Paulo Jose Henrique Caruso, ou apenas Paulo Caruso, foi um dos principais cartunistas, caricaturistas e chargistas brasileiros e nos deixou há uma semana, vítima de um câncer, aos 73 anos. Estava em plena atividade e se caracterizou pela mistura do humor e a crítica social e política. Diversos veículos de imprensa relembraram sua carreira, e a TV Cultura, onde ilustrava ao vivo os entrevistados no Roda Viva, fará um rodizio de cartunistas a partir do programa desta segunda-feira (11). Para a emissora, essa iniciativa é uma mostra de que ele não era uma pessoa facilmente substituível, e estava no programa quase desde sua estreia, em 1987.
Vera Magalhães, apresentadora da TV Cultura, lembrou bem a lacuna criada pelo falecimento de Caruso: “O que o Caruso fazia no Roda é único e não é imitável”. O artista foi uma espécie de marca registrada do programa ao fazer caricaturas no momento em que o entrevistado falava com a bancada.
O irmão gêmeo de Paulo Caruso, Chico Caruso, também cartunista, foi o primeiro convidado do Roda Viva neste formato, mas ele declinou do convite alegando que “não sabe fazer o que o irmão fazia”, que é desenhar com tanta agilidade. Talvez a emoção pela perda recente o impediu de fazer o que ele sim, sabe fazer. Lerte Coutinho, ilustradora do lendário Pasquim e colaboradora de diversos veículos como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, participará do programa nesta segunda feira. Também participou do rodízio na semana passada Jean Galvão, chargista da Folha de S. Paulo e Canal Um Brasil.
A última presença (remota) de Paulo Caruso no Roda Viva foi no dia 2 de janeiro, na entrevista com o jornalista, escritor e cientista político Jorge Caldeira.
Os desenhos de Paulo Caruso são registros da história politica do Brasil, sempre com bom humor. E estiveram presentes em diversos jornais, revistas e TV. Paulo — que se formou em arquitetura na USP, mas não exerceu, mas morou no campus como um hippie —, e o irmão aprenderam a desenhar com o avô. Também era um ativista e defensor da profissão. Foi um dos fundadores do Salão do Humor em Piracicaba, uma referência internacional. Pai do cineasta Paulinho Caruso e tio do humorista Fernando Caruso. Uma família toda ligada às artes, à cultura e à informação.
Caruso começou a mostrar seus inteligentes traços no Diário Popular em 1960. Também colaborou com os jornais Folha de S. Paulo e Folha da Tarde, e os alternativo Movimento e Pasquim (esses últimos durante a ditadura militar, com muitas criticas ao regime), além das revistas Careta, Senhor, Época, Veja e IstoÉ. Foi autor de diversos livros, histórias em quadrinhos, e recebeu muitos prêmios como o de melhor chargistas pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1994, pela sua habilidade à sátira e a caricatura, além da numerosa produção. Também compunha canções e fazia a produção de shows e de teatro.
José Roberto Maluf, presidente da Fundação Padre Anchieta, que controla a TV Cultura, opinou que Caruso “tinha um lado muito claro; ele era do lado da democracia, e perdemos mais uma pessoa da democracia brasileira.
Em uma rara presença como entrevistado do Roda Viva, junto com o irmão, Paulo Caruso, com bom humor, revelou que sofria de TOC- transtorno obsessivo caricatural, o que o impedia de parar de desenhar. “Não paro, o tempo todo estou desenhando”.