Esses dias, participei de um painel sobre inovação e estratégia na Comunicação Interna e, entre as diversas perguntas realizadas pelo público, uma delas me fez passar alguns dias refletindo. Mas, antes de contar qual foi o questionamento, convido vocês a fazermos algumas reflexões.
A Comunicação Interna foi, até pouco tempo atrás, o “patinho feio” da Comunicação Corporativa. Digo “até pouco tempo atrás” porque vejo uma mudança nisso (embora não seja ainda como nós, profissionais de Comunicação, gostaríamos).
Durante a pandemia, por exemplo, as empresas deram muito mais importância para a Comunicação Interna estratégica e feita com qualidade. Em tempos de tempestade e mar revolto, foi imprescindível manter as pessoas remando para o mesmo lado, com a mesma frequência, ou melhor, trabalhando pelo mesmo objetivo de forma organizada. Para isso, Comunicação Interna foi fundamental.
Além disso, é importante lembrar que, nos últimos anos, diante de um mercado em que produtos e serviços estão muito parecidos (comoditizados), as pessoas (talentos) se tornaram o diferencial. E, quando se fala em talentos, fala-se também em Comunicação Interna.
Pois bem, o fato é que as pessoas ganham cada dia mais relevância no mundo do trabalho (e que bom!). Por isso, é fundamental ter um time bem-informado, que conhece a estratégia, sabe o que tem que fazer para atingir as metas, entende e pratica a cultura, representa e repercute as boas novas da empresa, atuando, inclusive, como agente de reputação de marca.
Estratégia de comunicação
E, por falar nisso, não tem melhor propaganda para uma empresa do que aquela feita por seus colaboradores no dia a dia. Por isso, empresas estão atentas em manter uma boa estratégia de comunicação em toda a jornada do colaborador — da atração ao encerramento do contrato.
Diante desses exemplos, fica evidente que o “patinho feio” não tem mais fundamento. Há, inclusive, empresas equilibrando seus investimentos entre a Comunicação Interna e a propaganda. Há ainda, empresas extrapolando a Comunicação Interna, levando a opinião dos seus colaboradores para a mídia como forma de valorizar os seus produtos e serviços.
Porém, esse movimento ainda não é percebido por todos os agentes desse ecossistema e, infelizmente, ainda há gestores que não foram sensibilizados sobre a importância estratégica da comunicação com os colaboradores.
Camarão que dorme a onda leva
A pergunta que me foi feita tem muito a ver com isso: como mostrar o valor da Comunicação Interna para o meu CEO? Há um ditado popular que diz: camarão que dorme a onda leva. Se o CEO — e aqui podemos também considerar o C-Level, a diretoria ou líderes que impactam as decisões na empresa — ainda não percebeu a importância estratégica de manter uma comunicação eficaz com os seus colaboradores, mais cedo ou mais tarde, será impactado pela falta dela.
Sem comunicação, pessoas exercem atividades sem saber o que fazem, nem por que fazem. Sem comunicação, pessoas atuam sem conhecer os riscos da função que exercem e sem saber como se proteger. Sem comunicação, pessoas desconhecem a proposta de valor da empresa e a trocam por qualquer promessa de melhor emprego. Sem comunicação, pessoas desconhecem a necessidade de trabalhar com qualidade e eficiência para atender às necessidades de seus clientes.
Diferencial competitivo
A falta de Comunicação Interna, portanto, impacta o resultado, os índices de segurança do trabalho, a qualidade do que se faz, o bom atendimento, o turn over, entre tantos outros fatores. A Comunicação Interna é um diferencial competitivo. E, se o CEO ainda não se deu conta, cabe aos profissionais de Comunicação mostrar esse valor.
Posicione a Comunicação Interna como área transversal, que atua como consultora estratégica de todas as demais áreas da empresa. Tenha postura consultiva, conheça muito bem o seu público interno e o modo de operar da empresa em que você atua. Domine o negócio, o mercado, a visão. Tenha a cultura e o propósito bem claros no seu dia a dia e em cada movimento de Comunicação Interna que você realizar. Ao assumir um posicionamento estratégico, a Comunicação Interna conquistará e manterá o seu valor. A percepção de valor é uma conquista.
Kerlin Escobar Dutra é Diretora de Planejamento e Conteúdo da HappyHouse — agência de Comunicação Interna e Endomarketing—, jornalista, pós-graduada em Marketing Estratégico e Gestão de Projetos, atua no mercado de comunicação corporativa há mais de 20 anos.