Por João Marcos Rainho
Havia poucas esperanças que o jornalista Olivier Dubois, 48 anos, estava vivo após quase dois anos em poder de grupos extremistas islâmicos na África. Mas, finalmente ele foi libertado junto com Jeffery Woodke, um colaborador humanitário que também foi sequestrado por jihadistas na região. Ontem (21) ele desembarcou na França, onde foi recebido por familiares e pelo presidente Emmanuel Macron. Estava visivelmente emocionado e sorridente, disseram fontes que acompanharam a chegada. “Me sinto cansado, mas estou bem”, declarou o jornalista, ao descer do avião na base aérea militar de Vélizy-Villacoublay, ao sudoeste de Paris. “É incrível, para mim, estar aqui, livre”, revelou. O voo direto de Niamei, capital do Niger, durou cinco horas. Foi naquele aeroporto da África Ocidental que ele reapareceu, vestindo uma camisa de manga comprida, calça preta e com uma mochila, junto com Woodke — este desaparecido desde o dia 14 de outubro. As circunstâncias da libertação de ambos ainda não são conhecidas.
Dubois atua como freelance, colaborando com diversas publicações, entre elas Liberátion e Le Point, e morava na África desde 2015. Profissional experiente, ele saiu de um hotel onde residia para trabalhar numa pauta em Gao, norte de Mali, em 8 de abril de 2021, quando foi capturado por membros de uma aliança jihadista chamada Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (JNIM), ligada a Al Quaeda. Lideranças religiosas do Islã condenam frequentemente esse tipo de ação terroristas, que dizem não ser respaldada nos livros sagrados muçulmanos.
O jornalista foi o último cidadão francês sequestrado por grupos jihadistas após a libertação, em 2020, da trabalhadora humanitária Sophie Pétronin, na época com 75 anos, também em Mali. Ela ficou quatro anos em cativeiro.
Em maio de 2021, Dubois apareceu num vídeo de 21 segundos implorando por sua libertação: ““Eu sou Olivier Dubois. Eu sou francês. Sou jornalista. Fui sequestrado em Gao em 8 de abril pelo JNIM. Estou falando com minha família, meus amigos e as autoridades francesas para que façam tudo ao seu alcance para me libertar”. Uma semana antes do rapto do francês, jornalistas espanhóis foram assassinados em Burkina Faso (pequeno país vizinho à Mali). Também na região onde estava Dubois, considerada muito perigosa na época, dois jornalistas franceses foram assassinados em 2013: Ghislayne Dupont e Claude Verlon. Mali ocupa a 99ª posição, entre 180 países, na classificação mundial de liberdade de imprensa feita pela organização RSF em 2021.
Diversos franceses, jornalistas, funcionários de Ongs, turistas, e até crianças, foram sequestrados por jihadistas na África. A França foi um dos países que participou de operações para expulsar os combatentes islâmicos de seus redutos no norte do Mali em 2013. A partir daí os insurgentes atacaram cidadãos franceses.