Papa e o Dia Mundial das Comunicações Sociais: o apelo por comunicadores da esperança

Em artigo especial, Guilherme Almeida reflete sobre o papel dos comunicadores em tempos de desinformação

Estava em Roma com a minha mãe – católica – em novembro de 2024 e consegui dois ingressos para a Audiência Papal, um evento às quartas no Vaticano em que o Papa vai a público para uma benção geral e encontra com peregrinos do mundo todo. Era especial para nós: estávamos com uma questão de saúde na família e que já foi superada.

Conseguimos ficar na terceira fileira e, de repente, vem o Papa Francisco todo sorridente e acenando para todo mundo em seu Papamóvel. Fiquei estático enquanto pude observá-lo dando balinha para cada criança naquele longo zigue-zague na Praça de São Pedro, que parecia um verdadeiro cenário de Hot Wheels. Depois, uma mensagem especial dele para os povos de língua portuguesa. Durante um tour que paguei, a guia me perguntou se eu era devoto de São Francisco de Sales, padroeiro dos comunicadores. Guardei a informação para pesquisar mais sobre o que ele me contou.

30 de maio – Dia Mundial das Comunicações Sociais

Data instituída pelo Concílio Vaticano II em 1963 e é a única celebração mundial estabelecida pelo Concílio. Na época, os padres conciliares perceberam que a igreja precisava dialogar mais em um momento de impactos da mídia moderna na sociedade, influenciando culturas, valores e a fé. Claro que evangelizar era um dos objetivos, mas formar consciências e promover a verdade faziam parte das expectativas para esta data em sua criação. A comunicação passou a ser chave para a igreja, já que é uma realidade universal e presente em todos os contextos sociais.

E São Francisco de Sales com isso? Apesar da data ser em maio, o costume é que o Papa sempre publique uma mensagem com sua expectativa para a celebração anual no dia do padroeiro dos comunicadores (24 de janeiro). Bispo e teólogo, o padroeiro atuou durante a Reforma Protestante, buscando reconquistar fiéis com diálogo e ternura, em vez de confronto. Ele usava cartas, panfletos e textos simples para explicar a fé católica. “Uma colher de mel atrai mais moscas do que um barril de vinagre” foi um de seus axiomas no século XVII.

Então, em maio, a igreja promove missas, celebrações especiais, atividades pastorais e autoridades religiosas costumam se aproximar da mídia por meio de entrevistas e de artigos. E o que Papa Francisco pediu para a data em 2025? Mais mel para o diálogo e para a verdade

Comunicadores da esperança

A mensagem central para este ano, publicada pelo site do Vaticano em janeiro, foi um apelo de Francisco para jornalistas e comunicadores serem “comunicadores da esperança” por meio da promoção de uma comunicação desarmada, empática e inspiradora para curar feridas da humanidade, construir pontes em pessoas e oferecer razões para ter esperança, mesmo em tempos difíceis.

Este apelo é para o futuro, mas de alguém buscou transformar a igreja a partir de 2013 e que liderou católicos em meio à pandemia da Covid-19, intensificação da crise climática, avanço da polarização política, crises migratórias, guerras e a era da infodemia.

Guilherme ao lado da mãe durante Audiência Papal

Após o falecimento do Papa em 21 de abril, o diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Paulo Nassar, bem lembrou: a palavra Pontífice vem do latim pontifex, o “construtor de pontes”. E talvez nenhuma outra palavra sintetize tão bem a missão de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco: um líder que soube, com coragem e ternura, lançar pontes entre mundos partidos — entre fé e razão, entre tradição e transformação, entre os esquecidos e os centros de poder, entre o silêncio da dor e a esperança da palavra”.

Mais mel para o diálogo

E é exatamente sobre construir pontes que o Dia Mundial das Comunicações Sociais está programado para reforçar. Em tempos de desinformação ou de comunicação (realmente) artificial, há quem discorde… Nós, comunicadores, temos um papel importante e não nos esqueçamos disso: do mel e do vinagre. Da porta para fora e da porta para dentro em nossas empresas.

Sempre achei curioso quem trata instituições religiosas e religião em si como tabus. Da mesma forma que gosto de dialogar sobre catolicismo, já visitei mesquita muçulmana em Singapura, fiz tour em templo budista em Myanmar, visitei templo hindu na Malásia, converso sobre perspectivas evangélicas e por aí vai. Não falar sobre é como se eu morasse na cidade de São Paulo (como eu moro) e não pudesse abordar a relação complexa de colonizadores e jesuítas com povos originários na fundação de nossa própria cidade. São Paulo não foi fundada pelo time de futebol, né? Dê um pulinho no Pateo do Collegio um dia desses.

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