte de um aprendizado contínuo.

Fábio Gomes França, gerente de Comunicação Interna no Tribunal de Contas da União (TCU), que atua com o desafio de trabalhar em um órgão publico, tem promovido diversas campanhas de bem-estar, saúde mental e temas correlatos. “Esse é o grande desafio que temos no ambiente corporativo”, disse Fábio, citando pesquisa recente de Tendências de Gestão de Pessoas, da GPTW (Great People at Work), no qual o último relatório apontou que o grande desafio de gestão de pessoas é a comunicação interna colado com saúde mental. A respeito de seu trabalho, disse que uma das diretrizes recentes do TCU é a questão de saúde mental, combate ao assédio e diversidade, equidade e inclusão e recentemente foi criada uma campanha interna grande com esse objetivo. No contexto do Setembro Amarelo – a respeito do risco do suicídio -, em 2023, com o apoio do chefe de Psicossocial na área de saúde da instituição e discutiu o foco da campanha de um assunto que já tinha sido mapeado internamente. “O responsável pela questão Psicossocial disse que o importante é fazer com que as pessoas olhassem para o lado, para um possível colega em sofrimento. E várias pessoas, como eu, contaram suas histórias de momentos difíceis que tiveram o acolhimento e apoio de alguém do TCU que lhes estenderam a mão”. A campanha foi chamada de Pares, Escute e Acolha.

Citando o movimento Capitalismo Consciente, que começou e 2010, nos EUA com John Mackey, Flávia Caldeira, especialista de Comunicação Corporativa, destaca que “estamos aqui sim para ganhar dinheiro, para ter sucesso, mas também para deixar legado e precisamos fazer de nosso dia a dia um ambiente saudável, socioambiental. Essa responsabilidade da saúde mental e socioambiental no mundo corporativo é cada vez mais exigida”. E assim o ambiente pressiona para sermos profissionais exigentes e quem não consegue acaba adoecendo, segundo ela.
Capitalismo consciente
Flávia fala em liderança cuidadosa, e o Capitalismo Consciente enumera quatro grandes pilares: propósito, que numa empesa é mais do que gerar lucro e sim estar alinhado com os que trabalham juntos; orientação para stakeholders, ou seja, o negócio deve gerar valor para todas as partes interessadas; cultura consciente, que é a incorporação desses valores e princípios em suas ações; e, finalmente, a liderança consciente, que são os líderes responsáveis por criar esses valores”.
Destaca ainda um levantamento da Deloitte apontando que 93% das empresas reconhecem que o bem-estar dos funcionários impacta diretamente na rentabilidade nos negócios. Mas somente 22% desses entrevistados dizem que fazem algo efetivo para esse bem-estar.

Meire Blumen, gerente corporativa de Saúde na Motiva, fala como é difícil, de fato, situações onde o medo e o estigma nos diferenciam nesse cuidado. “Na Motiva, com 17 mil funcionários, o que traz uma motivação é que as pessoas não estão dentro de um ambiente controlado, estão dispersas em 13 estados, em diferentes plataformas – rodovias, aeroportos, ferrovias. E para que a saúde entre em movimento o papel da comunicação é fundamental. Pensado na dificuldade em se pedir um suporte emocional, pois estudos evidenciam que 70% dos casos declaram essa dificuldade. E ano passado foi lançada a capacitação de socorristas em saúde mental. “Pensando em levar esse primeiro nível de atendimento para onde nossas pessoas estão”. Esses socorristas, ela explicou, “funciona como uma brigada de incêndio. O primeiro nível de suporte, e eles são capacitados para isso”. Tais profissionais percebem sinais que uma pessoa precisa de ajuda, ou oferece suporte quando são procurados. E faz a ponte com programas estruturados da empresa.
Fábio França, Flávia Caldeira e Meire Blumen estiveram juntos no painel “Pilar do bem-estar – Comunicação como ferramenta do cuidado e segurança”, dentro do 4º Fórum Empresas que Melhor se Comunicam com Colaboradores.
A importância da cultura
No mesmo evento, outro painel, “Palavra de mentor – CI como suporte para aprendizado contínuo, voltou ao tema de como a comunicação Interna pode ajudar em programas de capacitação, com a participação de Claudia Cezaro Zanuso, sócia-diretora da Duecom; Lucas Moura, gerente de Comunicação e Responsabilidade Corporativa na Construtora Tenda; e Tatiani Longo, diretora de Comunicação Interna e Endomarketing da Alfa Comunicação e Conteúdo.

Claudia destaca que o líder é o condutor da cultura, mas o aprendizado contínuo acaba sendo um dos papéis da Comunicação Interna. Por isso, ela contextualiza lembrando que o trabalho de comunicação interna “nasce desse desenho da cultura organizacional, o que, uma vez entendida o que é a cultura, esse jeito de fazer negócio e quando acontece. Isso que está declarado como valor, missão e posicionamento a empresa, tudo isso vai gerar um jeito da gente trabalhar esse relacionamento interno e poder contribuir para esse aprendizado contínuo”. Porque “aprender não é um evento isolado, e sim uma jornada constante”.
Tatiana posiciona essa questão dizendo que a comunicação interna é essa ferramenta poderosa que, quando utilizada e maneira estratégica pelas empresas, traz muitos resultados positivos. “Devido ao fato da comunicação ser uma habilidade natural do indivíduo, as empresas muitas vezes pensam que ela vai acontecer de qualquer modo lá na ponta. E não é planejada e muitas vezes não atinge seu objetivo. Mas quando ela é direta, transparente e conversa com os diversos públicos a empresa, ela envolve e engaja o colaborador. O funcionário quer saber o que ele contribui com o todo, como a peça do quebra-cabeça encaixa na empresa como um todo”. Quando há clareza, transparência no propósito na missão da empresa, o funcionário engaja naturalmente, acredita Tatiana, esclarecendo que para que isso aconteça a Comunicação deve ser efetiva e alinhada às estratégias da empresa.

Lucas Moura admite que comunicação interna sempre foi algo complexo, e que depois da pandemia ficou um pouco mais difícil de trabalhar. Apesar disso, a área ganhou um protagonismo que não tinha antes. As ferramentas também mudaram: “No passado se comunicar era enviar um email e pronto. O problema era a outra pessoa, se não abriu o email ou leu e não entendeu”. Hoje, existem redes sociais interna, um convívio entre o online e o presencial. E o que fica, hoje, como principal, destaca, é a cultura. “Comunicação Interna se tornou um elo entre as pessoas e a cultura da organização, fornecendo ferramental para as pessoas se ambientarem, e promover o desenvolvimento delas. “Não adianta a pessoa aprender mas não estar alinhada com a cultura da empresa, vai gerar conflito em algum momento”.
E afirma que existem quatro gerações convivendo e sua empresa e isso torna esse caldo um pouquinho mais difícil de fazer a gestão. “Temos dois extremos: os boomers, que tem um apreço por estabilidade, pelo conhecimento, pela experiência. E por outro lado temos a geração Z, com um olhar muito apreciativo para a diversidade e inclusão. Não é que as coisas não se convergem, mas existem tensões algumas vezes de prioridades e expectativas, e acaba muitas vezes esbarrando na forma como a comunicação acontece.
Pesquisa da Gallup sobre comunicação interna, lembrou Cláudia, diz que a comunicação eficaz tem 25% mais chance de conseguir produtividade via engajamento. “É uma medida tangível de ser atingida”, aponta, com otimismo.
4º Fórum Empresas que Melhor se Comunicam com Colaboradores
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