“O jornalismo precisa ter uma defesa mais ampla da sociedade”, alertam repórteres investigativos

Natalia Viana, Wilson Marini e Mauri Konig durante participação no painel "A guerra contra a imprensa: A luta pela liberdade do jornalismo frente às hostilidades e tentativas de deslegitimação"

Com a democracia ocidental em crise, ataques frequentes de presidentes à imprensa, como aqueles perpetrados por Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil, o trabalho jornalístico ficou mais difícil. E é preciso que a sociedade entenda não só as agressões, mas o papel da imprensa para o avanço da civilização. “O jornalismo precisa ter uma defesa mais ampla da sociedade”, alerta Natalia Viana, fundadora da Agência Pública, dedicada ao jornalismo investigativo.

Ao lado de Mauri Konig, também repórter investigativo, ela participou do painel A guerra contra a imprensa: A luta pela liberdade do jornalismo frente às hostilidades e tentativas de deslegitimação, do 3º Fórum de Jornalismo Regional e Comunitário, promovido pela plataforma Negócios da Comunicação em 1, 2 e 3 de dezembro de 2020. A conversa foi mediada por Wilson Marini, editor-executivo da Associação Paulista de Portais e Jornais (APJ).

Jornalismo investigativo

“Normalmente quando se pergunta o que é jornalismo investigativo, se remete a uma frase do Gabriel García Márquez, de que seria um pleonasmo falar em jornalismo investigativo, porque no fundo todo jornalismo é investigativo. Eu discordo”, pontua Mauri Konig. “Pensar assim é colocar o acidente da esquina, em que os dados estão ali, aparentes, colocado no mesmo patamar de uma investigação como o caso Watergate. Jornalismo investigativo é tentar buscar algo que algum grupo está tentando esconder.”

Se o jornalismo de um forma ou de outra sempre esteve sob ataque pelo seu papel de transparência, 2020 ganhou ares diferenciados. “Este ano tem algo muito importante, porque houve um avanço do governo em busca de difamar e destruir a reputação de jornalistas e do jornalismo”, acredita Natalia Viana. “Há uma parcela da sociedade e aliados do governo que querem desacreditar o jornalismo e isso tem sido bem-sucedido em alguns setores da sociedade.”

Natalia Viana, Wilson Marini e Mauri Konig durante participação no painel "A guerra contra a imprensa: A luta pela liberdade do jornalismo frente às hostilidades e tentativas de deslegitimação"
Natalia Viana, Wilson Marini e Mauri Konig durante participação no painel “A guerra contra a imprensa: A luta pela liberdade do jornalismo frente às hostilidades e tentativas de deslegitimação”

Forma de fazer e financiamento

A tecnologia abriu novos horizontes à produção de matérias com a utilização de ferramentas de dados, por exemplo, que permitem ao jornalista a criação de grandes reportagens sem sair da redação. Apesar de haver grandes trabalhos assim, Natalia e Mauri creem que ir a campo também é necessário, para que se ouça o que esses dados investigados provocam na vida das pessoas. “Eu sou um jornalista estradeiro”, admite Mauri. “Nesses 30 anos de atuação eu estou na rua. Se você conseguir juntar os dois você dá muito mais força ao material.”

Por outro lado, a digitalização colaborou de forma prática para a confecção de reportagens. “Isso colabora para o cruzamento massivo de bases de dados, que se fossem em papel precisaríamos de caminhões e caminhões para transportar as informações, o que tornaria o trabalho muito mais difícil”, anota Natalia.

Mas produzir conteúdo nesses moldes, vital para a democracia, torna-se caro. E as empresas jornalísticas de grande porte, tradicionalmente as pontas de lança do jornalismo investigativo, não podem ou não querem arcar com esses custos. “O jornalismo investigativo demanda um tempo diferente e também instrumentos diferentes de produção, além de exigir que o jornalista tenha um conhecimento mais profundo sobre o assunto e entreviste uma grande quantidade de fontes. Isso é caro.”

Múltiplas iniciativas

Felizmente, iniciativas como a da Agência Pública têm se multiplicado pelo país, como Amazônia Real (AM), Marco Zero (PE), Agência Plural (PR), Agência Saiba Mais (RN) e muitas outras. “Hoje existem vários outros modelos de financiamento”, explica Natalia. “Gosto de chamar a atenção para a doação de leitores – a Agência Pública tem 1.500 pessoas que nos apoiam, que são os nossos aliados. E nós também temos fundações brasileiras que ajudam esse tipo de jornalismo, além de bolsas e editais nacionais e internacionais.”

Esse esforço combinado poderá levar aos brasileiros mais chances de tomarem contato com bom jornalismo, entendam seu papel e possam defendê-lo dos detratores. “Em alguma medida, se estão perseguindo jornalistas é sinal de que o jornalismo não está falando só o que o governo ou outras instituições querem que seja dito”, diz Mauri. “E o jornalismo precisa navegar nestas águas turbulentas.”

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