A pandemia, entre outros pontos, desencadeou um aumento considerável de ansiedade e depressão entre os profissionais. Estudo realizado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em dezembro, nos Estados Unidos, revelou que 42% dos entrevistados afirmavam ter sintomas das enfermidades, um incremento de mais de 200% em relação à média de 2019. E o Brasil segue na mesma linha. Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que os brasileiros são os que mais tiveram casos de ansiedade (63%) e depressão (59%) durante a pandemia. As perdas motivadas pelo coronavírus, o trabalho remoto e a falta do contato presencial contribuíram para essa realidade.
O novo momento global colocou em xeque o RH e os gestores das organizações que se viram, de uma hora para outra, tendo que lidar com o tema. A saúde mental dos colaboradores e a oferta de um apoio constante a eles deixou de ser um tópico da lista para se tornar o grande assunto da sala. Ou seja, não bastava mais falar sobre isso, era preciso agir. Oferecer subsídios para que cada profissional desenvolva plenamente suas funções ao mesmo tempo em que mantém uma rotina pessoal equilibrada e saudável.
Atenção redobrada
Embora o tema tenha ficado mais em evidência durante a pandemia, a atenção a ele deve ser perene e não pontual. O que tenho visto no mercado é que, apesar dos avanços nos últimos anos, ainda existe uma certa resistência de alguns líderes – principalmente em corporações mais tradicionais – em implementar ações voltadas ao bem-estar dos funcionários, como horários flexíveis; a ampliação de programas voltados à saúde específica da mulher e à promoção da diversidade.
Recente pesquisa da Kenoby mostrou que 93% dos RHs acreditam que as empresas ainda ignoram a questão da saúde mental. O levantamento, feito com 488 profissionais de recursos humanos de empresas de médio e grande porte de todo o Brasil, ainda atestou que 71% dos entrevistados afirmam que suas empresas não têm uma área ou pessoa dedicada para tratar sobre o tema, o que seria fundamental.
Vivemos uma crise de saúde mental e é imprescindível falar sobre isso. A maioria das pessoas não teve acesso a conteúdos e técnicas que podem proporcionar melhor qualidade de vida. Cursos de liderança também não costumam abordar o tema. Há um gap imenso. Como eu acolho algum liderado que não está bem? Como eu ajudo as pessoas a manter uma vida mais equilibrada e saudável? São muitas dúvidas e as empresas precisam se posicionar.
Mudança positiva
Olhar para a saúde mental da equipe acaba sendo, também, benéfico para a organização, pois o colaborador se sente valorizado e, consequentemente, mais engajado para superar os desafios diários, tanto no campo pessoal quanto profissional. A cultura da valorização e do cuidado com o bem mais valioso da empresa, as pessoas, é parte necessária para um crescimento sustentável de todos os participantes do ecossistema: colaboradores, gestores e negócio como um todo.
É necessário que as organizações ofereçam acolhimento e diálogo aberto por meio de diferentes canais; prevenção, com conteúdos informativos, palestras, parceria com terapias complementares; e capacitação, sobretudo de líderes. Para que se diminua o estresse, vale elogiar constantemente os funcionários, dar voz para cada indivíduo, empoderar a equipe, fomentar grupos internos de apoio, criar áreas direcionadas à saúde mental, reconhecer os esforços de forma clara e genuína e procurar parceiros que saibam como auxiliar nessa jornada.
Diante de uma realidade tão singular, podemos não ter todas as soluções, mas o simples ato de ouvir, trocar ideias, disseminar boas práticas e demonstrar empatia são o ponto de partida para seguirmos mudando o jogo, nos reinventando na busca pelo nosso melhor a cada dia.