Desafios para representação da História e cultura afro-brasileira na mídia

No dia 20 de novembro, segunda-feira, celebra-se o "Dia da Consciência Negra". Para especialistas processo de apagamento das pessoas escravizadas se refletem na mídia

No dia 20 de novembro, segunda-feira, celebra-se o “Dia da Consciência Negra”. No entanto, apesar dos inúmeros desafios enfrentados por essa população, a representação da história e cultura afro-brasileira nos meios de comunicação tem se tornado um assunto cada vez mais relevante. 

De acordo com o relatório “Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil” do TIC Domicílios 2019, apenas 39% dos brasileiros se veem representados na mídia. Além disso, a pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontou que apenas 6% das mulheres negras se sentem representadas na televisão.

Esses dados evidenciam a significativa disparidade racial na representação da mídia brasileira, mostrando a necessidade premente de uma maior diversidade e inclusão nos meios de comunicação. Além disso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE revelou que aproximadamente 56% da população brasileira se identifica como negra ou parda, ressaltando a falta de representatividade nos meios de comunicação em relação à realidade do país. 

Apesar da existência de veículos de comunicação voltados para a população negra e parda, a representatividade ainda é uma questão crucial.  O estudo “Quem conta a nossa história?” da ONG Gênero e Número destacou que apenas 11% das fontes de notícias em veículos de comunicação são mulheres negras.

impactos do baixo nível de representação da população negra 

A mídia desempenha um papel crucial na formação da identidade e autoestima das pessoas, e a falta de representação pode impactar diretamente a autoimagem e o senso de pertencimento das pessoas negras. A ausência de presença negra nos meios de comunicação têm efeitos diretos na forma como são retratados e percebidos pela sociedade, contribuindo para a perpetuação de estereótipos e preconceitos.

A jornalista Sandra Roza aponta que o Brasil teve um processo de abolição da escravidão que resultou no apagamento das contribuições e da cultura das pessoas negras, e a mídia teve um papel crucial nessa representação estereotipada e preconceituosa. “O Brasil teve um processo de abolição da escravização com o apagamento das pessoas escravizadas, seus nomes, saberes, documentos, cultura, religião, contribuições para a construção do país, entre outras”, ressalta.

Para a jornalista, é essencial que haja uma maior diversidade de vozes e narrativas na mídia para que as pessoas negras se vejam e se reconheçam na sociedade, e para que a sociedade como um todo reconheça a diversidade e riqueza dessa comunidade. “ Esse processo também teve apoio da mídia e refletiu  (e ainda reflete muito) nas suas formas de representações estereotipadas, discriminatórias e preconceituosas sobre as pessoas negras”, completa.

Cristiano Gomes, jornalista da NSC TV, compartilha da mesma visão de Sandra sobre a representação da história e cultura afro-brasileira na mídia. Para ele, essa representação impacta de maneira significativa na população negra, influenciando a construção da identidade e autoestima. 

Ele acredita que é fundamental que a mídia retrate de forma fiel e positiva a diversidade cultural do país, especialmente a cultura afro-brasileira, para que as pessoas negras se sintam valorizadas e respeitadas. Além disso, Cristiano enfatiza a importância da presença de profissionais negros na mídia, a fim de proporcionar uma maior diversidade de vozes e contribuições na construção das narrativas sobre a comunidade afrodescendente no Brasil. “Se você não tem essa representação, não cria essa identidade, e aí começa a ter um processo que é muito delicado, mas que nós, como profissionais da comunicação, temos que exercer. É o papel dessa construção”, pontua. 

Estereótipos e preconceitos perpetuados pela mídia

Os estereótipos e preconceitos perpetuados pela mídia são um assunto que tem sido amplamente discutido nos últimos anos. A maneira como a mídia retrata certos grupos e comunidades pode influenciar a percepção pública e reforçar preconceitos enraizados na sociedade.

Uma pesquisa realizado pela Universidade de São Paulo sobre: “A influência da mídia na percepção do outro: preconceito e discriminação”, analisou como a mídia pode influenciar a percepção e atitudes das pessoas em relação a grupos minoritários, levando a um aumento do preconceito e discriminação.

Os pesquisadores utilizaram métodos quantitativos e qualitativos para analisar o conteúdo de programas de televisão, filmes, notícias e redes sociais, e como essas representações influenciam as percepções e atitudes das pessoas em relação a grupos minoritários, como mulheres, negros, LGBTs e imigrantes.

Os resultados mostraram que a mídia muitas vezes perpetua estereótipos e preconceitos em relação a esses grupos, o que pode levar a uma maior discriminação e exclusão social. Além disso, o estudo também identificou que a falta de diversidade na mídia e a ausência de representação positiva de grupos minoritários contribuem para a perpetuação do preconceito.

Os pesquisadores concluíram que é essencial promover uma maior diversidade e representatividade na mídia, bem como incentivar a produção de conteúdo que promova a igualdade e o respeito à diversidade. Além disso, destacaram a importância de educar o público sobre a influência da mídia na percepção do outro e promover a conscientização sobre os impactos do preconceito e discriminação.

A construção da identidade e autoestima de pessoas negras é um processo fundamental que começa na infância. É nessa fase que as imagens positivas e de valorização podem fazer toda a diferença, proporcionando uma infância feliz, empoderada e orgulhosa das raízes ancestrais. Essas experiências positivas tendem a fortalecer a autoestima ao longo da vida, fazendo com que as pessoas negras se tornem adultos mais confiantes e capazes de passar esse empoderamento adiante, inspirando outras crianças e gerações futuras.

“Imagens positivas e de valorização podem impactar a infância e a autoestima das crianças negras, influenciando-as a se tornarem adultos empoderados e orgulhosos de suas raízes ancestrais” aponta Sandra. Para ela, o impacto pode ser percebido na auto afirmação da negritude, valorização e acolhimento.

Cristiano lembra que no início da carreira eram poucas referências negras, mas atualmente há maior representatividade. “No início da carreira, principalmente em TV, eram poucas figuras ainda que existiam na tela e depois de 8 anos, graças a Deus o olho pra TV, encontro essa diversidade é a, por exemplo, nos jornais da manhã até nos jornais da noite, hoje, eu consigo ver mais pessoas da minha cor ali”, conclui.

Fórum debate como combater o racismo no ambiente de trabalho 

No 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão, que acontece nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, a pauta do combate ao racismo será um dos temas discutidos. Jorgete Leite Lemos, CEO da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços, Maurício Chiesa Carvalho, gerente de Recursos Humanos e Responsabilidade Social da Tamarana Tecnologia Ambiental, e Jislaine Silva, Employee Experience Specialist da Cargill, discutem como combater o racismo do dia a dia e promover a inclusão racial no ambiente corporativo.

Durante o painel, os debatedores irão compartilhar estratégias e práticas que suas empresas adotam para promover a diversidade e inclusão racial, assim como os desafios enfrentados e lições aprendidas ao longo do caminho. Além disso, serão discutidas iniciativas de conscientização e capacitação para combater o preconceito e promover a equidade racial no ambiente de trabalho.

O debate também abordará a importância de se criar um ambiente seguro e acolhedor para colaboradores negros, promovendo a valorização da diversidade e o respeito às diferenças. Serão compartilhados exemplos de boas práticas e políticas de inclusão que podem ser adotadas por outras empresas, visando criar ambientes de trabalho mais justos e igualitários.

As inscrições são gratuitas e o fórum será totalmente on-line, transmitido pelo Canal da Negócios da Comunicação no Youtube e podem ser feitas pela página do Sympla.


3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão é um oferecimento de:

          

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