6º Fórum de Jornalismo discutiu desafios e tendências

6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, evento on-line e gratuito, aconteceu nos dias 20 e 21 de maio

O jornalismo passa por uma profunda transformação em todo mundo, principalmente devido as novas tecnologias. Os veículos e profissionais de imprensa estão se adaptando rapidamente a esse novo mundo, onde o digital reduziu drasticamente as publicações impressas, exigindo maior presença do noticiário do ambiente digital.

Esse e outros assuntos que estão impactando o setor serão discutidos por especialistas na próxima segunda e terça-feira, em um evento on-line, das 14h às 20h com inscrições gratuitas.  Será o 6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário – A alvorada da produção descentralizada. O formato será de 16 painéis temáticos, oito por dia. E cada um terá a presença de três speakers. A iniciativa é do Cecom –  Centro de Estudos da Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação.

Entre os temas, serão abordados questões ligadas à Inteligência Artificial (IA), novas tecnologias, a valorização da função social do jornalismo, a prática do ESG, o combate à desinformação e às fake news, o ambiente midiático nas próximas eleições, os canais noticiosos nas redes sociais, a valorização das comunidades e os veículos regionais, os novos meios de financiamento do jornalismo, incluindo as iniciativas sem fins lucrativos, o jornalismo policial sua pertinência e limites, o declínio de muitos  veículos nessa era de redes sociais, a necessidade da educação midiática entre outros temas.

Eugênio Bucci

Estarão presentes especialistas, acadêmicos, profissionais de veículos tradicionais (impressos TV e rádio), digitais, representantes de entidades de classe e sindicato, e profissionais de veículos de diversas regiões do país, e  cada um dos desses speakers mostrando sua realidade local e o que estão fazendo para superar os desafios. Inúmeros cases e boas práticas serão divulgadas, ajudando a fomentar um jornalismo cada vez mais pertinente e lucrativo.

Entre os participantes, teremos a presença de Eugênio Bucci no Painel “Equipe no singular
O declínio dos grandes veículos é reversível?”. Professor da ECA/USP e ex-presidente da Radiobras, com passagens por diversos veículos, como diretor de redação de Superinteressante e Quatro Rodas, ambas da editora Abril, Bucci tem defendido a importância do jornalismo numa sociedade democrática. Ele reconhece a importância do evento: “Eu acompanho a muito tempo a Plataforma e Revista Negócios da Comunicação e de modo especial o Fórum sobre Jornalismo, que sempre traz enfoques, contribuições, sugestões muito uteis para quem atua nesse campo e para quem estuda a imprensa. E é sempre com alegria que eu aceito o convite honroso dos organizadores para participar. Espero este ano contribuir e também espero com muito entusiasmo as falas e participações de meus companheiros de mesa”.

Para o jornalista Márcio Cardial, diretor do Cecom e publisher da Plataforma Negócios da Comunicação, o Fórum é um dos principais eventos do jornalismo no Brasil e ajudará aos profissionais e veículos “terem a oportunidade de discutir novos modelos de negócios e aperfeiçoar o conteúdo jornalístico, antenado às novas necessidades do mercado e a realidade do público, que agora divide sua atenção com mídias de diferentes formatos e plataforma”. O jornalismo, continua Cardial, “continua com sua importância na sociedade, em termos de fortalecimento da democracia, e mais recentemente, no combate a desinformação e as fake news”.

Participantes

No painel “A notícia nua e crua – True Crime e a popularização do jornalismo policial e investigativo”, o debate promete esquentar pois o jornalismo policial hoje se divide em ser investigativo ou apelativo e sensacionalista. Paula Passos, mestra em comunicação pela UFPE e jornalista freelancer,  acampanhou durante um tempo a equipe do Profissão Repórter, que gerou um livro, e seu olhar isento, por não fazer parte da equipe, e observando da pauta, trabalho na rua e produto final, trará reflexões importantes. Sua tese de mestrado também foi a linguagem do programa, que se aproxima do cinema e tem influências do New Jornalism. Em outro Painel, “A arte de sujar… o teclado? – Como fazer reportagens inspiradoras em tempos de tecnologia”, teremos a prensença da repórter Nathalia Tavorlieri, do Profissão Repórter.

Voltando ao Painel “A Notícia Nua e Crua”, participa ainda o professor de jornalismo Danilo Duarte, da Uesb, em Salvador (BA), que também escreveu um livro que trata do jornalismo policial na TV e promete “uma abordagem mais analista dos conteúdos e discurso dos telejornais mundo cão, com foco no papel dos apresentadores”. Outra importante colaboração nesse painel será o de Juvercy jr, editor-chefe de uma redação com quase 250 jornalistas – O Jornal O Tempo, da Sempre Editora, de Minas Gerais, que também edita o Super Notícias, que chegou a ser o jornal impresso mais vendido no Brasil. “Minha contribuição será com a realidade nua e crua da cobertura policial e o tamanho do impacto disso nos leitores/telespectadores/ouvintes”, informa Juvery. “Já adianto que matérias com crimes que mexem com os sentimentos das pessoas contabilizam audiência absurda, sendo sempre destaque nas redações.”

Marina Bitar, que faz parte do grupo de pesquisa em jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), e também está no Sistema Fecomércio Sesc-Senac, do mesmo Estado, participará no Painel “Informação sem fins lucrativos – A crescente de políticas de fomento ao jornalismo”, uma de suas especialidades. “Em nossas pesquisas descobrimos que existem algumas fontes de financiamento que são utilizadas por veículos jornalísticos sem fins lucrativos, como financiamento de fundações e instituições filantrópicas; editais; premiações; crowdfunding; programas de associação; eventos; patrocínios corporativos; assinatura; prestação de serviços, entre outras”, relaciona. “Muitos desses veículos tem a natureza investigativa ou são especializados em algum nicho. Trazer essa temática para o Fórum possibilita que muitos veículos locais e regionais de todo o país conheçam outras alternativas de sustentabilidade econômica para o jornalismo, colocando essas possibilidades em prática. No Tocantins, por exemplo, nós temos um realidade em que veículos do interior dependem exclusivamente de anúncios privados e, principalmente, do governos municipais e estaduais, o que pode comprometer a independência editorial desses veículos”.

 

Ana Brambilla

Ana Maria Brambilla, doutora em Comunicação Digital, com pesquisa sobre jornalismo de serviços, e  com passagens pela Editora Abril, Portal Terra e Editora Globo, e que agora atua como assessora de imprensa, estará no Painel “Identidade e engajamento – A força do jornalismo de serviços“. Para ela, “a prestação de serviços está na essência do jornalismo, como uma de suas razões de existir. Podemos pensar em duas grandes searas de atuação do jornalismo: a denúncia e o serviço. A denúncia tem a ver com o papel de vigilância que os veículos exercem sobre o poder público e grandes instituições sociais. É o que a pesquisadora espanhola María Pilar Diezhandino chama de “jornalismo formativo”. Por outro lado, o jornalismo de serviço é o conteúdo útil, que não só ajuda o dia a dia das pessoas como pode transformar suas vidas de forma direta e imediata. Infelizmente, isso foi sendo visto como algo “menor” dentro das redações ao longo dos anos, onde jornalistas se preocupavam mais em dar furos, derrubar ministros do que em ajudar o dia de um cidadão. Espero que o Fórum desperte nos colegas a vontade de se dedicar mais a essa vertente do jornalismo de serviço”.

Marcelle Chagas

Painel “Jornalismo para quem? – Conscientização e práticas para respeitar e incluir a todos”. A diversidade é tema sempre presente nos Fóruns de jornalismo, devido a sua pertinência, e teremos mais uma vez a presença de Marcelle Chagas, entre as speakers. Segundo ela, “a diversidade na cobertura e nas redações é essencial para garantir que as notícias e as histórias contadas representem verdadeiramente a pluralidade da sociedade. Quando temos uma equipe diversificada, conseguimos trazer diferentes perspectivas, vivências e contextos, enriquecendo o jornalismo e tornando-o mais inclusivo e justo. O trabalho da Rede JP tem se mostrado importante nesse quesito, mas ainda temos muito o que avançar”.

Também na linha da diversidade, Bianca Pedrina, do Nós da Periferia, afirma que “uma redação mais diversa é fundamental para garantir que assuntos que permeiam o debate público sejam debatidos com olhares mais plurais sobre a nossa sociedade”. E na outra ponta, “a garantia de fontes que também comtemplem pessoas diversas, mulheres, negros, LGBTQIA+ que são camadas sociais ainda invisibilizadas em sua potência”.
Sobre o evento, afirmou também que “o Fórum, pautar este tipo de temática, é urgente e necessário para minorar as disparidades ainda existentes no ecossistema de comunicação quando falamos destas parcelas sociais, que, ao meu ver, são as mais impactadas quando falamos de retirada de direitos.”

Destaque nas novas gerações

Denys Grellmann

Denys Grellmann é um nome promissores da nova geração de publishers brasileiros, fazendo um trabalho inovador fora do eixo Rio-São Paulo. É sócio do 100fronteiras, de Foz do Iguaçu (PR),  possui um Master em Jornalismo pelo ISE Business School/Universidad de Navarra e um MBA Executivo em Liderança e Desenvolvimento Territorial pela UniAmérica. Em 2024, foi reconhecido no 25 under 35 como um dos 25 jovens mais influentes no mundo no jornalismo pela publicação norte-americana E&P Publisher, o mais tradicional veículo de gestores de jornalismo do mundo. Foi o único editor brasileiros selecionado nesse ranking internacional. A lista de 2024 destaca profissionais de diversos países, refletindo a diversidade e a resiliência do jornalismo no século XXI. E agora foi selecionado para participar de um programa da Universidade de Nova York chamado “Novos Líderes Emergentes” no jornalismo. Ele estará presente no Painel “A alvorada da produção descentralizada – Como veículos independentes tem trazido fôlego e renovação para a imprensa nacional”.

Ao ser questionado sobre conselhos para jovens profissionais do setor de notícias, Grellmann destacou a importância da inovação e educação no jornalismo. ‘Inovação e educação são fundamentais no jornalismo. Encorajo jovens profissionais a abraçarem a tecnologia e buscarem conhecimento continuamente. Compreender a dinâmica cultural e social das comunidades que servimos é vital. A integração e a colaboração entre diferentes regiões e culturas podem enriquecer significativamente o nosso trabalho.’

Sobre a desinformação, Grellmann ressaltou que transparência, responsabilização e envolvimento da comunidade são essenciais. ‘Transparência, responsabilização e envolvimento da comunidade são essenciais. As publicações devem dar prioridade à verificação dos fatos e à clareza na comunicação de suas fontes e métodos. Além disso, o envolvimento direto com as comunidades e a promoção do diálogo aberto com o público podem ajudar a construir confiança e compreensão mútua.’

A respeito do Fórum de Jornalismo, Grellmann, diz que “é um instrumento muito importante da sociedade para poder discutir um assunto tão vital para a democracia. Além de ser um Fórum muito democrático, que consegue ser capilar, convida jornalistas de todos os cantos do Brasil e com olhar muito afinado com as tendências atuais. É um fórum fundamental para a indústria jornalística brasileira”

Investigação x desinformação

 

Katia Brembatti

Kátia Brembatti, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que participará do Painel “Reescrevendo a história – A transformação da imprensa pela mídia nativa digital e independente“, também adianta sua abordagem: “Quando a gente pensa em veículos nativos digitais a gente precisa avaliar que, se por um lado eles não podem contar com o histórico consolidado da imprensa, eles tem ao seu favor o frescor, a novidade, sem estar engessados, pontos positivos desse tipo de publicação. O ponto positivo é olhar para a frente mas os nativos digitais podem aumentar a audiência e relevância olhando para que deu certo na imprensa nacional. Que é, por exemplo, o bom jornalismo, trabalhar com fontes, checar as informações, não se deixar levar pela agilidade dos tempos contemporâneos, nem pensar apenas na audiência. A boa audiência virá quando o conteúdo for importante, for percebido como algo que só se encontra naquele lugar e quando tiver conexão com o público. Os nativo digitais, como custam menos, ficam menos presos a essas amarras do passado, podem ser dar luxo de participar de editais e outras rodadas de negócios que não estão disponíveis a veículos tradicionais”.

Francisco Belda

Francisco Belda, diretor de operações do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), participante do Painel “Candidatos à desinformação – O desafio das eleições municipais frente aos desertos de notícias”, opina que “apesar das normas estabelecidas recentemente pelo TSE, as próximas eleições municipais tendem a gerar verdadeiras batalhas de desinformação, sobretudo nas mídias sociais, não apenas com a disseminação das chamadas fake news, mas também com outras formas, incluindo discurso de ódio, uso de dados descontextualizados, textos apócrifos, páginas impostoras, entre outras. Vale notar que esse tipo de conteúdo pode ser gerado não apenas por agentes informais a serviço das próprias campanhas políticas, de modo mal intencionado, mas também pelos próprios eleitores mais militantes e por outros que, inadvertidamente, acabam servindo como instrumentos de propagação de falsidades, a exemplo do que se vê em torno da tragédia climática no Rio Grande do Sul.

Sobre o que se pode fazer para superar esse problema, ele sugere que, “a estratégia jornalística de combate à desinformação deve ser multifacetada e começa com o aprimoramento dos próprios métodos e processos jornalísticos, com maior transparência sobre os princípios editoriais e as políticas de ética, de correções e de verificação adotadas pelos veículos noticiosos. Isso é necessário para que o jornalismo profissional de qualidade se distinga de iniciativas que simulam a linguagem e os formatos do jornalismo, mas não se comprometem com os rigores do método jornalístico. As atividades de checagem de fatos mantidas por agências especializadas e por projetos como o Comprova também têm o papel fundamental de checar, de modo sistemático, informações e declarações duvidosas, e com isso evidenciar e denunciar os casos de fraude informativa. Além disso, repórteres devem se prevenir contra armadilhas de falsa equivalência ao buscar ouvir os diferentes lados de uma polêmica e também evitar dar destaque a atores políticos que participam do processo com o nítido objetivo de tumultuar e confundir o eleitor. Neste sentido, não se trata apenas de informar, mas de manter uma postura crítica e vigilante em relação ao que será informado.

Sobre o Fórum de Jornalismo ele qualifica: “Ao fomentar essa discussão, o Fórum contribui para ampliar e amplificar a reflexão pública sobre este que é um dos maiores problemas globais da atualidade, a desinformação. Ainda mais ao envolver de forma direta jornalistas e outros profissionais da comunicação que têm um papel central na questão. Discutir esse tema e apontar caminhos para mitigar o problema é urgente e imprescindível no cenário atual”.


Assista aos dois dias de evento, clique nos links:

Dia 20/05:
Dia 21/05:


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