por Carlos Augusto Junior,
Desde os primórdios da mecanização dos setores produtivos, a relação entre tecnologia e trabalho tem sido marcada por uma tensão constante: o medo da substituição versus a esperança de progresso. A cada nova revolução tecnológica, trabalhadores se veem diante de um dilema — adaptar-se ou ser deixado para trás. Com a chegada da inteligência artificial, esse debate ganha novos contornos e se torna ainda mais urgente.
A ascensão da inteligência artificial tem provocado inquietações legítimas sobre o futuro do trabalho. Dados do Fórum Econômico Mundial revelam que essa revolução tecnológica pode eliminar cerca de 87 milhões de empregos em todo o mundo. À primeira vista, esse número assusta — e com razão. Afinal, estamos falando de milhões de pessoas que poderão ver suas funções substituídas por algoritmos e máquinas inteligentes.
No entanto, o mesmo estudo aponta que a IA também deve criar aproximadamente 97 milhões de novas vagas, especialmente em áreas como desenvolvimento de sistemas inteligentes, análise de dados e design de produtos. Ou seja, o saldo pode ser positivo — mas apenas se estivermos preparados para essa transição.
Esse panorama é reforçado por uma pesquisa da Organização Mundial do Trabalho, que aponta que cerca de 25% dos profissionais atuam em áreas com algum nível de exposição à substituição por inteligência artificial regenerativa. No entanto, o estudo também revela que apenas 3,3% dos empregos globais estão classificados no grau mais alto de vulnerabilidade. Isso indica que, embora a transformação seja real, ela não representa uma ameaça generalizada. Pelo contrário, trata-se de uma oportunidade estratégica para redirecionar talentos, investir em capacitação e estimular o crescimento em setores que estão se expandindo justamente por causa da IA.
Em resumo, a verdade é que qualquer previsão é prematura. Não é possível saber agora se vai piorar antes de melhorar, se o saldo será positivo para todos os setores ou as questões sociais se tensionarão ainda mais. O fato é que começam movimentos de demissões em massa em Big Techs, ainda que soem como pontuais, e em países onde o trabalho impactado da IA está mais avançado.
Gestão de Pessoas mais eficiente e otimizada pela tecnologia
A incorporação da inteligência artificial no setor de Recursos Humanos representa uma verdadeira virada de chave na forma como as empresas gerenciam pessoas. Ao automatizar tarefas operacionais — como a triagem de currículos e a atendimentos por chatbots — a IA libera os profissionais de RH para se dedicarem a atividades que não podem ser competentemente substituídas pela IA, como desenvolvimento organizacional, cultura corporativa e planejamento de talentos.
No recrutamento e seleção, a IA se mostra uma aliada poderosa. Com algoritmos capazes de analisar perfis com precisão, ela identifica competências e experiências que se alinham melhor às necessidades da empresa, tornando o processo mais ágil, eficiente e assertivo. Isso não apenas reduz o tempo de contratação, como também aumenta a qualidade das escolhas. Na Schindler, já iniciamos a utilizar esses agentes em nossa rotina.
Na gestão de talentos, sistemas inteligentes ajudam a mapear riscos de rotatividade, identificar oportunidades de crescimento interno e personalizar estratégias de retenção. O resultado é uma abordagem mais proativa e eficaz na valorização das pessoas.
Já na experiência do colaborador, os chatbots têm ganhado espaço como canais acessíveis e rápidos para esclarecer dúvidas, orientar sobre políticas internas e oferecer suporte no dia a dia. Essa automação melhora a comunicação interna e contribui para um ambiente mais transparente e acolhedor.
Em suma, a inteligência artificial não substitui o fator humano — ela o potencializa. Ao assumir tarefas repetitivas e fornecer dados relevantes, a IA permite que o RH se concentre no que realmente importa: construir uma força de trabalho engajada, preparada e alinhada aos objetivos da organização.
Adaptar para avançar
A questão central não é se a inteligência artificial vai mudar o mercado de trabalho, mas como vamos nos adaptar a essa mudança. A criação de novos empregos não garante automaticamente que os trabalhadores afetados terão acesso a essas oportunidades.
É crucial que as empresas, governos e especialistas se debrucem sobre os possíveis desdobramentos futuros: a questão não é se a IA reduzirá postos de trabalho mas quando. Assim, refletir sobre como utilizar a IA como parceiro – e não como ferramenta – em atividades em que o ser humano detém a expertise para decisão e torná-las ainda mais poderosas.
Portanto, é preciso investir – literalmente agora – em letramento tecnológico, capacitação e políticas públicas que promovam uma transição justa.
Até lá, cabe à área de Recursos Humanos se aprofundar no tema, escolher suas linhas de atuação e acompanhar os movimentos relacionados ao desenvolvimento dessa tecnologia, sem se deixar levar pela ansiedade que este tema tem trazido para as empresas e a sociedade.
A inteligência artificial não precisa ser encarada como uma ameaça inevitável. Ela pode ser uma aliada poderosa na construção de um mercado mais eficiente, inovador e inclusivo. Mas isso exige ação — e como mencionado acima – exige agora.
Carlos Junior é diretor de Pessoas e Comunicação da Atlas Schindler. Engenheiro Metalúrgico de formação, iniciou sua carreira na área da Qualidade da Organização da empresa, passando por várias áreas do negócio no Brasil e no exterior.
por Carlos Augusto Junior,
Diretor de Pessoas e Comunicação na Atlas Schindler