Jornalismo católico perde Família Cristã

Revista com mais de 80 anos passou do impresso para o digital, e agora foi descontinuada pela Paulinas. Editora irá focar nas mídias sociais e livrarias itinerantes

Familia Cristã:  a última edição, de setembro de 2022

A tradicional Revista Família Cristã está encerrando as atividades no país depois de 88 anos devido aos altos custos e queda de assinantes. Editado pela Paulinas Brasil, congregação católica das irmãs Pia Filhas de São Paulo (congregação religiosa da Igreja Católica), a publicação nasceu na Itália na década de 1930 e foi uma das primeiras publicações da igreja a entrar para a comunicação de massa. No Brasil a publicação teve o seu número zero em dezembro de 1954, e o número 1 em janeiro de 1955.

Irmã Viviane Moura

Para a irmã Viviane Moura, jornalista, e uma das responsáveis editoriais da Revista Família Cristã, a publicação teve o papel de evangelizar através da comunicação e uma importância não só no meio católico. “Ao longo de toda a sua trajetória, a palavra mudança fez parte da revista Família Cristã, por exemplo: nos anos 90 chegou a informatização no mundo e a Família Cristã foi uma das primeiras revistas do País a substituir o processo manual de produção gráfica pelo uso de programas de computador. Foram muitas mudanças ao longo da sua existência”. Viviane explica que o número de assinantes não estava cobrindo o custo de produção.

“Com a crise do mercado editorial brasileiro de revistas, provocando assim uma queda vertiginosa de assinaturas, mais uma vez precisou mudar para manter o conteúdo de qualidade e continuar cumprindo a sua missão de dialogar com as famílias. Há aproximadamente dois anos, a revista passou por mais uma transformação, mudou de formato, tornando-se digital. Diante do número insuficiente de assinaturas digitais para garantir uma sustentabilidade financeira, em agosto de 2022, houve a descontinuidade da Revista Família Cristã“.

Mesmo com seu principal veículo parando de circular a editora Paulinas continuará, garante a Irmã Viviane, apenas seguirá em outros meios como o digital e fonográfico voltados ao público católico.

A jornalista Juliana Borga lembra que a revista cobriu grandes eventos católicos e foi referência no segmento religioso por muito tempo “Colaborei com a Revista Família Cristã nestes últimos 20 anos. Fiz a cobertura de alguns eventos importantes  como o Mutirão de Comunicação, Fórum Social Mundial, Fórum Internacional de Mídia para Crianças e Adolescentes, etc. E anda segundo Juliana, a revista “sempre foi referência no meio católico, com a curadoria dos temas, dos colunistas e dos entrevistados”.

Familia Crista, edição de agosto, 1958

Publicada impressa no país desde 1934 a revista passou a ser digital desde o ano passado. A jornalista ressalta que a revista é uma referência na imprensa católica do país, e não há substituta. “Acompanhei a transição do impresso para o digital e agora a decisão pela sua descontinuidade. Ela é um marco entre as publicações nacionais, pois foi impressa ininterruptamente por 85 anos. É referência também no jornalismo católico brasileiro”.

Revista também acabou em Portugal

Em Portugal, a revista existia há 68 anos e também foi descontinuada em setembro. A administração da Paulus Editora (que atua em parceria com a Paulinas nos dois países) explica o fim da revista pela quebra do número de assinantes e ao aumento dos custos na produção. O motivo, semelhante ao que aconteceu no Brasil,  foi a quebra nas vendas das revistas e o alto valor de produção de uma revista de grande porte.

O beato padre Tiago Alberione fundou a revista original, em Itália, na década de 1930, com o objetivo de “não falar apenas de religião mas escrever tudo cristãmente”. Na época, foi pioneira por concretizar a abertura da Igreja ao mundo da comunicação. Apenas com o Concílio Vaticano II e o decreto Inter Mirifica, em 1966, a Igreja Católica assumia a importância e a necessidade do uso dos meios de comunicação modernos. Nos anos 1980, a revista italiana Famiglia Cristiana chegou a ser a revista mais vendida da Europa.

Marketing Digital e livraria itinerante mantém projeto 

“Paulinas têm utilizado as ferramentas do marketing digital para alcançar mais leitores, está presente em todas as redes sociais, produz conteúdo em todos os formatos, trabalha com e-commerce, e-books, audiobooks, podcasts, e videocasts!, lista a irmã Viviane Moura. Atualmente as canções da gravadora Paulinas COMEP estão em todas as plataformas de música. “Ou seja, aproveita todos os benefícios das novas tecnologias e das ferramentas disponíveis no mercado para colaborar na formação integral dos leitores e leitoras”, ressalta.

Para atrair leitores de suas publicações a editora Paulus, que tem o mesmo fundador, padre Tiago Alberione, tem apostado em livrarias itinerantes. Desde 2021 existe o projeto “Livraria em saída”, uma iniciativa que tem como objetivo levar as publicações da editora a locais distantes.
Através de duas kombis em circulação em várias cidades do País, a Paulus começou a desenvolver o projeto para ajudar a levar cultura e informação a outras regiões do país. O padre Guilherme César da Silva, gerente da rede de Livrarias PAULUS, afirma que o projeto também é para ajudar na evangelização dos lugares que recebem a livraria itinerante. “A PAULUS tem como objetivo não simplesmente comercializar livros e periódicos, mas fazer destes espaços centros de cultura e evangelização. Para nós, as Livrarias PAULUS representam o ponto de partida para as outras iniciativas”.
No Brasil, nos mais de 5 mil municípios existentes, menos de 10% têm livrarias físicas. As kombis da “Livraria em saída” circularão pelas cidades, parando em pontos específicos como as grandes praças e centros comerciais, e também nas Paróquias e regiões mais afastadas. Presente no Brasil há 91 anos, a PAULUS possui hoje 34 livrarias físicas
Relembrando as origens, o gerente diz que “uma das características muito fortes do fundador da Pia Sociedade de São Paulo, padre Tiago Alberione, era de que a fé estivesse mais próxima das pessoas. Para nós, as livrarias são canais que aproximam as pessoas da fé, da cultura e da boa imprensa”.

 

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