Twitter vive tempos de incertezas e crise

Depois da compra da plataforma pelo bilionário Elon Musk, a rede social vem sofrendo demissões e diversas críticas por estimular postagens de fake news

Desde que foi comprada por Elon Musk, bilionário e dono da Tesla, a rede social Twitter está envolvida em polêmicas. Depois de 6 meses de negociações, Musk adquiriu a empresa por 44 bilhões de dólares em outubro do ano passado. Uma das primeiras ações do novo dono foi a demissão em massa de altos executivos, incluindo o presidente da empresa, o chefe de assuntos jurídicos e de política, todos acusam o empresário de esconder informações sobre a plataforma, outros 3.700 funcionários foram mandados embora, incluindo trabalhadores do escritório no Brasil.

As demissões mais recentes, ocorridas neste início de janeiro, atingiu a equipe que atua com moderação de conteúdo e na unidade relacionada ao discurso de ódio e assédio, em Dublin e em Cingapura. Também foram cortados profissionais que atuam com políticas de desinformação.

Tábata Silva

“Grandes cortes sempre repercutem na mídia e nas redes sociais. Demissões mal feitas podem gerar problemas de imagem e reputação para a marca, com clientes questionando o tratamento dado aos funcionários pela empresa”, afirma Tábata Silva, gerente do Empregos.com.br.

Liberdade e censura

Desde então as polêmicas e problemas não param. Outra medida que gerou polêmica entre usuários, especialistas e autoridades foi anunciada pelo Musk por sua conta no Twitter: o empresário garantiu que o microblog seria transformado em um espaço para liberdade de expressão, sem restrições —  segundo especialistas essa medida garantiria maior disseminação de notícias falsas, por não deixar claro o que seria “liberdade de expressão” ou “liberdade para disseminar mentiras”.

Nas últimas semanas o Twitter anunciou que ampliará o espaço para anúncios políticos, e essa decisão vai no sentido contrário a outras plataformas como a Meta e o próprio Twitter que proibiram esse tipo de conteúdo em 2019 como uma das medidas contra a propagação de notícias falsas pelas redes sociais. 

No final de novembro a rede deixou de exibir para os usuários avisos sobre desinformação relacionadas à Covid-19, apesar de não ser formalmente anunciada pela empresa. No mesmo mês, a plataforma reativou a conta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspensa em janeiro de 2021 depois de empresário divulgar notícias falsas, colocar em dúvida o sistema eleitoral americano e incentivar seus apoiadores a invadirem o Capitólio do país. 

Assil Dayri

O Twitter foi acusado no passado de apoiar liberais e partidos de esquerda, o que a empresa sempre negou, e o magnata tentará diminuir a moderação para que mais vozes possam ser ouvidas livremente. Apoiando isso está a decisão de trazer de volta alguns dos controversos usuários banidos. “O presidente-executivo da Tesla disse anteriormente que o Twitter não deveria banir permanentemente os seus usuários e que reverteria a proibição de Trump. Ele apresentou mais informações sobre esse problema, afirmando que esse processo levaria pelo menos mais algumas semanas. O seu amigo, Kanye West, que foi banido por causa de postagens antissemitas, e o presidente Donald Trump, por risco de incitação à violência após o tumulto no Capitólio dos EUA, todos devem esperar para ver”, comenta o Assil Dayri, CEO da AMD Consulting Group , uma agência especializada em marketing digital, mídia social e aquisição de clientes.

O exame inicial de Musk das informações fornecidas pelo Twitter até ao momento faz com que o novo CEO do Twitter acredite que a quantidade de contas falsas e de spam incluídas na contagem de usuários relatados é bem superior a 5%.

A empresa, que tem 396,5 milhões de usuários no mundo, 19 milhões no Brasil, movimentou segundo a plataforma 5 bilhões em receita em 2021, mas teve 221 milhões em perda líquida e vem sofrendo desgastes com sucessivas polêmicas e ameaças.

Conta de jornalistas suspensas sem explicação 

O Twitter suspendeu sem explicações, em 15 de dezembro, perfis de cinco jornalistas que publicaram reportagens sobre a empresa de Musk. Entre as contas suspensas estão jornalistas de grandes veículos americanos como a CNN, New York Times e Washington Post e um jornalista independente. 

Elon Kusk

As contas retidas estavam associadas a profissionais que criticam atitudes do proprietário e divulgavam informações da Tesla e também haviam publicados informações sobre a decisão da rede social de derrubar uma conta que fornecia informações sobre os voos particulares de Musk. A conta foi excluída da plataforma.

Musk, que se intitula “defensor da livre expressão”, após críticas da imprensa e de usuários,  mandou reativar  as contas dos jornalistas.

“O cancelamento em massa de contas pode ser um de seus primeiros e desagradados movimentos, já que ele está furioso com o número de contas falsas, embora isso provavelmente afete o número de seguidores de muitos usuários. Além disso, ele pretende começar a cobrar US$ 8 por mês dos usuários pelo selo verificado das suas contas”, diz o CEO da AMD Consulting Group.

O novo CEO do Twitter vai criar um novo “Twitter Blue”, um serviço pago voltado para quem busca reconhecimento. A expectativa de Musk é que o novo plano pago do Twitter forneça outra fonte de receita para pagar os criadores de conteúdo dentro da plataforma.

No momento, a plataforma é gratuita para personalidades e celebridades altamente visíveis. Para diferenciar as contas de figuras públicas dos milhões de usuários comuns que podem obter o crachá, haverá uma tag secundária para indicar o título dessas pessoas. Musk quer trazer um visual mais democrático para o atual sistema do Twitter.

Musk nunca foi claro sobre seu fim de jogo que tem em mente para o Twitter, mas com suas dicas, muitos sugerem que o futuro do aplicativo será uma espécie de WeChat da China, um super aplicativo para a vida cotidiana — com recursos sociais, de mensagens, financeiros e muito mais. Também podemos ver a nova configuração do Twitter para que as empresas aceitem pagamentos em criptomoedas, o que é uma virada de jogo para muitos, mas também é uma jogada arriscada. Nem o WhatsApp nem o Facebook Messenger têm esse tipo de configuração, embora estejam mudando lentamente para plataformas multifuncionais.

“O milionário compartilhou em posts anteriores que estava interessado em comprar o Twitter porque queria ajudar o mundo e oferecer um ecossistema digital que todos possam acessar. Ele também admitiu que isso poderia ser um desafio e poderia falhar”, comenta Assil Dayri. “O fato de Musk ter feito uma abordagem direta ao anunciante no Twitter sugere que ele pretende manter o modelo de negócios na publicidade digital, pelo menos por enquanto, porém, muitos anunciantes pausaram suas campanhas esperando saber mais sobre o futuro da empresa e o que isso envolve para seus usuários”– continua o especialista.

Boicotes de marcas contra o Twitter

Depois que o bilionário assumiu o Twitter diversas marcas deixaram de anunciar na plataforma pela falta de transparência e o risco de maior circulação de informações nocivas. Empresas como Pfizer, General Motors, General Mills deixaram de anunciar nas redes. Outras multinacionais como a Volkswagen, Disney passaram a publicidade.

O boicote fez os anunciantes se pulverizarem em outras redes que passaram a investir mais de US$10 milhões em outras plataformas como o Tik Tok, Google. Outro processo que a plataforma sofreu, mês passado, criticou a forma desproporcional que mulheres estavam sendo demitidas da empresa. 

Embora muitas empresas tenham sido duramente atingidas pela crise financeira global e pela Covid, o que significa que têm menos dinheiro para gastar em marketing, apesar disso, Musk ainda verá o Twitter para continuar perseguindo sua estratégia de publicidade. Em julho deste ano, a rede social registrou prejuízo trimestral de US$ 270 milhões mesmo com o aumento do número de usuários.

Musk parece não gostar de jornalistas — que falem mal dele — nem da própria área de comunicação corporativa. O bilionário extinguiu a área de RP da fábrica da Tesla e a área de comunicação do Twitter no Brasil — no país a marca está sendo atendida por uma assessoria de comunicação externa.

 

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