A Inteligência Artificial e seus desdobramentos no mundo do trabalho continua causando polêmica. No campo do jornalismo existem quem defenda as vantagens da IA para o trabalho de elaboração de pautas e pesquisas e até na confecção de pequenos textos. Na outra ponta, críticos alegam que a IA irá manipular dados, induzir jornalistas a erros e não respeitar os direitos autorais. Tais opiniões divergentes não param de ser publicadas em artigos e reportagens hoje, em veículos de imprensa e nas redes sociais. É necessário lembrar que IA é um termo genérico que envolve vários tipos de automatização eletrônica. Já vem sendo bem usado pelas empresas hoje na manipulação de dados de clientes e de processos, automatização de atendimento e suporte ao cliente e público em geral usando por exemplo o WhatsApp e avatares para responder questões e até ajudar em vendas; avaliar risco de crédito; ajudar a descobrir gargalos e nós na produção; simulação de lançamento de novos produtos; e o que interessa mais ao jornalismo, o uso de ferramentas de buscas mais avançadas como o ChatGPT, que cria textos a partir de base de dados na internet e outras – alimentados por programadores. O Metaverso, que teria uso relevante no setor da comunicação, tá meio esquecido.
Para o jornalista e professor da USP Eugênio Bucci, ainda é cedo para uma avaliação de prós e contra das tecnologias baseadas em IA, que podem sim desempenhar tarefas básicas; entretanto, se não forem bem compreendidas podem matar a essência do jornalismo e desumanizar a profissão. Ele se refere, principalmente ao ChatGPT quando fala em IA.
“A IA não consegue fazer uma boa entrevista, mas consegue conectar dados sobre vários tipos de informações, como eventos esportivos, trânsito, cotações do mercado, artes e espetáculos, entre outros”. Além disso, complementa, “as máquinas conseguem também coordenar textos de enunciados, hierarquizar num primeiro nível o que deve ter mais destaque e isso tudo pode trazer desemprego para as redações”. A grande pergunta proposta por Bucci, é: “O jornalismo é um serviço mecânico e automatizável?”.
A respeito do ChatGPT, que anda causando um furor nas redações, por responder perguntas, ajudar em pesquisas e até escrever textos — apesar de não deixar claro que fontes foram consultadas e até entregar o que se chama de “alucinação da máquina”, quando produz informações errôneas —, Bucci admite que existem erros nesse aplicativo, mas que devem ser relativizados antes de condenar e descartar a tecnologia. “Precisamos ir com calma, porque é algo novo e a máquina [referindo-se ao ChatGPT] irá superar esses erros”. Isso porque os desenvolvedores vão aprendendo com os erros e programando melhorias com níveis melhores de acertos.
Quanto a eliminação de empregos, o assunto ainda é polêmico. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a IA deve acabar com 27% dos empregos no mundo. Por outro lado, de acordo com o relatório “O futuro do trabalho”, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, 97 milhões de postos devem ser criados até 2027 devido a IA. Algumas redações já estão usando o ChatGPT, de forma limitada, para produzir pequenos textos. Principalmente jornais de interior e publicações menores. O Bild, por exemplo, tabloide mais vendido na Europa, e o Politico, entre outros títulos importantes, anunciou o corte de 200 vagas na para economizar € 200 milhões, atribuindo parte das demissões à oportunidade de utilizar máquinas para tarefas hoje executadas por humanos. Bucci é cuidadoso na avaliação do desemprego nas redações, que deve acontecer de alguma forma. Mas ainda não se sabe o nível dessa mudança. Outros postos podem ser criados no jornalismo, como profissionais especializado em uso de dados. “Atividades mais mecânicas e repetitivas podem sim ser melhor executadas pela IA”, pondera Bucci. E ele volta a questão de avaliar se o jornalismo é uma atividade mecânica.
Qualidade duvidosa
A respeito da qualidade final dos textos, das pesquisas efetuadas com IA, Bucci lembra que a tecnologia já é hoje amplamente utilizada na publicidade, sem que as pessoas reclamem dos resultados. “Depende da capacidade de julgamento dos públicos”, explica. “O que eu posso ver como perda de qualidade pode ser festejado por outros grupos de pessoas”, complementa. Por isso “é difícil ter um prognóstico conclusivo”, finaliza, deixando as respostas mais precisas para um futuro próximo, pois tudo ainda é extremamente novo e muita tecnologia ainda está em fase de testes.