Os meios de comunicação começam a reinventar as formas de captar, produzir e distribuir notícias. A tecnologia, quando bem utilizada pode ajudar. A questão é o gestor e as equipes de jornalismo conhecerem todos os recursos que as novas ferramentas oferecem. Esse foi o conselho dos especialistas durante o 6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, iniciativa do Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação, ocorrido dias 20 e 21 de maio, no formato on-line e com inscrições gratuitas.
No painel “A arte de sujar… o teclado? – Como fazer reportagens inspiradoras em tempos de tecnologia”, participaram Inácio França, editor e diretor de conteúdo na Marco Zero, portal independente sediado no Recife (PE) e que cobre toda região do Nordeste; e Nathalia Tavolieri, repórter da TV Globo – Profissão Repórter. Foram discutidos os desafios da originalidade e criatividade na produção de reportagens, considerando o impacto da tecnologia no jornalismo tradicional. E o papel das redes sociais na busca por fontes. “A plataformização das redes e as fórmulas de caça-cliques das redes sociais se estenderam para o jornalismo”, lamenta França. Ele ressaltou ainda que as boas e as ruins reportagens aconteciam no tempo das mídias analógicas e prosseguem nas mídias digitais. “Nosso entrave não é a tecnologia e sim o financiamento, a sustentabilidade da operação jornalística, pois custa caro manter equipe de reportagem em campo”. O que dá dinheiro hoje em dia nas plataformas é o entretenimento, e esse é outro obstáculo, segundo França. A plataformização, continua, drenou parte dos recursos que estavam nos veículos tradicionais de jornalismo, e principalmente nos programas de entretenimento.
Para Nathalia, a tecnologia, a internet, facilitou bastante o trabalho do jornalista, o acesso às informações e a velocidade de produção e distribuição. Ela admite que para o Profissão Repórter a tecnologia ajuda muito a encontrar histórias na internet e, para ela, que está há sete ano no programa, a presença de Caco Barcelos, que coordena tudo, é uma inspiração para a equipe e a garantia de fazer um jornalismo com substância, com pé no barro, indo às ruas contar histórias comoventes e significantes. Antes, ela trabalhou em portais e sentia a falta de ir para a rua, pois quase todas as entrevistas eram feitas por telefone. “Aqui aprendi do zero a fazer jornalismo de rua”, admite. Ir aonde a notícia está acontecendo e trazer o relato, a história as pessoas, por trás das grandes manchetes. E isso requer dinheiro, reconhece. “É um privilégio eu estar onde estou, pois aqui o programa é semanal e temos tempo para fazer as pautas. E custa caro, mas a equipe é enxuta e viajamos com duas pessoas no máximo”.
Investimento em IA
Já o painel “Manual de redação dos novos tempos – Como manter o ritmo com micro conteúdo, acessibilidade e gamificação”, tratou do impacto da inteligência artificial (IA) nas redações jornalísticas, nas rotinas de produção e distribuição de conteúdo, incluindo análise de dados, automatização de processos, novos formatos interativos e gamificação. Participaram Ana Lucia Selvatici, consultora de Inovação e Negócios Digitais da Diagonal Minds, consultoria focada na indústria da mídia; Paulo Leal, CEO do Portal iG; e originalmente estava previsto a presença de Paulo Lima, fundador e presidente da Trip, que não pode comparecer devido a um problema de saúde, sendo substituído por Felipe Gil, diretor de conteúdo da Trip.
Paulo Leal contou novidades em primeira mão, como o uso da IA para a produção de um resumo das notícias da semana aos sábados e que começou em maio, formato “que o público pedia muito”, através de vídeo e resumo escrito das principais informações. Outra novidade, ele conta, foi que, recentemente, também utilizando IA, é feita a tradução de todo Portal para vários idiomas como o holandês, alemão, inglês e espanhol, criando o iG internacional. “Adotamos a IA como importante ferramenta estratégica”, anunciou Leal, que diz atender 55 milhões de usuários. Mas alerta que existe a supervisão humana. “A tecnologia veio para ajudar, e com a IA não demitimos ninguém”.
Gil, que, por coincidência, iniciou carreira do iG, disse que, na Trip, “nunca fomos refratários à tecnologia, e somos parceiros desde o início do UOL, com conteúdo nessa plataforma”. Estão aplicando IA com cautela, em partes do processo editorial. “Não podemos achar que é só apertar um botão que todo trabalho será feito”, destaca. “Nosso patrimônio sempre foi o olhar diferenciado”. Foram os primeiros a colocar conteúdo no Uol também. “Usamos IA para retoque de imagens e também indiretamente nos bancos de imagem que já usam IA. Incorporamos como processo”. O Trip FM completará 40 anos, e também está usando a IA para indexar o conteúdo para a equipe poder ter acesso aos arquivos e resgatar histórias de personalidades.
E Ana Lucia chamou atenção para a análise de métricas para saber lidar com a melhor informação que o público deseja. “A estratégia digital tem que estar muito bem construída”. Sua empresa colabora com vários grupos de mídia da América Latina e “vemos gente deslumbrada, usando IA pela IA, mas muitos que entendem ela como um meio, pode ajudar ou atrapalhar muito. Em redações está sendo utilizada a IA como ferramenta para o que mis importa, se adaptar para novas formas de conteúdo e notícias. Entrega-se coisas para a audiência que não se entregava antes por falta de escala”.
O cuidado é fazer a curadoria por profissionais. “Faço consultas no ChatGPT e ainda vem muita coisa errada ou distorcida. Temos ainda muito a aprender e essa tecnologia tem que ser melhor aperfeiçoada”, pondera Gil. No iG, segundo Leal, “temos preocupação para indexar bem matérias no Google, buscar títulos que combinem com a chamada da notícias, e que funcionem na busca. A IA fornece esse auxílio. E tem que ser utilizada com cautela, como meio, e não fim, com olhar final do editor de cada editoria. Estamos ainda um pouco longe de fazer perguntas ou buscas pela IA porque as vezes não recebemos as respostas que precisamos”.
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