A mídia impressa teve um impacto significativo durante a pandemia do coronavírus mudando a forma como acessamos e consumimos notícias e informações. Mas mesmo com o aumento da familiaridade e do uso da mídia online, a impressão em papel continua sendo um recurso amplamente utilizado e altamente valorizado. Isso de acordo com uma nova pesquisa, “O lugar do papel em um mundo pós-pandêmico”, encomendada pela organização sem fins lucrativos Two Sides e conduzida no primeiro trimestre de 2021 pela empresa de pesquisa global Toluna.
Comunicação impressa ou digital?
As comunicações impressas e digitais são frequentemente comparadas entre si como sendo alternativas ou então para sugerir que uma é melhor do que a outra, no entanto a pesquisa mostra que ambas desempenham um papel importante na economia atual movida pela informação . Em vez de adotar uma estratégia de comunicação digital de tamanho único, as organizações de notícias e outras empresas experientes continuarão a oferecer aos consumidores uma escolha e, ao fazê-lo, ajudarão a garantir que aqueles que não desejam ou não podem acessar as informações digitais não fiquem em desvantagem.
Como resultado dos bloqueios relacionados à pandemia, as marcas de notícias tradicionais desenvolveram ou aprimoraram com sucesso suas plataformas digitais, levando muitos a recorrer à mídia online como fonte primária de notícias e informações. Mas não se pode presumir que todos que se mudaram para notícias online o fizeram por escolha própria ou que todos que se mudaram para a Internet permanecerão lá quando as restrições ao trabalho, viagens e lazer forem suspensas. Embora a pesquisa Two Sides tenha mostrado que 58% dos consumidores pretendem ler mais notícias online no futuro, esse percentual não mudou desde 2019. E embora o número de leitores de jornais impressos tenha sofrido muito durante a pandemia, 49% dos consumidores dizem que ficariam preocupados se as notícias impressas desaparecessem.
Comunicação impressa como necessidade
É importante observar que, para muitos dos entrevistados, a comunicação impressa não é uma escolha – é uma necessidade. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 82,7% dos domicílios nacionais possuem acesso à internet. Apesar disso, muitos dos que têm acesso ao serviço de internet não podem pagar para imprimir seus documentos ou tampouco possuem conta bancária para realizar seus pagamentos online. Os consumidores em áreas rurais sem infraestrutura de banda larga e muitos entre nossas populações mais vulneráveis – os mais idosos, pessoas com deficiência e indivíduos de baixa renda – dependem exclusivamente de jornais, revistas, livros, contas e extratos impressos.
Além disso, a comunicação digital não é bem-vinda universalmente. Quase três em cada 10 consumidores (29%) preferem ler jornais impressos, e esse número salta para mais de quatro em 10 para pessoas com mais de 55 anos. 44% dos consumidores afirmam que entendem melhor uma história ao ler notícias impressas versus online. Quando se trata de revistas, 38% dos consumidores preferem ler impressas, com percentuais que sobem para 49% para maiores de 55 anos e 63% para maiores de 65 anos. Quando todas as faixas etárias são incluídas, 44% preferem ler livros impressos.
Como era de se esperar, a pesquisa mostra que os adultos mais jovens, principalmente os de 18 a 24 anos, preferem ler todos os tipos de mídia online. Mas mesmo entre esses consumidores mais jovens, 28% preferem receber e ler informações pessoais impressas de médicos e hospitais, 27% preferem ler livros impressos e 23% preferem receber contas e extratos impressos de prestadores de serviços.
As preocupações com a comunicação digital
A comunicação digital está mudando a forma como nos comunicamos mas a crescente dependência dos brasileiros pela comunicação eletrônica traz suas próprias preocupações, que por sua vez, apresentam oportunidades para a mídia impressa manter e potencialmente recuperar uma fatia maior da mídia de consumo. A pesquisa revela que 41% dos consumidores brasileiros acreditam que gastam muito tempo com seus dispositivos eletrônicos, e 64% temem que o uso excessivo de dispositivos digitais possa estar prejudicando sua saúde. E, à medida que as manchetes sobre violações de segurança online e hackers se tornam uma ocorrência comum, 68% dizem que estão cada vez mais preocupados com o risco de suas informações pessoais mantidas eletronicamente serem hackeadas, roubadas, perdidas ou danificadas.
Os consumidores também estão cada vez mais preocupados com os impactos ambientais de suas escolhas de comunicação, mas há muitos equívocos no mercado sobre a sustentabilidade da comunicação digital e da impressão em papel. A pesquisa mostra que 67% dos consumidores acreditam que a comunicação eletrônica é melhor para o meio ambiente que imprimir em papel. Mas a miniaturização dos dispositivos eletrônicos de hoje e a natureza ‘invisível’ da infraestrutura digital e dos serviços baseados em nuvem fazem com que muitos subestimem a pegada ambiental da comunicação eletrônica, que inclui a mineração de matérias-primas como ferro, cobre e minerais raros para produzir dispositivos eletrônicos, as enormes quantidades de energia de combustível predominantemente fóssil usadas para fabricar e operar esses dispositivos e manter os centros de servidores que os suportam, e a enorme e crescente quantidade de lixo eletrônico gerado.
Papel é sustentável
Como todos os produtos manufaturados, o papel também tem uma pegada ambiental. Nos Estados Unidos, é um material cuja indústria cresce e faz crescer sua própria matéria-prima (fibra de madeira de árvores), obtém dois terços da energia para conduzir seus processos a partir de biocombustíveis renováveis e neutros em carbono, limpa e retorna mais do que 90% da água que usa para o meio ambiente e recicla mais de 95% dos produtos químicos que usa para transformar árvores em celulose. Além disso, com índice de recuperação de 66%, o papel é o material mais reciclado do país, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Essa é uma história de sustentabilidade poderosa que a indústria de eletrônicos não consegue igualar.