Transformações tecnológicas geram incertezas e expectativas no mercado jornalístico

As Inteligências Artificiais (IAs) e as transformações na Web estão revolucionando diversas áreas, e o mercado jornalístico não fica de fora. A duvida é se eliminará empregos

Não é mais novidade que a inteligência artificial (IA) veio para ficar e automatizar processos, e no campo da comunicação não é diferente. Com a crescente evolução tecnológica, as empresas de mídia estão buscando maneiras mais eficientes e rápidas de se conectarem com o público, encurtar processos e até mesmo revolucionar a maneira como as informações são levadas ao público e as AIs se mostram uma ferramenta poderosa nesse sentido.

O tema sobre o uso das novas formas de Inteligência Artificial pela imprensa foi amplamente debatido durante dois painéis do 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, realizado nesta segunda e terça-feira (24 e 25 de julho). O evento, organizado pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação,Plataforma Negócios da Comunicação, contou com a participação de renomados profissionais do setor.

Angélica Consiglio, CEO da Planin; Felipe Payão, editor do Tech Mundo; e Rafael Silveira, head de novos negócios do O POVO (CE) e coordenador do Comitê de Estratégias Digitais da ANJ, estiveram presentes no painel intitulado “Esse robô é meu amigo? A transformação da imprensa na era da Inteligência Artificial”. Durante a discussão, foram abordados os benefícios e desafios do uso da IA na imprensa.

A utilização de IA na produção de conteúdo foi o ponto central do debate. Enquanto alguns defendem a automação de tarefas repetitivas e a agilidade na produção de notícias, outros levantaram preocupações em relação à qualidade e imparcialidade dos textos gerados por algoritmos.

A discussão também abordou a interação entre humanos e robôs na produção jornalística. Alguns participantes argumentaram que a IA pode ser uma aliada, auxiliando na busca por informações e na análise de dados, enquanto outros temem que essa substituição possa comprometer a credibilidade e a originalidade da notícia.

No painel “O começo de uma nova era? As promessas da web 3.0 – e como todos podem aproveitar”, Denys Grellmann, sócio e publisher na 100fronteiras, e Arenusa Goulart, gerente de Marketing do Sistema Verdes Mares, discutiram o impacto das plataformas digitais descentralizadas na representatividade do jornalismo. Eles exploraram como a utilização de Machine Learning, Inteligência Artificial e principalmente a Web 3.0 pode revolucionar a imprensa.

Inteligência Artificial não substitui a inteligência humana 

Diante das transformações, as AIs mostram-se totalmente eficientes. Uma das aplicações delas na comunicação está na análise de dados e personalização das mensagens. Com algoritmos avançados, é possível coletar informações sobre os usuários e criar campanhas publicitárias direcionadas especificamente para cada segmento do público-alvo. Além disso, a inteligência artificial auxilia na produção de informações, permitindo que as empresas se comuniquem de forma mais assertiva, aumentando as chances de conversão e fidelização dos clientes.

 

Rafael Silveira_O POVO

Rafael Silveira, de O POVO, afirma que a AI não é novidade em grandes corporações: “A grande sacada hoje é que os produtores podem fazer sozinhos, mudando a regra do jogo. A questão é que o compromisso com a audiência vai influenciar na produção de informação”.

Felipe Payão, do Tech Mundo ,acredita que a AI não substitui o texto autoral; ela consegue produzir matérias laudatórias, sem checagem de dados. “Vemos cada vez mais ela gerando matérias básicas, mas vai demorar muito tempo para conseguir alcançar o olhar do jornalismo na busca e investigação”, acrescenta.

A IA também é utilizada na criação de conteúdo jornalístico. Algoritmos podem analisar dados e gerar automaticamente relatórios, notícias e até mesmo reportagens completas — apesar do flagrante plágio que fere direitos autorais . Isso pode proporcionar maior agilidade na produção de algum conteúdo, textos menores, permitindo que as informações cheguem ao público com rapidez. No entanto, apesar dos benefícios proporcionados pela inteligência artificial na comunicação, especialistas acreditam que o fator humano ainda é fundamental. A criatividade e a capacidade humana de tomar decisões com base na experiência são características determinantes na produção de pautas e conteúdos jornalísticos.

Felipe Payão, TecMundo

Payão relata que a ferramenta já é utilizada no TecMundo para alinhar tópicos e perspectivas de pautas, mas não substitui o olhar do jornalista na produção da matéria e da pauta: “O profissional precisa usar a ferramenta como complemento, não como substituição”.

Angélica Consiglio, Planin

Angélica Consiglio, da Planin ,concorda com Payão e também acredita que a inteligência artificial dificilmente conseguirá tirar o olhar jornalístico das matérias e a maneira como a imprensa profissional apura os fatos.  Umas das principais vantagens do uso de IAs no jornalismo é a agilidade e eficiência que elas proporcionam. Com algoritmos avançados, essas ferramentas podem analisar grandes volumes de informações em tempo real, identificar tendências, gerar insights e produzir notícias de forma rápida e precisa. “O lado positivo está nas buscas rápidas, podendo ajudar na automatização de erros de digitação”.

Consiglio aponta que o outro lado das AIs estão nas questões do direito autoral, sigilo e no furo jornalístico. “Eu vejo que é uma jornada, e a curadoria ainda depende de um jornalista sênior. Acredito que a palavra-chave para isso é curadoria e cuidado”, acrescenta a CEO.

A Próxima Evolução da Internet

Também conhecida como a “Web Semântica”, a Web 3.0 se baseia em tecnologias avançadas que permitem às máquinas entender e interpretar informações de maneira mais precisa. Isso significa que os dados na Web 3.0 serão semânticos, ou seja, terão significado contextual em vez de apenas palavras-chave. No jornalismo, isso traz consigo uma série de possibilidades que podem mudar a maneira como as notícias são produzidas, distribuídas e consumidas.

Arenusa Goulart, Verdes Mares

Enquanto na Web 2.0 as informações são predominantemente armazenadas em servidores centralizados controlados por empresas, a Web 3.0 baseia-se em tecnologias de blockchain e criptografia, permitindo que os dados sejam armazenados e compartilhados de forma descentralizada e segura.

Uma das principais mudanças diz respeito à personalização das informações. “Uma das características da web 3 é que, além de poder comentar, podemos ter a posse dos conteúdos”, explica Arenusa Goulart, do Sistema Verdes Mares, em Fortaleza (CE).

Essa personalização também é impulsionada pela utilização de dados contextuais, sendo possível relacionar as informações de diferentes fontes e criar uma rede de dados interconectados, o que permitirá aos jornalistas terem acesso a uma gama ainda maior de dados para embasar suas matérias. Denys Grellmann, do 100fronteiras, acredita que essa nova forma de automatização traz oportunidades de otimizar trabalhos. “Na 100fronteiras, tentamos otimizar o nosso tempo. Não chegamos a aprender completamente, mas temos projetos de inserir”, conta.

Denys Grellmann, do 100fronteiras

Esse modelo permite a disponibilização de conteúdos em formatos mais interativos, como realidade virtual e aumentada. Com isso, os leitores poderão vivenciar de forma mais imersiva o que está sendo noticiado, tornando a experiência de consumo de notícias mais envolvente e impactante.

No Sistema Verdes Mares, Arenusa conta que desde o ano passado a empresa tem um projeto de ‘tokenizar’ assinaturas, permitindo a redução de compartilhamento de senha e uma melhor experiência para o leitor. “Isso é um ganho que a Web3 traz. O usuário está cada vez mais presente dentro do ecossistema da empresa”, informa. A especialista acredita que esse novo momento trará maior oportunidade de opinião e participação do leitor. “Cada vez mais os tokens, blockchain e outros meios estarão mais presentes e nem vamos perceber”, afirma.

Acompanhe essa é outros discussões do 5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário. Acesse o canal da Negócios da Comunicação no Youtube e veja esses e outro painéis completos, gratuitamente.


Para assistir ao primeiro dia (24/07/2023), clique aqui.

Para assistir ao segundo dia (25/07/2023), clique aqui.


O evento contou com uma ação beneficente de arrecadação de recursos em prol da Casa Hope, instituição de apoio biopsicossocial e educacional a crianças e adolescentes de baixa renda com câncer.


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