Redes sociais mudaram as transmissões das notícias

Cobertura em tempo real, feeds, e diversos canais em redes sociais oferecem novas formas de contatar o público, principalmente na nova geração. TikTok é febre entre os jovens

Em meio à rápida evolução das mídias sociais, surgiram diversas plataformas que têm transformado a maneira como as pessoas se informam e consomem conteúdo. Uma dessas plataformas é o TikTok, um aplicativo de compartilhamento de vídeos curtos que se tornou uma febre, especialmente entre os jovens.

De acordo com o anúncio da Bytedance, empresa por trás do TikTok, a plataforma atualmente possui 1 bilhão de usuários ativos mensais. Indiscutivelmente, o TikTok se tornou uma ferramenta poderosa para os veículos de comunicação alcançarem a nova geração, que está cada vez mais migrando para formatos de entretenimento e informações digitais.

Segundo informações da Google, cerca de 40% dos jovens da Geração Z optam por buscar conteúdo no TikTok e no Instagram, ao invés de utilizar o Google Search e o Maps. Isso claramente demonstra a mudança de hábito na forma de consumir conteúdo e realizar pesquisas, especialmente entre os mais jovens. Outro dado que evidencia a importância da plataforma foi revelado pela empresa de pesquisa de mercado IRI (Information Resources Inc.), que colocou o app chinês como a terceira fonte que mais influencia a geração Z, e a primeira colocada no mundo das redes sociais.

No 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, dois painéis discutiram como as redes sociais mudaram as transmissões de notícias. O evento foi promovido pelo CecomCentro de Estudos da Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação: o painel “Estamos ao vivo: A revolução da cobertura em tempo real pelas redes sociais” e painel “Tem 30 segundos? Como o TikTok pode ajudar os veículos a alcançar a nova geração”,

No painel “Estamos ao vivo: A revolução da cobertura em tempo real pelas redes sociais”, a jornalista Ana Paula Couto, ex-apresentadora e editora do telejornal da TV Cultura;  Julia Pontes, autora da dissertação de mestrado “Sensacionalismo e Violência no Contexto da Indústria Cultural” na UFG (Universidade Federal de Goiás), e Tiago Abech, editor-chefe da CNN Brasil, debateram como as redações têm se adaptado a essa nova realidade imposta pelas redes sociais.

As transformações sociais e o jornalismo devem andar juntos?

Julia Pontes, da UFG

As redes sociais revolucionaram a forma como consumimos notícias e como o jornalismo é produzido. Antes, a lógica tradicional do jornalismo era baseada em veículos de comunicação consolidados, mas agora qualquer pessoa com acesso à internet pode se tornar um produtor de conteúdo jornalístico.

Julia observa que a velocidade de transmitir informações trouxe mudanças significativas no cotidiano jornalístico, mas nem todas são positivas. Ela destaca dois aspectos: a rapidez com que as notícias são transmitidas através das redes sociais e como o jornalismo se vincula às questões de mercado, muitas vezes sacrificando a relevância em busca de audiência.

Além disso, as redes sociais também mudaram a forma como consumimos notícias. Antes, os veículos de comunicação eram os intermediários principais entre as informações e o público, mas agora as notícias chegam até nós por meio de compartilhamentos e recomendações de amigos, familiares e influenciadores digitais. No entanto, Tiago Abech ressalta a importância da checagem de fatos, apuração e tempo no jornalismo, como forma de garantir a transmissão de informações corretas e confiáveis.

Thiago Abech, da CNN

Apesar das transformações mercadológicas e editoriais pelas quais os veículos de comunicação passam, Ana Paula enfatiza que eles ainda são os principais responsáveis pela informação da maioria da população. Ela destaca a necessidade do jornalismo repensar seu papel e buscar o fornecimento de informações checadas, uma vez que é nesse setor que as pessoas buscam fontes confiáveis. “Não é em redes sociais que em momentos críticos como pandemia ou guerra que as pessoas buscam informações confiáveis, isso acontece ainda nos meios tradicionais”, destaca a jornalista.

“Estamos passando numa transformação e acho que não chegamos ao final”, avalia Ana Paula, ao falar do jornalismo. “Jovem não assiste mais TV e nem lê jornal impresso”, continua. “Assim, todos os veículos de comunicação do mundo estão revendo suas estratégias editoriais, mercadológicas e de público. E, por uma questão ideológica, devido à política, estamos vendo isso nos EUA e no Brasil, está ocorrendo certa apatia pelo jornalismo, por veicu7los de comunicação tradicionais, mas quando acontece um grande fato, como a pandemia elas vão para esses veículos, não para as redes sociais”,

Ana Paula Couto

No entanto, essa mudança na lógica do jornalismo também teve suas desvantagens. Os speakers  acreditam que a facilidade de compartilhamento de informações nas redes sociais abriu espaço para a disseminação de notícias falsas e informações distorcidas. Muitas vezes, essas notícias sensacionalistas ou fabricadas se propagam mais rapidamente do que as informações verdadeiras, mas também são aliadas e extensões das redações para conquistar novos públicos.

 

 

TikTok um caminho para atingir o público 

Cristiana Watanabe, da BNEws

Durante o painel “Tem 30 segundos? Como o TikTok pode ajudar os veículos a alcançar a nova geração”, Cristiana Yumie Watanabe, coordenadora de redes sociais na BNEWS, Débora Pradella Pires, gerente de produto e experiência digital do Grupo RBS, e Rafael Santos, gerente de mídias sociais do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, compartilham insights sobre o uso das redes sociais, principalmente para a realidade de veículos menores. Eles debatem os desafios da migração do conteúdo na prática diária, as estratégias para condensar conteúdos no formato e como introduzir mais uma rede sem sobrecarregar equipes que já são enxutas.

Uma das vantagens do TikTok é sua capacidade de transmitir informações de forma rápida e precisa. Com vídeos de no máximo 60 segundos, os veículos de comunicação podem criar conteúdos curtos e envolventes, que captam a atenção dos usuários e os mantêm informados, sem perder tempo.

Cristiana lembra que na BNEWS, o TikTok foi uma ferramenta para atrair público e se tornar competitivo nas redes sociais. A jornalista ressalta que a empresa demorou para aderir ao novo modelo de informação. “Entramos no final de 2021, um pouco tardiamente”, reconhece. No entanto, o veículo vem colhendo bons frutos, com mais de 700 mil seguidores, o perfil se tornou um case pela adesão do público. “É impressionante a potência do TikTok para informar e transmitir notícias, assim como para competir com gigantes da comunicação”, acrescenta.

Debora Pradella, da RBS

A RBS começou a investir fortemente no TikTok no ano passado, mesmo tendo um núcleo de mídias sociais há mais tempo. Para acelerar e entender as redes, foram contratados criadores de conteúdo. “No TikTok, não importa o número de seguidores, mas sim se faz um conteúdo interessante. Ele vai se disseminar e alcançar muitas pessoas”, acredita Débora Pradella.

O Sistema Jornal do Commercio de Comunicação tem investido pesado nas redes sociais. O JC conta com 22 pessoas que atuam de forma integrada com o site. “Temos na equipe editores, sociais media e até o pessoal que faz a interação nas redes. É um desafio diário”, conta Rafael.

A possibilidade de cobertura em tempo real

Os veículos de comunicação podem aproveitar a popularidade do TikTok para transmitir eventos ao vivo, como debates políticos, conferências e shows. Essa capacidade de trazer a informação de forma instantânea traz uma nova dimensão para a cobertura jornalística e aproxima os veículos do seu público.

Rafael Santos, do Jornal do Commercio

Rafael ressalta que a rede é muito lembrada pelas dancinhas, mas nos últimos tempos, grandes veículos de mídia têm criado perfis, tornando o aplicativo também um veículo de informação, como acontece com o Twitter, Facebook e Instagram. “O TikTok entendeu a importância de ter veículos de informação lá dentro, e o algoritmo é bem acertivo de acordo com que consumimos, mas conseguimos furar bolhas por lá”, explica.

Além disso, o TikTok oferece a oportunidade para os veículos de comunicação se adaptarem ao comportamento de consumo de conteúdo da nova geração. Os vídeos curtos e de fácil digestão são ideais para a tendência atual de consumo rápido, em que os usuários querem informações de forma rápida e concisa. Débora aponta que as novas gerações adaptam-se melhor à rede pela possibilidade de transmissão rápida. “Temos que ficar atentos, como veículos, às novas formas de se consumir conteúdo”. A jornalista aponta que houve uma transformação na forma de consumo, principalmente pela geração Z. “Eles preferem conteúdo em vídeo e não tanto em texto”, acrescenta.

Cristiana complementa, acrescentando que nos últimos anos, a mudança no consumo fez com que as pessoas assistam mais e leiam menos. “Nosso maior público está entre 25 e 44 anos, e temos que nos adaptar às formas de fazer notícia”, explica.

Reveja os painéis do 5º Fórum de Jornalismo. Os dois dias do evento estão disponíveis na íntegra no canal da Negócios da Comunicação no Youtube. Acesse aqui.

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