Por João Marcos Rainho
Uma faceta do período de distensão pós-guerra entre Rússia e EUA está retornando ao palco internacional: a prisão de pessoas, inclusive jornalistas, sob acusação de espionagem. Detido pelas autoridades russas dia 30 de março, o repórter americano Evan Gersshkovich foi o primeiro profissional impedido de atuar na Rússia após o fim da guerra fria — mais precisamente desde setembro de 1986, quando Nicholas Daniloff, correspondente em Moscou do US News and World Report, foi preso pela KGB e libertado 20 dias depois em troca de outro “espião” russo detido nas Nações Unidas. Correspondente do Walt Street Journal, Gersshkovich foi detido na cidade de Yekaterinburg pela Serviço Federal de Segurança (FSB), sucessora polícia KGB da era soviética.
O repórter estava apurando detalhes da guerra com a Ucrânia, checando informações numa área de um complexo militar russo, e esse foi o mote para acusá-lo de tentar obter segredos militares de forma ilegal. Gersshkovich deve ser julgado até o final do mês, e se condenado, poderá pegar uma pena de até 20 anos de prisão. Ou, possivelmente, como está sendo cogitado, poderá ser libertado em troca de Sergey Cherkasov, acusado pelos Estados Unidos de espionagem, e que está preso em São Paulo, aguardando extradição.
A detenção de pessoas acusadas de espionagem na Europa e na Rússia aumentaram nos últimos anos. No início de janeiro a Justiça sueca condenou Peyman Kia, à prisão perpétua e seu irmão a nove anos de prisão, acusados de espionarem instalações militares. Ainda em janeiro deste ano, a Alemanha prendeu um cidadão russo, que trabalhava numa universidade na Baviera, também acusado de espionar informações da Agência Espacial Europeia (ESA).
Tem até o caso de um brasileiro acusado de espionagem, em outubro do ano passado. Ele foi preso na Noruega e acusado de passar informações sigilosas para a Rússia. Outros casos semelhantes tem acontecido na Europa desde 2017.
Casos notórios
Não apenas épocas de guerras jogam à tona a questão da espionagem. Governos não gostam de jornalistas investigando assuntos “sensíveis” nem de pessoas que passa informações para eles e buscam formas de inibir e censurar tais apurações. Dois casos ganharam notoriedade recentemente: Edward Joseph Snowden e Julian Assange.
Snowden, um ex-analista de sistema da CIA tornou público vários sistemas de vigilância global do governo. Esses sistemas espionavam países — inclusive o Brasil — e pessoas, segundo o analista, que enviou essas informações para jornalistas, causando um tremendo mal-estar nas esferas do poder. Os Estados Unidos acusou-o de “roubo de propriedade do governo, comunicação não autorizada de informações de defesa nacional e comunicação intencional de informações classificadas como de inteligência para pessoa não autorizada”. Em 2017, partiu para um exílio na Rússia, depois de vários países terem negado seu pedido.
O caso de Assange é parecido. Programador e jornalista australiano e fundador do site WikiLeaks. Está preso em Londres desde abril de 2019 após ter ficado seis anos refugiado na embaixada do Equador, na capital da Inglaterra. Seu site havia postado quase 500 mil documentos secretos, fornecidos por um agente de inteligência dos EUA, revelando detalhes da atuação militar americana nas guerras do Afeganistão e Iraque. Em 2010 foi acusado de estupro na Suécia — o que ele nega — e essa a foi a justificativa principal de sua prisão que poderá levar a sua extradição. Hoje, ele se tornou um mártir e um símbolo da liberdade de imprensa.
Esta matéria faz parte das homenagens ao Dia do Jornalista (7 de abril) é um oferecimento de: