Marketing inclusivo: campanhas de comunicação devem focar resultados efetivos

O perigo dessa iniciativa, focada em diversidade e inclusão, é divulgar conceitos que não são praticados pela empresa, alertam especialistas

Empresas são responsáveis por tornar o mundo melhor para 90% dos consumidores, aponta pesquisa mundial da Salesforce, companhia de gestão de relacionamento. Outro estudo, da empresa de consultoria de gestão Accenture, revela que empresas comprometidas com a inclusão são 11 vezes mais inovadoras e têm colaboradores seis vezes mais criativos. Tais iniciativas são importantes porque ajudam as marcas a alcançarem novos públicos, como também relacionamentos mais fiéis e duradouros com os consumidores já existentes. Sem contar com a melhoria do clima e engajamento com os públicos internos.

Essa imagem positiva do setor corporativo se deve, principalmente, pelas ações eficazes de diversidade e inclusão, que tornaram o ambiente empresariam mais acessível, democrático e sem preconceitos. Isso inclui programas para mulheres, grupos com pautas raciais e étnicas, pessoas com deficiências físicas, indivíduos multiculturais e principalmente o grupo LGBTQI+.

“A abordagem leva em conta aspectos de inclusão e representatividade destes grupos, fugindo do capacitismo institucionalizado na sociedade e de uma abordagem que usualmente ficava limitada ao cumprimento de cotas exigidas por lei, que ainda é adotada na maioria das organizações”, explica o consultor responsável pela WSI no Rio de Janeiro, Marcelo Herskovits.

Amana Tassi Braga

O marketing inclusivo, por sua vez, é uma estratégia que cria campanhas, anúncios e conteúdos que se comunicam com todos os indivíduos, não importando a idade, o gênero, a etnia ou a situação socioeconômica. “O marketing inclusivo é vantajoso tanto para a organização quanto para o cliente. Para os empreendimentos, um público mais amplo resulta em campanhas que atingem mais clientes em potencial e cria uma visibilidade positiva para a marca. Os clientes sentem-se representados e valorizados”, opina Amanda Tassi Braga, analista de Customer Success e Relações Públicas,

“O marketing inclusivo é incrivelmente importante para se adotar. Se você não estiver usando, suas campanhas de marketing correm o risco de dar errado e levar críticas sociais”, alerta Amanda. O marketing inclusivo é, em sua opinião, uma estratégia que cria campanhas, anúncios e conteúdos que se comunicam com todos os indivíduos, não importando a idade, o gênero, a etnia ou a situação socioeconômica.

“Ao criar as suas personas, você deve  considerar todos os aspectos da sociedade em sua volta, deixando de lado arquétipos fictícios e artificiais.  Isso quer dizer que é necessário ter uma audiência diversificada, com perspectivas variadas”, detalha a especialista. .

Os profissionais de marketing inclusivo entendem que seu trabalho é considerar o impacto de suas falas, não apenas a intenção. O fato de você não ter intenção de ofender ninguém com seu anúncio, sua cópia, painel ou produto só para homens, héteros, brancos e de classe média não diminui o impacto que ele tem sobre as pessoas que ele deturpa, exclui ou é hostil.

Algumas tentativas fracassadas

Amanda lembra de duas campanhas que foram infelizes: O Facebook, em agosto de 2015, em uma tentativa de celebrar o sufrágio feminino nos Estados Unidos, publicou um gráfico comemorativo com mulheres de várias origens raciais e uma faixa que dizia: “Em 26 de agosto de 1920, as mulheres conseguiram o direito de votar nos EUA”. O problema é que nem todas as mulheres conseguiram o direito de votar em 1920. Apenas as mulheres brancas.

Outro case famoso de cuidados que devem ser tomado com o tema, foi o anúncio da Dove, de 2017. A marca de cuidados pessoais e beleza enfrentou críticas por uma campanha de sabonete que, ironicamente, procurou destacar a diversidade racial e a inclusão. Dove publicou um pequeno GIF que incluía três mulheres retirando a camisa para revelar a próxima pessoa. Quando vistas como uma imagem parada, os consumidores enxergam apenas uma mulher negra tirando a camisa marrom para revelar uma mulher branca, vestida toda de branco.  O público foi rápido em denunciar o anúncio, argumentando que a Dove estava sendo racista e que as pessoas deveriam boicotar a empresa. A empresa retirou o anúncio e se desculpou.

Casos positivos

Fernanda Belo

O Marketing Inclusivo se tornou uma tendência mais que necessária nos últimos anos, recomenda Fernanda Belo, redatora na agência Contato.  Algumas marcas tornaram-se referências quando e fala no marketing inclusivo, lembra a profissional: Nubank, Boticário, Coca-Cola, Amstel, Americanas, Burger King, entre outras. A lista é grade, felizmente.

Em apoio à diversidade e à inclusão, a marca de cartões digitais mais comentada nas redes sociais, a Nubank já lançou diversas campanhas, externas e internas, sobre temas raciais, de gênero e sexualidade. Em 2021, por exemplo, a empresa disponibilizou porta-cartões e cadernos com as cores de algumas bandeiras que compõem o movimento LGBTQI+.  A venda desses cartões foram destinadas à entidades beneficentes.

Nos últimos anos, todas as campanhas do Boticário foram voltadas para temas que abordam o feminismo e o poder da mulher moderna.  Além disso, a empresa também vem trabalhando propagandas voltadas a temas de inclusão social no que diz respeito a grupos PCDs e a pessoas LGBTQI+.  Com pessoas famosas e influentes que são assumidamente gays, travestis, bissexuais ou lésbicas, a campanha da marca de cerveja Amstel, em 2021, foi muito bem recebida pelo público.  No último Dia dos Namorados, a rede de fast-food Burger King lançou uma campanha que mostrava diversos tipos de casais de diferentes cores e suas respectivas famílias. A Coca-Cola e a Americanas também estão realizando campanhas enfocando públicos diversos.

Demanda vem dos consumidores 

Marcelo Herskovits, da WSI

“Não se trata de simplesmente aproveitar uma hype, mas de liderar uma transformação da sociedade a partir de uma demanda que vem do consumidor. Esta transformação será liderada pelas empresas e não por governos, através de novas leis, regulamentações ou penalidades”, afirma Herskovits. Ele comenta que o marketing inclusivo deve ser a nova regra para toda empresa que não quer ficar de fora de um mercado, em que cada pessoa quer se sentir representada nos meios de comunicação e a personalização da jornada de compra é cada vez mais exigida.

Herskovits afirma que as ações de inclusão nas empresas precisam ser autênticas para obter resultados reais e duradouros. Estudos corroboram a afirmação, e reforçam os outros citados acima nesta matéria.. Levantamento da consultoria Mckinsey aponta que as empresas engajadas com diversidade racial e étnica têm 35% mais possibilidades de obter retornos financeiros acima do esperado. O faturamento também é maior para companhias que têm mais de 30% de diversidade de gênero em cargos de liderança, conforme pesquisa da Ernst & Young.

Os números são significativos. No Brasil, mais de 45 milhões de pessoas convivem com algum tipo de deficiência, seja ela física, auditiva, visual ou cognitiva. O Estudo Box 1824 revela que cerca de 18 milhões de pessoas no Brasil se identificam como LGBTQIA + e metade prioriza marcas que apoiam a causa.

Segundo o IBGE, 45 milhões de brasileiros convivem com algum tipo de deficiência; a população negra no Brasil representa 54% da população ( 7,6% da população brasileira se identifica como preta, e 43,1% como parda, o que equivale a 16 milhões e 92 milhões de brasileiros, respectivamente); as mulheres, são 51,8%;  a comunidade LGBTQIA+, representa 10% e os indígenas 0,5%. Esses grupos são chamados minoritários porque são tradicionalmente excluídos na lógica estrutural da sociedade que é heteronormativa, masculina, cisgênera e branca.

 

 

Guia para comunicadores

O Grupo Talento Incluir — ecossistema da diversidade e inclusão com foco em pessoas com deficiência — acaba de lançar o “Guia de Comunicação Inclusiva sobre Pessoas com Deficiência”, direcionado principalmente para profissionais de comunicação, de forma gratuita e disponível no site do grupo Talento Incluir.

Trata-se de uma prestação de serviço que tem como objetivo principal avançar na comunicação inclusiva e trazer as terminologias mais indicadas, legislação, aspectos sobre fotos, vídeos cuidados na condução de entrevistas e na produção de conteúdo e reportagens que abordem o universo das pessoas com deficiência. Totalmente colaborativo, o material nasce com uma proposta de estar sempre aberto para receber novas contribuições por pessoas interessadas pelo tema.

Além disso, o Guia foi idealizado para servir como uma ferramenta importante para colaborar com a inclusão produtiva, abordando temas como capacitismo, cripface, representatividade, acessibilidade, diversidade, legislação, interseccionalidade, inclusão no mercado de trabalho e demais temas sobre essa parcela importante da população. O guia traz ainda uma lista de criadores de conteúdos, influenciadores digitais com deficiência, além de jornalistas e veículos que trazem informações e conhecimento.

“Acreditamos que a comunicação é um importante caminho para promover liberdade, igualdade, equidade e dignidade a todas as pessoas. Desejamos que esse conteúdo inspire a todos e aos profissionais de comunicação, para aumentar o seu conhecimento sobre nós, pessoas com deficiência e, muito em breve, esse nosso guia não seja mais necessário”, destaca a CEO do Grupo Talento Incluir, Carolina Ignarra.

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