De tempos em tempos, a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2009) vira destaque na mídia por sua postura em relação ao trabalho. “Preguiçosa ou disruptiva?”, questionou recentemente a Forbes. Mas reduzir uma geração inteira a um rótulo é ignorar sua relevância crescente no mercado – e o impacto que traz à comunicação corporativa. Acostumados à “velocidade 2x” do YouTube e ao dinamismo dos TikToks, esses jovens consomem informações com rapidez e objetividade. Isso não significa que a comunicação interna precise embarcar nas trends das redes sociais, mas dinamizar o conteúdo se tornou essencial para dialogar com a Geração Z e alinhá-la aos valores da empresa sem soar “cringe”.
Na medida certa, esse ajuste não apenas facilita a conexão intergeracional, mas também estimula uma comunicação mais inclusiva e engajadora, adaptada às necessidades de cada público. E é justamente aí que reside o desafio: encontrar o equilíbrio entre tantas peculiaridades geracionais. Por um lado, a comunicação interna precisa alcançar tanto a Geração Z quanto os demais colaboradores, sem privilegiar uma faixa etária em detrimento de outra, garantindo relevância e impacto para todos. Por outro, ignorar as tendências que os mais jovens abraçam seria perder uma oportunidade valiosa de inovação.
O ritmo acelerado da Geração Z e o impacto na comunicação interna
Seria fácil “tiktokizar” tudo, mas a resposta não está em simplificar o conteúdo ao extremo. Se existe uma solução, a melhor estratégia é garantir que a comunicação interna seja dinâmica o suficiente para capturar a atenção e profunda o bastante para conectar equipes multigeracionais. “O desafio vai além da questão geracional: precisamos garantir que as mensagens cheguem a todos os colaboradores”, afirma Isabela Ferreira, gerente de comunicação corporativa da Leroy Merlin. Essa afirmação reflete bem a complexidade que a comunicação interna enfrenta ao lidar com um público interno cada vez mais diverso, enquanto busca acompanhar as mudanças nos hábitos de consumo de conteúdo.
Se olharmos além da Geração Z e incluirmos os millennials, fica ainda mais claro que o consumo de conteúdos curtos – e na velocidade 2x, muitas vezes – já é um hábito bastante comum. Com isso, a agilidade das “redes sociais” acaba se refletindo também na comunicação com colaboradores, e de forma natural. Para acompanhar esse ritmo, a Leroy Merlin aposta em ferramentas acessíveis e formatos modernos, como vídeos, podcasts internos e lives. “São iniciativas que tornam a comunicação mais inclusiva, ágil e conectada com a realidade de nossos times”, explica Isabela, destacando que conteúdos acessíveis e relevantes são capazes de conectar diferentes gerações.
Mas o dinamismo precisa vir acompanhado de autenticidade para surtir efeito. Mário Eugênio de Lima, coordenador dos cursos de Pós-Graduação nas áreas de Marketing, Gestão Estratégica de Pessoas, Inteligência Competitiva e ESG da Universidade Tiradentes (Unit), destaca que formatos interativos, como memes, enquetes e gifs, não apenas capturam a atenção do público, mas também promovem um maior engajamento – principalmente entre os mais jovens. “É essencial adotar conteúdos curtos, autênticos e objetivos, com formatos multimídia que reflitam o estilo das plataformas que eles consomem, como TikTok e Instagram”, afirma. Aqui, não se trata de transformar a comunicação interna em um feed de memes, mas vale incorporar alguns elementos de forma estratégia para engajar a Geração Z nessa conversa.
Comunicação inclusiva
Na comunicação interna, o maior desafio é construir pontes, seja dialogando com a Geração Z ou com boomers (nascidos entre 1945 e 1964). E o diálogo precisa ser significativo para todos, independentemente da faixa etária. A gerente de comunicação corporativa da Leroy Merlin, Isabela Ferreira, aponta que a inclusão começa na forma de pensar a comunicação. “O desafio é criar conteúdos que dialoguem com equipes multigeracionais, utilizando tecnologia para facilitar a conexão e a troca de informações”, complementa. Isso significa equilibrar tradição e inovação, considerando que colaboradores mais experientes também têm expectativas claras sobre como se engajar.
Quando bem trabalhada pela comunicação interna, a diversidade geracional pode se tornar uma vantagem para a organização. Segundo Mário Eugênio Lima, da Unit, boas histórias humanizam os dados e ajudam a criar uma comunicação que conecta diferentes públicos. Além disso, mentorias colaborativas e eventos online interativos também ajudam a reforçar o senso de pertencimento, promovendo um ambiente mais coeso e inclusivo.
Equilíbrio entre dinamismo e profundidade
Ser dinâmico é importante, mas como transmitir mensagens estratégicas sem sacrificar o engajamento? Um conteúdo complexo, por exemplo, não pode se tornar “direto” a ponto de diluir a mensagem, nem tão formal que perca seu impacto e deixe de capturar a atenção do público interno. O desafio é justamente esse: equilibrar dinamismo e profundidade, assim como forma e conteúdo.
Segundo Isabela Ferreira, da Leroy Merlin, o segredo consiste em adaptar o formato ao público e, também, ao conteúdo. “A chave está em combinar conteúdos sintéticos, que despertam a curiosidade, com links para materiais mais aprofundados. Assim, oferecemos clareza e contexto, sem sobrecarregar o colaborador”, explica. Além disso, uma linguagem clara, atraente e acessível também faz toda a diferença.
Formatos híbridos, tecnologia e storytelling
Imagine transformar um manual extenso em vídeos curtos, infográficos ou pequenas pílulas informativas distribuídas ao longo do tempo. A informação chega aos colaboradores de forma leve e prática, mas sem perder a profundidade necessária. É exatamente isso que o microlearning oferece. Como explica Mário Eugênio Lima, professor da Universidade Tiradentes, a técnica permite “dividir conteúdos complexos em partes menores e mais fáceis de assimilar”.
Também vale unir criatividade e clareza nas mensagens endereçadas pela comunicação interna à Geração Z. Formatos dinâmicos, como carrosséis visuais e vídeos de até 30 segundos, e um storytelling visual atrativo são capazes de simplificar temas densos e torná-los mais interessantes. Segundo ele, essa abordagem híbrida ajuda a equilibrar mensagens rápidas com informações detalhadas, criando um fluxo de comunicação acessível para todos. Mário Eugênio destaca ainda o uso de plataformas interativas e tecnologia inteligente para facilitar a entrega de informações e promover o engajamento. “É de suma importância alinhar esses conteúdos aos objetivos corporativos e promover sessões de perguntas e respostas”, acrescenta.
Gerenciando o excesso de informações: foco, curadoria e equilíbrio
Equilibrar dinamismo, profundidade e frequência na comunicação interna é quase como uma música de Raul Seixas (Gita – para quem conhece). A mensagem precisa ser tudo ao mesmo tempo: rápida para capturar, profunda para conectar e na medida certa para não sobrecarregar o colaborador. Considerando que a Geração Z tem um padrão de atenção moldado por plataformas de consumo rápido, a comunicação interna precisa ir além de simplesmente transmitir toda e qualquer informação se quiser conquistar sua atenção. Afinal, se tudo é urgente, pouco realmente importa.
Para Isabela Ferreira, da Leroy Merlin, a solução está na priorização do conteúdo e governança. “Aqui, ajudamos nossas lideranças a priorizar e estruturar os pontos-chave que precisam ser comunicados. A comunicação interna atua como um parceiro estratégico, garantindo que o time tenha acesso a informações relevantes no momento certo, com profundidade para quem desejar explorar mais.” E isso, segundo ela, não só evita a infoxicação, como torna a comunicação mais direcionada e funcional.
Não à toa, uma curadoria cuidadosa se faz fundamental nessa jornada. É o que aponta o professor Mário Eugênio Lima. “Comunicações curtas e frequentes, aliadas a formatos visuais e sonoros, como vídeos e infográficos, ajudam a captar a atenção”, explica. Além disso, ele destaca a importância de personalizar as mensagens e criar momentos planejados de desconexão. “Essas práticas são essenciais para manter o foco e o equilíbrio”, complementa. No fim das contas, quando bem gerenciada, a comunicação interna vai além de informar: ela organiza, conecta e, mais importante, engaja de verdade.
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