Um novo modelo de negócio. É o que busca a indústria do jornalismo na profusão da distribuição digital. Existem diversas alternativas e muitas empresas já estão adotando alternativas que se mostram viáveis. Inclusive iniciativas sem fins lucrativos que contam com apoio de instituições ou grupo de leitores. Esse foi um tema do painel “Informação sem fins lucrativos – A crescente de políticas de fomento ao jornalismo”, dentro do 6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário , iniciativa do Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação. Participaram do painel Marina Parreira Barros Bitar, que faz parte do grupo de pesquisa em jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), e também é assessora do Sistema Fecomércio Sesc-Senac, do mesmo Estado; Tatiana Dias, editora geral do Intercept Brasil; e Vitória Régia da Silva, presidente e diretora de Conteúdo na Gênero e Número
Marina informou que “em nossas pesquisas descobrimos que existem algumas fontes de financiamento que são utilizadas por veículos jornalísticos sem fins lucrativos, como financiamento de fundações e instituições filantrópicas; editais; premiações; crowdfunding; programas de associação; eventos; patrocínios corporativos; assinatura; prestação de serviços, entre outras”, relaciona. “Muitos desses veículos tem a natureza investigativa ou são especializados em algum nicho. Trazer essa temática para o Fórum possibilita que muitos veículos locais e regionais de todo o país conheçam outras alternativas de sustentabilidade econômica para o jornalismo, colocando essas possibilidades em prática. No Tocantins, por exemplo, nós temos um realidade em que veículos do interior dependem exclusivamente de anúncios privados e, principalmente, do governos municipais e estaduais, o que pode comprometer a independência editorial desses veículos”. A questão da instabilidade da profissão, as demissões em massa no jornalismo também foi lembrado por Marina como incentivador desses projetos coletivos e independentes.
Filantropia
Tatiana ressaltou as dores e dificuldades econômicas que o jornalismo, principalmente o independente e de nicho, vive no cotidiano, “Existem muitas iniciativas que estão coletivizando o problema”, comemora, O Intercept, site investigativo de política e direitos humanos, veículo norte-americano que veio ao Brasil em 2016, trouxe um fundo da matriz que sustentava os dois veículos. “Então, não existia aqui no país o problema de correr atrás de financiamento”, lembra a editora. “Mas em 2018 sentimos a necessidade de ter uma certa independência para conseguir nossa própria sustentabilidade. Até porque desde 2010 assistimos no Brasil a vinda de diversos veículos digitais internacionais, como o Buzz Feed, El País, Huffington Post, entre outros, e aconteceu um florescimento e fechamento deles. Pensando nisso começamos a correr atrás de nossa sustentabilidade local”. Em 2018 aconteceu a primeira campanha de financiamento coletivo, nesse caso focado na cobertura de eleições, e foi muito bem-sucedida. “Percebemos a importância do jornalismo como serviço público e a existência de pessoas dispostas a pagar por isso. E a partir daí, adotamos o financiamento coletivo como estratégica que funciona. A independênia é um valor forte nosso, e por isso precisamos de fontes de financiamento que garanta que não tenhamos ´rabo preso´. Então atuávamos com um financiamento misto, com o Intercept norte-americano continuando a investir, mais o financiamento coletivo — o maior da América Latina. Em 2022 o veículo nacional se separou da matriz dos EUA, e se não tivesse esse financiamento próprio a unidade no Brasil deixaria de existir”. Além dessa contribuição do público, recebem apoio de projetos esporádicos de filantropia.
Esse sucesso inspirou outros veículos e para Vitória o Intercept é um grande incentivador para a busca de financiamentos coletivos. “Há um risco constante para todo o jornalismo de fechar suas portas se não tiver essa sustentabilidade”. A Gênero e Número, fundada por três jornalistas mulheres, é hoje uma associação, que produz, analisa e disponibiliza dados especializados em gênero, raça e sexualidade e faz um jornalismo de nicho. Foi criada como uma empresa limitada em 2016, e há cerca de 2,5 anos foi feita essa transição para uma associação. Quando nasceu, a empresa já foi apoiada por filantropia. A mudança na governança foi pensada mais para formação de novas lideranças do que pelo aspecto do financiamento. Mas Vitória ressalta que existem diferenças no Brasil de financiamento feitos para empresas e organizações sem fins lucrativos, e isso impactou, positivamente a Gênero e Número. “Também começamos a fazer pesquisas, o que diversificou nossa receita. Projetos pontuais de pesquisa começaram a ser financiados individualmente. Temos ainda uma parte de financiamento coletivo, mas não é a principal fonte de remuneração, pois notamos nos últimos anos uma queda desse tipo de apoio. Outras formas é a colaboração em rede com outras organizações. Não dá para confiar apenas em uma forma de receita. No financiamento coletivo, filantropia, tudo pode acontecer no Brasil, devido a conjuntura política e econômica do país que foge ao nosso controle”.
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